terça-feira, 4 de junho de 2024

Macau: o dia em que os imigrantes ilegais saíram à rua


A existência de um número apreciável de imigrantes ilegais, em Macau, era uma realidade conhecida de todos, desde as altas instâncias do poder até ao cidadão comum. A contratação de ilegais como empregadas domésticas era algo considerado normal. Todas as famílias portuguesas tinham uma empregada nessa situação. Fiz o mesmo, nos primeiros anos em que residi em Macau. As empregadas ilegais evitavam ir à rua, onde corriam sempre o risco de serem apanhadas em operações de controle da polícia. Essas operações eram aproveitadas por alguns membros da polícia para extorquir dinheiro às ilegais, a fim de as deixar ir em liberdade.

Ninguém sabia, na altura quantos ilegais existiriam em Macau mas dados dos serviços de informações da Polícia de Segurança pública (PSP) asseguravam-me que o número devia rondar os 50 mil. De acordo de um estudo de Chan Chan U (“A Legalização de Imigrantes Ilegais em Macau (1982-1990): Evolução e Consequências”) o número rondaria os 30 mil.

Em 1982, o Governo de Macau tentou encontrar uma solução parcial, lançando uma operação de legalização dos estudantes indocumentados. A operação incluía também os trabalhadores indocumentado, por pressão as associações industriais e comerciais, dependentes dessa mão-de-obra barata para a sua actividade económica. Foi feito um levantamento, ainda em 1982 e o número de ilegais registados foi de cerca de 28 mil, incluindo os agregados familiares.

A esses 28 mil era preciso juntar cerca de 3 mil membros dos agregados familiares destes trabalhadores. O número de pessoas indocumentadas que integravam os agregados familiares dos residentes legais contratados também era aproximadamente de 3 mil.

No dia 2 de Abril de 1982, de acordo com o estudo de Chan Chan U, as Forças de Segurança de Macau (FSM) divulgaram um comunicado sobre o segundo passo para resolver o problema dos trabalhadores indocumentado: no dia 6, as empresas começariam a registar detalhadamente as informações relativas à identificação dos trabalhadores indocumentado contratados e dos seus familiares e as autoridades policiais, após análise e confirmação, emitiriam “títulos de permanência temporária.

Numa “declaração escrita”, apresentada a 5 de Abril de 1982, as associações comerciais fizeram um apelo à Administração para que resolvesse completamente o problema dos residentes ilegais antes da entrada em vigor das normas relativas à proibição de contratação de pessoas indocumentadas. “Isto porque se trata de uma questão muito complicada e de grande alcance; se não for analisada e estudada com prudência, a segurança social de Macau será absolutamente prejudicada”, advertindo que “o governo será o único responsável”, salienta Chan Chan U. O facto de a Administração não ter resolvido completamente o problema da imigração ilegal naquela altura gerou um outro problema: os trabalhadores inicialmente indocumentado que obtiveram títulos de permanência temporária ou até bilhetes de identidade optaram por trazer ilegalmente para Macau os seus filhos, ou até mesmo pais, irmãos, cônjuge e outros familiares residentes da China Continental, fugindo do longo processo de concessão de salvos-condutos.

Quanto à legalização dos estudantes, a operação anterior tinha tido escassos resultados:de acordo com dados estatísticos incompletos, divulgados no ano de 1986 por Alexandre Ho Si Him, então deputado da Assembleia Legislativa, nas 40 escolas que lhe forneceram as informações pedidas, havia 603 estudantes indocumentado, mais de metade com pais legalmente autorizados a residir em Macau.

Desde a tomada de posse do governador Pinto Machado, primeiro governador nomeado por Mário Soares, após vencer as presidenciais, as relações com os responsáveis das forças de segurança foram pouco amistosas.

Na cerimónia de tomada de posse do novo comandante das FSM, Proença de Almeida, que teve lugar no dia 22 de Julho, Pinto Machado anunciou, pela primeira vez, a sua intenção de resolver o problema da imigração ilegal em duas vertentes: as FSM teriam como missão principal bloquear a entrada de mais imigrantes ilegais e o problema das pessoas indocumentadas em Macau iria ser resolvido, partindo do ponto de vista humanitário.

Nessa mesma cerimónia Proença de Almeida mostrou-se reticente à estratégia definida pelo governador. Numa nota enviada aos jornalistas chineses, o comandante das FSM salientava que a legalização do problema dos indocumentado era problema da responsabilidade da Administração, uma vez que se tratava de uma decisão política. A responsabilidade que as FSM assumiam, por entenderem a sua única responsabilidade, era apenas proceder de acordo com a lei no domínio da autorização de permanência e fixação de residência de estrangeiros em Macau.

O processo de legalização dos indocumentados ficou marcado, desde o início, por um braço de ferro entre Pinto Machado e Proença de Almeida que afirmava que “as FSM dispunham de recursos, humanos e materiais suficientes para bloquear a entrada de imigrantes ilegais”, escreve Chan Chan U.

Como lhe pareceu que as autoridades de segurança pretendiam ignorar a opinião da Administração, Joaquim Pinto Machado decidiu adoptar uma estratégia de 'recolha de dados', semelhante à adoptada para a operação de registo dos trabalhadores indocumentado de 1982 e, ao mesmo tempo, bloquear a entrada de mais imigrantes ilegais, procurando reunir a Administração e as autoridades de segurança para resolver completamente o problema.”

