O ensino árabe em Lisboa
Turma 2, Grupo 2, Trabalho Multimédia/Investigação nº 6
(Ana Sousa Garcia, Ana Sofia Neto, Andreia Forra e Nádia Gago)
«Aprender não ocupa lugar» depois de referir a frase, Andreia Gomes sorri e recomeça a escrever da direita para a esquerda as letras árabes presentes no quadro. Assessora de Imprensa, Andreia, conta que o que a faz deslocar-se todas as semanas à Mesquita Central de Lisboa é a vontade de desmistificar uma língua e uma cultura que desde muito desperta a sua curiosidade.
Desde 1986 que a Mesquita Central de Lisboa proporciona à comunidade portuguesa a oportunidade de aprender a língua litúrgica do Islão. Língua oficial em 25 países, com falantes nativos espalhados por todo o mundo, o ensino do árabe tem conquistado cada vez mais alunos portugueses. Nas palavras de Sheikh David Munir, professor na Mesquita Central de Lisboa, o que se pretende é «Ensinar sem fins lucrativos o árabe clássico proveniente do Alcorão».
A aprendizagem da língua árabe tem para o Professor Sheikh David Munir um papel fundamental na aproximação da cultura portuguesa com a islâmica «O diálogo entre culturas e civilizações é importante. Quanto maior for o conhecimento da língua, maior aproximação haverá. E com isto, mais respeito. O conhecimento é uma via para a tolerância» aponta. Conhecer um povo que fala árabe é igualmente importante para o professor . «Nem todo o árabe é muçulmano e vice-versa. O conhecimento permite que “não coloquemos todos dentro do mesmo saco” e saibamos distinguir».
Sheikh Zabir Edriss, professor na Mesquita de Odivelas, refere que o domínio da língua árabe não só possibilita a aproximação de culturas como representa uma mais-valia na inserção no mercado de trabalho «Devido à crescente influência da economia do Médio Oriente a procura de funcionários com conhecimento da língua árabe aumentou consideravelmente».
Divididas em vários níveis, as aulas de árabe, atraem um universo diversificado de indivíduos. Entre eles: polícias, pintores, enfermeiros, jornalistas, assessores de imprensa, estudantes universitários, antropólogos e pilotos.
A aprendizagem do árabe requer empenho e dedicação. «Não é propriamente fácil» diz o Sheikh David Munir. Muitos dos alunos acabam por desistir porque há uma quebra, não conseguem acompanhar. É necessário ir até ao fim. Mesmo que leve tempo, os resultados compensam» refere o professor. Consciente das diferenças que compõem a turma, o professor presta atenção às dificuldades de cada aluno e tenta que nenhum dos seus alunos perca o ritmo de aprendizagem. «É uma convivência familiar, somos de facto todos diferentes e respeitamo-nos mutuamente.»
O ensino como necessidade profissional
«Abordo esta aprendizagem de uma forma mais abrangente e que vai para além das questões gramaticais ou linguísticas. Tento incorporar também uma valorização social, cultural, histórica e religiosa» diz Miguel Ribeiro.
Aluno assíduo das aulas na Mesquita Central de Lisboa, Miguel refere que a sua motivação partiu de uma necessidade profissional. «O meu emprego requer que me desloque frequentemente ao Golfo Pérsico». Acumula experiências em território árabe, desde 2008 já trabalhou em Bahrain, Qatar, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados.
Além de uma necessidade profissional foi também o contacto frequente com o povo árabe que conduziu Miguel Ribeiro a frequentar as aulas. Aponta a língua como um meio que permite uma melhor interacção e conhecimento do modo de vida. «Directamente e sem filtros».
Defende que o conhecimento e domínio de línguas é fundamental para quem quer assumir funções fora do Portugal. «Perante o mercado de trabalho cada vez mais competitivo é imperativo que cada indivíduo seja capaz de reunir valências acrescidas e pela diferença positiva, potenciar novas oportunidades».
Nos planos de Miguel reside a mudança em definitivo para o Golfo Pérsico. Porém, enquanto o seu objectivo não se concretiza, conta que continuará a acumular conhecimentos que lhe possibilitem posteriormente a adaptação para a nova região. «Aproveito as aulas, as deslocações à mesquita, as conversas com o Sheikh David Munir e qualquer outra opção que se apresente como uma oportunidade adicional para manter e reforçar o contacto com esta cultura».
«Não procuro o conforto das semelhanças mas sim o desafio das diferenças. A oportunidade de trabalhar fora de Portugal e não conhecer outro povo é para mim o desperdício de uma oportunidade única de aprendizagem, de enriquecimento cultural e pessoal» relata.
«Abordo esta aprendizagem de uma forma mais abrangente e que vai para além das questões gramaticais ou linguísticas. Tento incorporar também uma valorização social, cultural, histórica e religiosa» diz Miguel Ribeiro.
Ensino árabe motivado pelo turismo e pelas redes sociais
Sheikh Zabir Edriss acredita que hoje em dia, a facilidade de viajar e, mais precisamente, a afluência de voos directos para países árabes, é também um dos motivos que leva muitos portugueses a aprender a língua para posteriormente interagir com os nativos. «Saber falar árabe ajuda bastante os turistas e viajantes nos diferentes países árabes a comunicarem com facilidade».
A Internet e as redes sociais, como o Facebook, possibilitaram uma maior abertura e trouxeram mudanças ao nível das relações. «Sem dúvida que a Internet é responsável por muitos dos casamentos inter-religiosos», crê Sheikh Zabir Edriss. O «gostar de alguém» leva muitos a aderir às aulas de árabe com o propósito de aprender a língua para compreender o alcorão. E posteriormente converterem-se à religião islâmica. «O alcorão não obriga a conversão. É a cultura que impõe a conversão que os filhos sigam os passos dos progenitores».
O ensino e a conversão para a religião islâmica
Segundo Sheikh Zabir Edriss, a adesão à religião islâmica não é influenciada pelo ensino. «Nas minhas aulas temos um pouco de tempo para desmitificar a religião. Não para converter. A desmitificação acaba por puxar alguém à conversão. O ensino não influencia.»
No entanto, o professor da Mesquita Central de Lisboa não nega que o ensino possa ser o inicio de um processo de conversão. «Tive muitos alunos que se converteram. Identificaram-se com a religião.» No entanto, não acredita que os professores assumem influência nesse processo. «Apenas tentamos desmitificar a religião, damos a conhecer a nossa religião e cultura. A conversão é uma escolha íntima e pessoal».
Ensino pobre
Segundo Sheikh David Munir, o ensino árabe em Portugal é ainda «órfão e pobre». O ensino árabe é uma opção do curso académico. Fora das mesquitas as aulas são pagas. «O sistema foi comercializado. Mesmo que se tenha vontade de aprender, os custos fazem com que os alunos optem por aprender outras línguas». No entanto, para nota uma maior adesão às suas aulas. «Nos dias de hoje debate-se muito a questão do Islão como cultura e religião. Desde o 11 de Setembro de 2001 que sentimos a necessidade de desmistificar a religião através de colóquios, que de certa forma interessou muitos a ingressarem» diz.
O outro lado da moeda
A simpatia e cooperação entre os alunos e professores permite que se trave relações de amizades dentro da mesquita. «Sou amigo de muitos dos meus alunos. Às vezes psicólogo» diz Sheikh David Munir. As turmas fazem também anualmente execuções. «Já fomos ao Egipto, Córdoba, Granada».
«Gostava de chegar ao dia em que os meus alunos escrevessem da direita para a esquerda em Português» conta Sheikh David Munir.
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