domingo, 5 de outubro de 2025

Onde trabalham, vivem e nascem os imigrantes em Portugal?


Há 50 anos, o número total de cidadãos estrangeiros em Portugal não era superior aos 32 mil. Hoje em dia, são mais de 1,5 milhões e em sete concelhos o número de imigrantes ultrapassa o total nacional de 1974. Desde as últimas eleições autárquicas, em 2021, o número de estrangeiros a residir em Portugal mais do que duplicou e para este ato eleitoral a imigração será um dos grandes pontos de debate por todos os concelhos.

JUm município em que este paradigma é bem visível é o do Entroncamento, que sentiu o maior aumento de população estrangeira do país em proporção à sua população. Aqui, o número de cidadãos estrangeiros que vivem legalmente no concelho mais do que duplicou em três anos e o número de estrangeiros que solicitaram estatuto de residente disparou mais de 400%.

O concelho do distrito de Santarém viu o número de estrangeiros triplicar entre 2021 e 2023 - passaram de pouco mais de mil para cerca de 3.700 -, numa população de 22 mil habitantes. Ao mesmo tempo, o Entroncamento foi um dos 15 concelhos onde mais de metade das mães dos bebés que nasceram no ano passado eram de nacionalidade estrangeira. Dos 251 nados-vivos registados no concelho, apenas 116 tinham mãe portuguesa - apesar de mais de 80% da população do município ser de nacionalidade portuguesa.

Entre os concelhos que registaram mais bebés com mãe de nacionalidade estrangeira estão vários da periferia de Lisboa - Amadora, Odivelas, Sintra, Loures, Almada, Seixal, Barreiro e Moita - e vários concelhos do Algarve e Alentejo - Odemira, Aljezur, Vila do Bispo, Albufeira, Portimão e Loulé.

Onde trabalham os nossos imigrantes?

Antes de passarmos aos números de emprego entre imigrantes em Portugal, é preciso sublinhar que Portugal tem uma das taxas de desemprego entre população estrangeira mais altas da União Europeia - cerca de 14%, mais do dobro da média nacional - e é o 4.º país com maior precariedade laboral entre estrangeiros.

Um estudo do Banco de Portugal, divulgado em junho do ano passado, mostrava quase 500 mil trabalhadores estrangeiros registados na Segurança Social até 2023, mas o número apenas se refere a imigrantes no mercado formal e uma larga maioria destes imigrantes encontra-se em situações de vulnerabilidade social e profissional que não aparecem nos relatórios.

Entre os trabalhadores estrangeiros que residem de forma legal em Portugal e têm um contrato de trabalho, mais de 200 mil são de nacionalidade brasileira, enquanto 41 mil são de nacionalidade indiana, 27 mil de nacionalidade nepalesa, 23 mil de nacionalidade cabo-verdiana e 19 mil de nacionalidade bengali.

De todas as nacionalidades, os indianos têm a mediana de idade mais baixa, nos 30 anos - muito abaixo de trabalhadores portugueses, que está nos 42 anos. Cerca de dois em cada três são homens, mas o peso dos homens é maior entre trabalhadores da Índia e Bangladesh - aqui só 7,5% e 2,6%, respetivamente, são mulheres - do que por exemplo entre brasileiros e cabo-verdianos, onde o peso das mulheres no mercado laboral é superior a 40%.

Entre trabalhadores portugueses, para comparação, a percentagem de mulheres no mercado laboral é de 49%. Seguindo o mercado empresarial e a lógica de “onde há empresas, há empregados”, a maioria dos trabalhadores estrangeiros está no litoral do país. No entanto, o seu peso é maior nos concelhos com elevada atividade agrícola, como Odemira, Ferreira do Alentejo e Cinfães.

Em 2023, quatro em cada 10 trabalhadores no setor da agricultura e pesca tinham nacionalidade estrangeira, um número que quadruplicou na última década. O trabalhador estrangeiro também é muito importante nos setores do alojamento e restauração, atividades administrativas e construção, onde representa mais de 20% dos empregados.

A nacionalidade brasileira domina em todas as profissões, com exceção da agricultura e pesca, onde os trabalhadores de nacionalidade indiana, bengali e nepalesa juntos representam quase dois terços dos trabalhadores estrangeiros. Os trabalhadores estrangeiros também têm salários inferiores aos de nacionalidade portuguesa: a mediana das remunerações mensais em 2023 foi muito próxima do salário mínimo nacional - 769 euros nos trabalhadores jovens e 781 euros nos trabalhadores com mais de 35 anos.