Com a demissão de Pinto Machado, o novo governador, Carlos Melancia, tentou também uma forma de resolver o problema, em diversas fases e de forma parcial, começando com a “Operação Dragão”, “que registou 9.600 pessoas, numa operação pública e 3.992 entre os alunos das escolas do território, refere Chan Chan U. “Depois de um processo de selecção e verificação, foram atribuídos documentos a cerca de 4 mil pessoas.”

Em 1989, o presidente Mário Soares visitou Macau. Durante a visita houve dois episódios caricatos, que colocaram Mário Soares bastante irritado. À saída do Palácio da Praia Grande, entre as muitas pessoas que ali aguardavam o presidente, houve uma agitação, do outro lado da rua, com gritos de mulheres e uma movimentação de elementos das FSM, a cerca de 20 metros do portão do edifício. Nessa altura, eu trabalhava no Gabinete de Comunicação do Governo de Macau e estava perto do local. A agitação surgiu quando duas mulheres tentaram chegar perto do presidente, com os filhos ao colo, pedindo, em chinês, que o presidente as ajudasse a conseguir documentos, como me traduziu um colega, o António Isidro. Curioso sobre o que estava a acontecer, Soares aproximou-se e, de forma até um pouco violenta, afastou dois dos polícias que manietavam as mulheres.

O que é que passa aqui?” perguntou. “Alguém que traduza!” - tarefa de que o Isidro se encarregou, explicando o desespero das mulheres.

Mário Soares não esteve com meias medidas e perguntou: “Quem é que comanda aqui?” Um dos oficiais portugueses das FSM avançou para perto do presidente. “Faça o favor de tratar da legalização destes mulheres!” disse. Ao seu lado, Carlos Melancia ficou estarrecido. “Olhe que você vai-me arranjar um problema dos grandes.”, alertou.

A visita continuou, com mais um episódio semelhante, perto do Templo de Á-Má.. No caso, foi um dos próprios polícias chineses que fazia parte da escolta do presidente, que se dirigiu a ele, directamente, pedindo-lhe para legalizar a mulher, que não tinha documentos.

No dia 27 de Março de 1990, o comandante das FSM anunciou que, por despacho do Governador, datado de 23 de Março, iriam ser emitidos, a partir do dia 2 de Abril seguinte, bilhetes de identidade para os pais indocumentado dos menores beneficiados na “Operação Dragão”, envolvendo cerca de 4.200 pessoas.”, adianta o autor do estudo citado. Nessa altura, as más relações entre Carlos Melancia e o comandante das FSM já não eram segredo para ninguém. A gota de água tinha sido a decisão de Melancia em extinguir o Comando das Forças de Segurança de Macau, uma estrutura militarizada, com mais de três dezenas de oficiais do exército português no comando. O objectivo do Governador era transformar as Forças de Segurança numa estrutura policial, mais adequada às suas funções.

AS FSM reagiram mal a esta decisão. Uma das minhas tarefas, no Gabinete de Comunicação Social (GCS) era supervisionar todo o noticiário institucional emitido pelo governo e distribuí-lo pela Comunicação Social portuguesa e chinesa. Na maioria dos casos, notícias “inofensivas”, como alterações de trânsito devido a obras. No dia 18 de Março acontece-me um episódio estranho. Uma das notícias era das FSM e comunicava que iria começar, no dia seguinte a operação de emissão de documentos aos indivíduos registados nas operações anteriores.

Por volta das oito da noite, recebo um telefona de um dos oficias superiores das FSM, a perguntar-me se essa notícia já tinha sido distribuída. Confirmei dizendo-lhe que a nossa única tarefa, nessa matéria, era distribuir as notícias que nos chegavam das cerca de três dezenas de serviços públicos. Foi então que esse oficial me colocou uma estranha questão: “Sabe se o Governador já leu a notícia?” Disse-lhe que não, que as notícias do dia-a-dia não iam ao gabinete do governador, o GCS tinha autonomia para fazer essa distribuição.

Foi um telefonema estranho, a única vez que um oficial superior das FSM me contactou a propósito de uma notícia. Como refere Chan Chan U, no seu estudo, logo que a notícia foi transmitida pela rádio chinesa, no dia seguinte, começaram a aglomerar-se pessoas, pelas 17 horas, na Avenida de Sidónio Pais, em frente à porta principal da Secção de Identificação do CPSP e, depois de terem sido dispersadas pela polícia, passaram a aglomerar-se na Rua da Praia Grande, diante do Palácio do Governo. O número de pessoas concentradas não parou de aumentar, havendo inclusive autocarros a levar ainda mais pessoas àquele local.” Os motoristas de táxi andavam num corropio a transportar indocumentado, sem lhes cobrar a viagem.

Em poucos minutos largas centenas de pessoas estavam amontoadas diante do Palácio do Governo, exigindo a atribuição de documentos – uma intenção causada por uma percepção incorrecta do conteúdo da notícia das FSM. O meu escritório ficava a 200 metros do Palácio do governo e fui alertado pelo mesmo colega, o António Isidro, sobre a acumulação de gente diante do Palácio da Praia Grande. Bilingue, nascido em Macau, o Isidro conhecia o território como ninguém e fez-me um alerta: “Olha que isto pode ser complicado”.

Meia-hora depois, percebi esse alerta: os autocarros não paravam de chegar, com mais gente – uma “operação” montada pelas seitas locais. Isso era visível, uma vez que os polícias de guarda ao Palácio, nem sequer interpelavam os condutores e deixavam-nos circular livremente, estacionar diante do palácio, despejar os passageiros e partir para nova viagem.

