Há cerca de dez anos, o xeque Munir deu uma entrevista ao jornal Público, explicando como funcionava o "tribunal" islâmico, cujas sessões decorrem na Mesquita de Lisboa - e que, obviamente, segue as determinações da Sharia. Para exemplificar, citou um caso concreto, julgado por esse tribunal: uma mulher que protestou, num caso de distribuição de herança, devido ao facto de o irmão ficar com 2/3 e ela apenas com 1/3.
Com a maior candura e perante jornalistas "pé-de-microfone" (aqueles que se limitam a ouvir e não fazem perguntas) o xeque Munir explicou que a Sharia assim o determinava, porque o homem tinha a responsabilidade de tomar conta da família e mulher não tinha essa responsabilidade
De uma penada, o homem que é o líder religioso da comunidade islâmica de Portugal, espezinha princípios básicos da Constituição da República Portuguesa e do Código Civil. E ainda por cima, faz isto num "tribunal" que não tem qualquer legalidade nem poder para emitir sentenças - muito menos baseadas numa lei que não é a lei portuguesa.
Pedro Nuno Santos tem toda a razão ao afirmar que os imigrantes têm de "perceber que há uma partilha de um modo de vida, uma cultura que deve ser respeitada”. Para quem procura Portugal para viver “tem de perceber que há (...) uma cultura que deve ser respeitada”, acrescentando como exemplo "(…) a igualdade entre mulheres e homens (…) que é um imperativo da Constituição desta República (…)".
Temos então a voz que mais se faz ouvir - um lobo com pele de cordeiro - em afirmações frequentes, alegando que a comunidade islâmica de Portugal está bem integrada, a publicitar a forma como um "tribunal" islâmico, cujo funcionamento é ilegal, à luz da Constituição Portuguesa, ignora completamente os "valores portugueses" de que fala - e muito bem - o líder do Partido Sociaista.
Os muçulmanos argumentam que só vai ao "tribunal" islâmico quem quer e quem está disposto a submeter-se à sua jurisdição. A verdade é que um muçulmano ou muçulmana que recuse o "tribunal" islâmico é completamente marginalizada/o, alvo de ameaças e coação.
Deixando de lado esta questão séria - e em relação à qual não se percebe porque é que o Ministério Público não actua - vale a pena lembrar outra afirmação do xeque Munir, reveladora da sua própria integração na sociedade e valores portugueses.