Para os portugueses, a mediana do salário ficou nos 902 euros para os jovens e 945 euros para trabalhadores com mais de 35 anos.
 Em 2021, a população estrangeira empregada tinha em média qualificações académicas mais elevadas do que a população portuguesa. Os trabalhadores portugueses mais jovens são mais qualificados do que os estrangeiros, mas os portugueses mais velhos são menos qualificados.

Os trabalhadores de nacionalidades europeias têm níveis de ensino mais elevados, enquanto as qualificações mais baixas observam-se entre trabalhadores cabo-verdianos, chineses e guineenses, onde mais de metade possui, no máximo, o ensino básico. Em que concelho vivem mais imigrantes?

Os números do INE são relativos a 2023 e colocam Lisboa muito acima de qualquer outro município em termos de população estrangeira com estatuto de residente: mais de 160 mil pessoas, quase o triplo do segundo concelho com mais imigrantes, Sintra, com 63 mil. Entre os dez concelhos com mais população estrangeira estão seis do distrito de Lisboa e dois do distrito de Setúbal: além de Lisboa e Cascais, Cascais, Amadora, Loures, Odivelas, Almada e Seixal são alguns dos municípios com mais imigrantes em Portugal. Os outros da lista são o Porto, com 35 mil, e Loulé, com 22 mil pessoas.

A estes números juntam-se ainda os da população que pediu o estatuto de residente: em 2023 foram cerca de 330 mil, dos quais mais de 50 mil em Lisboa. Em termos de proporção, há dois concelhos do país em que mais de metade da população local tem nacionalidade estrangeira: Vila do Bispo, com mais de 3 mil imigrantes numa população inferior a 6 mil pessoas; e Odemira, com 17 mil cidadãos estrangeiros entre 33 mil habitantes.

Além destes concelhos, outros seis municípios contam com mais de um terço da população de nacionalidade estrangeira: Lisboa está entre eles, com os restantes a localizarem-se no Algarve - Albufeira, Lagos, Aljezur, Loulé e Tavira. Entre 2023 e 2021, a população estrangeira mais do que duplicou em 68 dos mais de 300 concelhos do país e, em dois casos particulares, triplicou: Penedono e Entroncamento. Neste último, a percentagem de imigrantes a viver no concelho passou de representar cerca de 5% da população para ter um peso de 17% no concelho.

Um em cada três bebés nascidos em 2024 têm mãe estrangeira

Com a chegada de cada vez mais imigrantes, muitos deles jovens, são cada vez mais os bebés de mães estrangeiras a nascerem em Portugal: dos mais de 85 mil nascimentos, cerca de 56 mil tiveram mãe portuguesa e quase 28 mil mãe estrangeira, ou seja, um em cada três nascimentos.

O número de nascimentos de mãe portuguesa tem vindo a cair ao longo dos anos - decresceu quase 10% nos últimos quatro anos -, enquanto o número de nascimentos de bebés com mãe estrangeira disparou 64% no mesmo período. Em 15 concelhos do país, todos do Centro e Sul, mais de metade dos nascimentos tiveram mãe estrangeira, com Aljezur a liderar: aqui nasceram 58 crianças e 41 delas tinham mãe estrangeira (70%). A contrariar a tendência estão apenas 10 concelhos, onde não nasceu qualquer criança de mãe estrangeira - todos no interior do país e ilhas e em concelhos pequenos.

Que tipo de imigrantes vivem em cada região do país?

Primeiro, é preciso contextualizar que mais de metade dos cidadãos estrangeiros a viverem em Portugal residem na Grande Lisboa (50,7%) e que isso é ainda mais vincado entre países PALOP, como Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau, onde vivem quase 75% dos imigrantes africanos.

Nos 10 concelhos com mais imigrantes de países africanos de língua portuguesa estão apenas concelhos da Grande Lisboa, com Sintra à cabeça - mais de 16 mil estrangeiros -, seguida de Amadora (onde representam 5% da população), Loures e Lisboa.

Segundo números do INE, citados por um estudo da UGT divulgado no ano passado, o Brasil representa cerca de 40% de todos os imigrantes em Portugal e estes espalham-se um pouco por todo o país, principalmente pelo litoral, representando quase 5% da população em Cascais e Braga. 

02 out, 2025 - 07:00 • Diogo Camilo  - Rádio Renascença

 

 

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