Com o número de pessoas a aumentar, ultrapassando os milhares, o ambiente começou a ser de crise, no interior do Palácio da Praia Grande. As portas foram fechadas e eu mais o Isidro ficámos isolados, no átrio da entrada, protegidos por pouco mais de duas dezenas de polícias. A dada altura, alguns dos manifestantes começaram a colocar faixas brancas, atacadas à cabeça, com caracteres chineses. “Vão fazer greve de fome”, avisou-me o Isidro. Um dos polícias, macaense, foi chamado para se dirigir à multidão, numa tentativa de os acalmar, mas o seu discurso não produziu efeitos e ele regressou ao interior do Palácio da Praia Grande. Minutos depois, sou chamado ao interior do palácio e entregam-me 30 ou 40 folhas A/4, para distribuir aos manifestantes, com um comunicado que nem sequer li.

Quando saímos para o átrio, a situação esteve perto de se descontrolar. A multidão entrou num frenesim, procurando ultrapassar a barreira policial. O António Isidro percebeu imediatamente o problema: “Eles pensam que este papéis são documentos para se legalizarem. Atire-os para o meio deles.” Durante alguns minutos assistimos a uma violenta luta, entre grupos de manifestantes a tentar obter aquilo que eles julgavam ser documentos de identificação. Os manifestantes exigiam ser recebidos pelo governador ou por alguém do governo que lhes resolvesse o problema da documentação. A proposta foi aceite e mandaram-nos a nós – eu e o Isidro – escolher a delegação. A informação provocou uma confusão enorme e alguma pancadaria, com dezenas de manifestantes a exigirem fazer parte da delegação. “Isto resolve-se à chinesa” comentou António Isidro. Dirigiu-se ao grupo mais violento, protegido pela barreira policial, chamou-os e disse: “Três homens e três mulheres – escolham vocês ou não há reunião”, disse. A reunião fez-se, não sei com quem, mas os resultados foram nulos.

Nessa altura, já havia dezenas de jornalistas estrangeiros – a BBC e a ABC, uma dúzia de correspondentes de jornais internacionais, apenas para citar alguns - vindos de Hong Kong. Concentraram-se numa zona já no limítrofe da multidão de ilegais. Ali perto, dois caros da polícia estavam estacionados, junto à rua que dava acesso ao palácio. Dirigi-me até lá, porque a hostilidade da multidão estava aumentar.

Foi então que tive o diálogo mais surrealista da minha vida. Um dos polícias chineses chamou-me e disse que havia um oficial português que queria falar comigo, no sistema de intercomunicação da PSP. Peguei no rádio vi-me na situação de militar: “Aqui Paulo Reis, escuto”. Do outro lado ouvi a voz de um dos oficias que conhecia e que fez uma pergunta: “Paulo Reis, é possível tirar os jornalistas daí?”. Fiquei perplexo e calado por alguns segundos. “Tenente-coronel, é mais fácil tirar os manifestantes do que os jornalistas, escuto”, disse eu – mas a conversa ficou por aí.

Entretanto, outros milhares de manifestantes amontoavam-se diante do quartel da Unidade Táctica de Intervenção da Polícia (UTIP), a exigiram também documentos. As mulheres, desesperadas, entregavam os filhos aos polícias que estavam por detrás dos portões, na esperança de que eles pudessem ser registados.

Consegui entrar no quartel e, numa das divisões logo à entrada, deparo-me com algumas dezenas de polícias com bebés e crianças de pouca idade ao colo. A confusão era tão grande que, às tantas, descobri um colega meu, o Paulo Aido, também com uma criança ao colo.

Perto de nós, o comandante da unidade berrava ao telefone com Proença de Almeida, pedindo autorização para deixar os manifestantes entrarem no quartel: “Meu comandante, tenho aqui dentro espaço suficiente para eles”. Do outro lado do telefone, a resposta foi negativa.

Nessa altura, o Governador já se tinha apercebido da gravidade da situação e tomou a única opção que lhe restava: proceder a uma operação de registo completa, de todos os indocumentado Foi estabelecido um novo local – o estádio do Canídromo, onde se realizavam as corridas de galgos - e passada palavra rapidamente, para que os indocumentado seguissem para lá. Fui atrás deles e deparei-me com dezenas de mesas, onde os polícias registavam os dados pessoais de cada um dos ilegais, incluindo im pressões digitais, numa espécie de ticket, dividido em dois por um picotado. Metade ficava com o indocumentado, a outra metade com o polícia, para posterior controle para atribuição de documentos – algo que já ninguém duvidava iria acontecer.

Eu andava de telefone, um daqueles telemóveis de primeira geração que pareciam uns tijolos. Durante algum tempo, fui dando informações, a partir do terreno, a responsáveis da administração. A partir de certa altura, foi-me dado o número de telefone directo do governador e recebi instruções para reportar a ele com “briefings” regulares sobre a situação no terreno.

Carlos Melancia já tinha percebido que as informações provenientes dos oficias responsáveis das FSM não eram fiáveis. Já dentro do Canídromo, fui reportando a situação ao governador. A confusão ainda era grande, com indocumentado a chegarem sem parar. Aí reparei num pormenor: a quase totalidade dos ilegais chegavam descalços, cobertos de lama até à cintura, de tronco nu – sinal de que tinha acabado de chegar da China, através dos lamaçais da zona da ilha de Coloane, local tradicional onde os “cabeças de cobra” (traficantes de pessoas) entregavam a sua “mercadoria”.

A fazerem segurança no Canídromo estavam cerca de três dezenas de estagiários das FSM. A confusão à entrada ainda era grande, por uma razão simples: a polícia em Macau não podia usar cassetetes, desde 1966. Os polícias usavam os cinturões, para controlar a multidão. Essa proibição vinha desde 1966, quando Macau foi controlado por Guardas Vermelhos, durante vários dias – uma reacção ao facto de cidade estar sob domínio colonial e dar abrigo a nacionalistas de Taiwan. Foi aquilo que ficou conhecido pelos “acontecimentos do 1-2-3” A situação agravou-se durante um tiroteio, em frente ao Leal Senado, que provocou oito mortes. A hostilidade dos Guardas Vermelhos aumentou e chegaram ao ponto de proibir os comerciantes chineses de vender quaisquer produtos a portugueses. A utilização “abundante” dos cassetes, durante confrontos com Guardas Vermelhos, levou os responsáveis chineses a proibir que a polícia os utilizasse. Finalmente, foi encontrada uma solução a dois tempos: teria que haver um pedido de desculpas público, do governador e um indemnização às famílias dos mortos. O pedido de desculpas foi o mais humilhante possível: dentro do palácio da Praia Grande, diante dezenas de Guardas Vermelhos e figuras ilustres da comunidade chinesa, o governador Nobre de Carvalho leu o pedido de desculpas, um texto elaborado pelos próprios Guardas Vermelhos.

No Canídromo, por volta das 10 horas, reparei que os ilegais, que continuavam a chegar às centenas, continuavam a ser, claramente, recém-chegados da China e não indocumentados residentes em Macau. Contactei o governador Carlos Melancia, dei-lhe as informações que tinha e ele reagiu com alguma aspereza: “Mas o comandantes das FSM diz-me que tê tudo sob controle." Tive que lhe dizer que não era verdade, nem sequer conseguiam manter um controle mínimo em relação à entrada de novos ilegais. A conversa ficou por ali, mas soube depois que essa foi a informação final, para Carlos Melancia, que decidiu dar ordens para interromper a operação de legalização.

O balanço da “Operação Indocumentados/90” registou um total indocumentados que rondava cerca de 33 mil pessoas

Reportagem / Paulo Reis

 

 

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Comunicação Social: Montenegro e o financiamento público - uma lição macaense

  


A hipótese de "haver algum financiamento público" para a comunicação social e instrumentos de mecenato para a comunicação social, foram duas referências feitas pelo Primeiro-Ministro, ontem, no Porto.

"Com a mesma naturalidade e franqueza com que assumo que o país precisa de bons políticos, o país também precisa de bons jornalistas, jornais e órgãos de comunicação social. Mas quando todos dão as mesmas notícias, quando um só acontecimento é capaz de colocar todos os jornalistas à procura de uma reacção que depois multiplica por sete, oito, dez agentes no caso dos partidos políticos [...] eu pergunto-vos se a pessoa que está em casa é isso que verdadeiramente quer saber?", interrogou-se Luís Montenegro, numa intervenção proferida na conferência dos 136 anos do Jornal de Notícias, na Casa da Música, no Porto.

Há 30 anos que o tipo de crise que os OCS's de Portugal atravessam se tornou um problema, em Macau – problema que afectava sobretudo os jornais portugueses, com uma potencial audiência que não ultrapassava os 2/3 mil leitores e redacções de 2 ou 3 jornalistas, dependentes do noticiário da Lusa para encher a maioria das páginas.

O problema foi resolvido com um despacho governamental, em 1991, que definiu um sistema de apoio à publicações periódicas que tivessem mais de três anos de existência. O objectivo do despacho era “assegurar condições adequadas ao exercício do direito à informação, através de medidas complementares à dinamização do sector promovida pelos respectivos agentes económicos.”

O sistema de apoios às publicações periódicas incluía uma “comparticipação financeira directa, destinada à cobertura de encargos de produção” e definida percentualmente, tendo em conta as despesas de produção, de forma igual, para todos os OCS's. O mesmo despacho instituía um conjunto de “incentivos directos, destinados a apoiar o financiamento de projectos no âmbito da modernização, inovação, formação e qualificação profissional e outros de interesse relevante na área da comunicação social.”

Noutro despacho, definiam-se mais em pormenor os sistemas de apoio directo “para o aumento da competitividade da imprensa informativa periódica local (…) destinados a apoiar o financiamento de projectos no âmbito da modernização tecnológica e da formação e qualificação profissional nas áreas da comunicação social e da organização e gestão de empresas do sector.

Esses projectos, como o Governo os definiu, tinham como objectivo “o aumento da competitividade da imprensa (...) na forma de apoio financeiro directo de projectos nas seguintes áreas: reconversão tecnológica, acções de formação profissional, intercâmbio, aquisição de material informativo e outras acções no âmbito dos objectivos traçados.”

Foram duas medidas que resolveram a crise da Imprensa local, nomeadamente dos jornais portugueses. E ninguém se sentiu limitado ou “açaimado” por estar a receber dinheiro do Governo. 

Opinião / Paulo Reis

Com TSF 3.06.2024


 

domingo, 2 de junho de 2024

Direita quer mudar maiorias no Parlamento Europeu

 

O resultado de décadas de políticas complacentes em relação à emigração vão ser visíveis, nestas próximas eleições europeias. Os partidos de esquerda e centro-esquerda defenderam, durante anos, uma política de migração baseada em boas intenções, com as portas abertas à entrada de refugiados de países cuja cultura os impede de se integrarem nos valores que são comuns à Europa. Nessa atitude complacente, o maior crime que se podia cometer era levantar a hipótese de a emigração estar ligada a uma taxa de crime crescente. Isso bastava para que qualquer conservador fosse imediatamente classificado como xenófobo e fascista.

A esquerda não contou, porém, com um pormenor: a realidade era algo incontornável e lá se caiu na história do elefante no meio da sala - elefante que todos sabem que lá está mas toda a gente faz de conta que não o vê. E foi assim que caímos em situações surrealistas como a inserção de educação sexual nos cursos de língua dinamarquesa que os migrantes frequentavam, em 2015.  
 


Entre 2013 e 2014, 34,5% de todos os indivíduos condenados por violação eram imigrantes ou descendentes, apesar de esses grupos representarem apenas cerca de 12% da população total da Dinamarca. Os defensores desta estratégia argumentavam com os bons resultados obtidos pela Noruega, onde foram estabelecidas programas de ensino para que os migrantes soubessem que o facto de uma mulher vestir uma saia curta não significa que seja uma prostituta e possa ser violada sem problemas.
 

Os apoiantes destas propostas apontam para o êxito de um programa semelhante na Noruega, onde os residentes de centros de asilo recebem um curso voluntário de cinco horas destinado à prevenção de agressões sexuais. A aula ensina aos requerentes de asilo e refugiados que quando as mulheres beber álcool ou vestem roupas reveladoras, numa discoteca, não é um convite ao sexo.
 
Linda Hagen, responsável pela gestão de 34 centros de asilo para os refugiados noruegueses de refugiados - Hero Norge - afirmou ao jornal dinamarquês The Local que a decisão de introduzir as aulas especiais sobre sexo surgiu depois de se terem verificados uma série de crimes sexuais cometido por refugiados.
Hagen explicou que os homens de países sexualmente conservadores muitas vezes têm dificuldade em entender como interpretar o comportamento de jovens mulheres escandinavas. Mas mesmo com essa crua demonstração da realidade, a postura dos esquerdistas e adeptos das "portas abertas" para a emigração tende a desculpar esse tipo de comportamento.

Na Alemanha, em 2020, num episódio que encheu as páginas dos jornais, dez homens, a maioria refugiados sírios, foram considerados culpados pela violação colectiva de uma jovem de 18 anos, durante mais de duas horas, à saída em clube noturno, na cidade de Freiburg. As sentenças foram leves: o principal acusado foi condenado a cinco anos e meio de prisão, enquanto sete outros foram sentenciados a quatros anos. Dois dos violadores foram condenados a penas de prisão suspensa, por não terem prestado auxílio à jovem. Um deles foi absolvido. Oito dos de homens em julgamento eram refugiados da Síria, enquanto os restantes eram provenientes do Iraque, Afeganistão e Alemanha.

Não obstante a violência deste tipo de actos, a responsável pelos centros de abrigo para refugiados, Linda Hagen, tentou desculpar a violação, fazendo apelo ao problema das diferenças culturais: “É difícil se uma pessoa vem de um país onde as mulheres nunca saem”, disse. “Quando se vê uma jovem com uma saia curta, a dançar numa festa, à noite, que tipo de mensagem é que isso transmite?" afirmou ao jornal The Local, culpabilizando indirectamente o comportamento da jovem pela violação.

Na Alemanha, um relatório policial de 2019 sobre "Crime no contexto da imigração" mostrou um aumento de 102% no número de alemães que foram vítimas de um crime cometidos por imigrantes. Na categoria "Crimes contra a vida" houve 230 casos em que a vítima era alemã e o suspeito pertencente a um grupo de imigrantes.

A tentativa das forças de esquerda em desculpabilizarem uma realidade indesmentível alimentou o crescimento da extrema-direita, por toda a Europa. Os resultados desta atitude complacente vão ser agora visíveis, numa eleições europeias em que as sondagens apontam para o sucesso desses partidos. São partidos considerados de direita radical, extrema-direita ou nacionalistas conservadores, com discursos frequentemente qualificados pelos adversários como xenófobos e antieuropeístas, focados na imigração e no controlo de fronteiras, entre outros temas. 

A realidade é que se tornou um crime, nos últimos anos, protestar contra o crime a a violência sexual praticadas por migrantes. É o tal elefante que teima em continuar na sala de estar dos esquerdistas, algo que não é aceitável pelo cidadão comum. 

Migração e Crime / Paulo Reis

José Vegar - Inteligência Artificial: O Poder de Fazer Acontecer

A singularidade e a exclusão que a IA desencadeia

A evolução permanente e acelerada da IA irá interferir e mudar quase todas as dimensões da vida humana. No entanto, apesar de tomados por esta vertigem, de modo voluntário ou forçado, não devemos esquecer, de modo algum, que, enquanto a todo o segundo cativam para si vastos segmentos de utilizadores, os processos e produtos de IA são agentes de algumas exclusões fundamentais.

"(...) No campo vastíssimo da partilha de dados e de informação, privada e pública, o momento contemporâneo está ainda centrado na competição feroz entre entidades de legado, como são os departamentos dos governos e os media tradicionais, entre outros, e os chamados criadores digitais, que ocupam as diversas plataformas existentes e cujos conteúdos, na sua esmagadora maioria, estão libertos dos modos tradicionais de validação de factos e dados (...)

"(...) Ainda recentemente, a 4 de maio deste ano, o Economist concentrava-se no flagelo da "desinformação", revelando as novas metodologias para a sua execução, que passam pela criação de todas as tipologias de plataformas digitais e pela colocação nestas de informação cuidadosamente editada, ocultando assim a sua total falta de factualidade, com o objetivo de influenciar o contingente de visualizadores."(...)

(uma leitura que se recomenda vivamente...)

Citação / José Vegar

 

Cineasta guineense defende ensino da língua portuguesa como “reparação” colonial"

 

Portugal devia enviar professores como reparação da colonização, disse à agência Lusa o realizador guineense Sana Na N'hada, alertando para o facto de a língua portuguesa estar “a desaparecer na Guiné”. “Eu acho que o que Portugal podia fazer bem, se quisesse pagar, era melhorar a estrutura que há no país. Mandava professores portugueses para nos ensinar o português correto“, como defendeu o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, sobre as consequências do colonialismo, acrescentou.

Sana Na N’hada, que veio a Portugal apresentar o seu último filme, e quarto da sua filmografia, confessa que ele próprio aproveitaria a presença dos professores. “Eu não falo bem o português. Eu queria aprender o português”, salientou e, fazendo o diagnóstico do atual estado da língua portuguesa no seu país, conclui que “a língua portuguesa está a desaparecer na Guiné-Bissau“.

O envio dos professores “era bom para a Guiné-Bissau e para Portugal também. Isso era uma reparação”, reiterou.

Quanto ao estado do cinema na Guiné-Bissau, Sana Na N’hada considerou que está tudo por fazer. “Infelizmente não há definição, ninguém fez nada para ter uma política de cinema na Guiné-Bissau, para além de surgimento do Instituto Nacional de Cinema, em 1978 nunca mais houve nada”, lamentou.

A alternativa são as coproduções e Sana Na N’hada nomeia ainda os realizadores guineenses Flora Gomes e Suleimane Biai como, consigo, os únicos que procuram fazer algo pelo cinema guineense. “Somos três pessoas que não fazem outra coisa senão cinema, mas isso leva tempo”, acrescentou.

“Nome”, coprodução portuguesa que junta LuÍs Correia e a Lx Filmes (Portugal), a Spectre Productions (Franc¸a), a Geba Films (Guiné-Bissau), a Geração 80 (Angola) e a The Dark (Franc¸a), foi apresentado em antestreia em Portugal no passado dia 27 no Indie Lisboa e entra ainda este ano no circuito comercial.

 Reparações coloniais / Paulo Reis

 

Os muçulmanos britânicos estão a tornar-se uma nação dentro de uma Nação

Trevor Phillips, ex. presidente da Comissão da Igualdade e dos Direitos Humanos

David Barrett
11 April 2016
The Telegraph

Numa entrevista que aqui reproduzimos, Sir Trevor Phihllips defende o estabelecimento de quotas étnicas nas escolas e nos bairros de habitação social. A razão? "Corremos o risco de sacrificar uma geração de jovens britânicos a valores que são contrários às crenças da maioria de nós, incluindo muitos muçulmanos." afirmou. "Na minha opinião, temos de adotar uma abordagem muito mais musculada da integração do que nunca, substituindo a política fracassada de multiculturalismo”, advertiu, num entrevista ao jornal The Telegraph.

Os muçulmanos britânicos estão a tornar-se uma nação dentro de uma nação, advertiu o antigo presidente da Comissão da Igualdade e dos Direitos Humanos, numa entrevista ao jornal The Telegraph. Comentando uma sondagem recente, Trevor Phillips disse que os ingleses correm o risco o “perigo de sacrificar uma geração de jovens britânicos a valores que são antitéticos em relação às crenças da maioria de nós, incluindo muitos muçulmanos”.

Sir Tevor pediu uma nova e mais dura abordagem à integração e o abandono da “política fracassada do multiculturalismo”. A sondagem chegou a uma conclusão “verdadeiramente assustadora” de que “os muçulmanos têm opiniões separadas sobre como querem viver na Grã-Bretanha e são muito mais propensos a apoiar o terrorismo do que aqueles que não o fazem”, acrescentou o ex- presidente da Comissão da Igualdade e dos Direitos Humanos.

Os comentários de Sir Trevor Phillips surgiram ao mesmo tempo que uma pesquisa da ICM para o Canal 4, que abrangeu cerca de 1.000 muçulmanos revelou resultados preocupantes:

- Um em cada 25 muçulmanos (quatro por cento) disse que sentiu pelo menos alguma compaixão pelas pessoas que participaram nos atentados suicidas, enquanto uma proporção semelhante disse que tinha alguma simpatia por “pessoas que cometem atos terroristas como uma forma de protesto político”;
- Um quarto – 25 por cento – disseram que poderiam entender por que raparigas da escola britânica podiam ser atraídas para se tornarem “noivas jihadistas” no exterior;
- Menos da metade (47%) concordou que os muçulmanos deveriam fazer mais para combater as causas do extremismo na comunidade muçulmana;
- 52% acreditam que a homossexualidade não deve ser legal na Grã-Bretanha, 39% concordam que “as esposas devem obedecer sempre aos seus maridos”, e 31% dizem que é aceitável que um homem tenha mais de uma esposa.

Mas a pesquisa também descobriu que uma grande maioria dos muçulmanos britânicos – 86 por cento – sentem um forte senso de pertença à Grã-Bretanha, em comparação com uma média nacional de 83 por cento, e que entre os muçulmanos, 91 por cento sentem uma forte sensação de pertença à sua área local – outra vez, uma percentagem maior do que a média nacional, de 76 por cento.

Trevor Phillips, que analisou os resultados das sondagens para o Canal 4, apelou a novas abordagens, incluindo a limitação da presença de qualquer grupo étnico em escolas num máximo de 50%. A composição étnica dos bairros de habitação social deve ser controlada para evitar que se tornem "guetos", acrescentou o ex-presidente da
Comissão da Igualdade e dos Direitos Humanos.

Em declarações ao jornal Daily Mail, Trevor Phillips salientou acusou o facto de que “nós ‘entendemos’ muito, e desafiamos muito pouco – e, ao fazê-lo, corremos o risco de sacrificar uma geração de jovens britânicos a valores que são contrários às crenças da maioria de nós, incluindo muitos muçulmanos. Na minha opinião, temos de adotar uma abordagem muito mais musculada da integração do que nunca, substituindo a política fracassada de multiculturalismo", acrescentou.

O Canal 4 alegou que a sondagem era mais “rigorosa” do que pesquisas anteriores sobre atitudes dos muçulmanos, porque as entrevistas foram realizadas pessoalmente em vez de ser telefonicamente e os entrevistados eram autorizados a segurar cartões para indicar as suas opiniões, ao invés de ter que exprimir as respostas oralmente, no caso de acharem as perguntas embaraçosas ou difíceis.
“Olhando mais de perto para estes resultados, também revela diferenças significativas em atitudes em relação à violência e ao terrorismo”, disse um porta-voz do Canal 4 ao The Telegraph.

Sociedade e Religião / Paulo Reis


sábado, 1 de junho de 2024

Antissemitismo está de volta mas os judeus não são seres humanos

 

"(...) Vários estudos têm mostrado um aumento muito alarmante de ataques ou incidentes antissemitas na Europa e nos Estados Unidos. Alguns falamde aumentos de mais de 300% apenas nas semanas que se seguiram ao 7 de outubro. Investigadores do fenómeno reconhecem que o momento é de grande preocupação, mas chamam a atenção para as confusões entre críticas legítimas ao Governo israelita e crimes de ódio. A constante simplificação do conteúdo que consumimos nas redes sociais é apontada como a principal força motriz do ódio, contra judeus ou contra qualquer outra minoria

A constante simplificação do conteúdo que consumimos nas redes sociais é apontada como a principal força motriz do ódio, contra judeus ou contra qualquer outra minoria

Só nos Estados Unidos, entre 7 de outubro de 2023 e 7 de janeiro de 2024, os ataques antissemitas subiram 360% em relação ao que tinha sido registado nos mesmo período no ano anterior. Em Londres, os ataques a judeus, edifícios ligados à prática do judaísmo ou instituições de ensino judaicas aumentaram 17 vezes (...)" 

Expresso

Ana França (27 de Maio de 2024)

PS - Este artigo está correcto, de facto, mas desactualizado. Em Portugal, já em 1988 a única revista islâmica portuguesa, a Al-Furqán, publicava um artigo afirmando que "os judeus propriamente ditos não são seres humanos." No mesmo artigo, fazia-se um rasgado elogio a Hitler: “Os judeus são inimigos de todos aqueles que não o são, e procuram fazer-lhes todo o mal possível. Talvez tenha sido por isso que Hitler quis aniquilar este maldito povo”. Como pormenor curioso, o autor do artigo era o xeque Aminuddin Mohamad, na altura conselheiro espiritual da Comunidade Islâmica de Lisboa.

 

Extremismo Religioso / Paulo Reis (c/Expresso)

Crime na Suécia - O elefante na sala


Apontada como um exemplo de integração de imigrantes e um dos países mais seguros do mundo, a Suécia transformou-se, nos últimos anos, num país que encabeça as estatísticas de crime. Em matéria de homicídios com armas de fogo, apenas é superada pela Croácia. A violação aumentou exponencialmente. Uma realidade que muito insistem ser apenas uma percepção de insegurança, não conformada pelas estísticas. Sondagens e trabalhos de investigação de jornalistas suecos trouxeram à luz do dia uma perspectiva diferente. Em matéria de crrimes sexuais, por exemplo, imigrantes de países do Médio Oriente surgem nas estatísticas com percentagens muito superiores daquelas que eram esperadas, atndendo ao facto de esses imigrantes serem uma minoria, em termos percentuais, em relação ao total da população sueca.

Em 1994, dos 314 homens detidos por violação, na Suécia, 79% nasceram na Europa, 21% nasceram fora da Europa e 50% eram estrangeiros, de acordo com a "Wikipedia". Em 2018, um programa de jornalismo investigativo da televisão sueca Uppdrag Granskning analisou o total de 843 processos judiciais dos cinco anos anteriores e descobriu que 58% de todos os condenados por violação e tentativa de estupro tinham origem estrangeira: 40% eram imigrantes nascidos no Médio Oriente e em África, com 45 jovens originais do Afeganistão a destacar-se como sendo o segundo país de nascimento mais comum dos autores de crimes sexuais, depois dos suecos.

Ao analisar apenas os casos de agressão por violação (sueco: överfallsvåldtäkt), ou seja, casos em que o perpetrador e a vítima não se conheciam anteriormente, 97 de 129 (75%) nasceram fora da Europa, com 40 por cento destes tendo estado na Suécia durante um ano ou menos.

Valores diferentes

Um  programa de investigação transmitido pelo canal de televisão SVT, adiantou que o número total de infractores, ao longo dos últimos cinco anos, foi de 843. Destes, 197 eram do Médio Oriente e do Norte de África, sendo 45 provenientes do Afeganistão e 134 da África Austral. “Deixamos muito claro no programa que uma pequena percentagem de pessoas vindas do estrangeiro são condenadas por violação”, disse o editor-chefe Ulf Johansson à BBC News.

O ex-policial Mustafa Panshiri, nascido no Afeganistão, salientou que os imigrantes afegãos trazem consigo atitudes em relação às mulheres e à sexualidade que colidem com os valores suecos relativos à igualdade. Os jornalistas de investigação da televisão sueca descobriram que, nos casos em que as vítimas não conheciam os agressores, a proporção de agressores sexuais nascidos no estrangeiro era superior a 80%. Em 2021, um estudo concluiu que dos 3.039 infractores com idades entre 15 e 60 anos condenados por violação, com mais de 18 anos de idade, no período de 2000 a 2015, 59,2% tinham origem imigrante e 47,7% nasceram fora da Suécia.

Portugueses contra imigração

Em Portugal, a maioria dos pequenos partidos defende o controlo da imigração. Os pequenos partidos que concorrem às eleições europeias defendem um maior controlo da imigração para a Europa, o combate às redes de tráfico humano e mais apoios a quem chega ao espaço da União Europeia (UE). Num debate televisivo em que a RTP juntou, recentemente, os nove partidos sem assento parlamentar, Rui Fonseca e Costa, do Ergue-te, foi a voz mais dissonante sobre o tema, considerando que "Portugal não precisa da maioria dos imigrantes extra-europeus que se encontram no país, incluindo os oriundos dos PALOP".

"Estão a ocupar os nossos empregos e as nossas casa", disse o candidato, defendendo a necessidade do país "promover a matriz cristã ocidental e apostar em políticas de natalidade e a fertilidade, para que os portugueses aumentem".

Pedro Ladeira, do Nós Cidadãos, considerou "inegável que a Europa precisa de imigrantes", e entende que devem "ser promovidas campanhas orientadas para uma imigração oriunda de países falem a mesma língua e tenham uma matriz judaico cristã.

Os muçulmanos vão tomar conta da Europa".

A Nova Direita e o ADN defenderam a importância do controlo da imigração e do combate às redes de imigração ilegal. Joana Amaral Dias, cabeça de lista do ADN, classificou as máfias da imigração, grupo no qual incluiu algumas Organizações Não Governamentais, "como lobos com pele de cordeiro", enquanto Ossanda Líber, da Nova Direita afirmou que a mensagem que está a ser passada é a de que "todos podem vir, porque não há controlo". Duarte Costa, do Volt, considerou essencial "combater a narrativa anti-imigração que prejudica as empresas, e criar soluções administrativas que respondam aos anseios dos imigrantes". Pelo RIR, a cabeça de lista Márcia Henriques, considerou que a legislação existente fosse aplicada a imigração não seria um problema em Portugal". "As regras existem, são é mal aplicadas, e o problema da imigração é a AIMA (Agência para a Integração Migrações e Asilo". O cabeça de lista do PTP, José Manuel Coelho afirmou que "o que faz afluir os imigrantes à Europa são a moeda e a qualidade de vida", acrescentando: "Isso acontece porque os países africanos são roubados pelas grandes empresas da UE e ficam pobres".

O maior número de refugiados por milhão de habitantes

Com base em 33 por cento da população (2017), 58 por cento dos suspeitos do total de crimes são migrantes. Em relação a homicídios, homicídio agravado e a tentativa de homicídio, os números são de 73 por cento, enquanto a proporção de roubos é de 70 por cento. As pessoas nascidas na Síria constituíam o maior grupo da população estrangeira da Suécia em 2023. Quase 200.000 pessoas nascidas na Síria viviam na Suécia em 2023. Os iraquianos constituíam o segundo maior grupo de cidadãos nascidos no estrangeiro, seguidos pelo país vizinho da Suécia, a Finlândia .

A categoria de crime mais comum entre os crimes ligados a um suspeito em 2023 foram os crimes contra as pessoas, que constituíram 26 por cento do total. Outros crimes comuns foram a Lei dos Crimes contra os Estupefacientes (20%), Furtos e Roubos (10%) e a Lei dos Crimes contra as Infracções de Trânsito Rodoviário (9%). A categoria de crime mais comum entre os crimes processados ligados a um suspeito em 2023 foram os crimes contra as pessoas, que constituíram 26 por cento do total.

A Suécia tem a maior percentagem de imigração de refugiados por milhão de habitantes na Europa. O número de requerentes de asilo que chegam à Suécia aumentou a partir de 2014. Um total de 81.300 solicitaram asilo em 2014, o que representou um aumento de 50% em comparação com 2013. A Alemanha relatou o maior número total de imigrantes (2,1 milhões) em 2022, seguida pela Espanha (1,3 milhões), França (0,4 milhões) e Itália (0,4 milhões). Estocolmo é a maior cidade e também a capital da Suécia. Acontece que é também o maior aglomerado de imigrantes na Suécia, contendo cerca de 63 por cento do total de imigrantes no país.

Mesmo os que se auto-classificam como pertencentes à esquerda do espectro político, 1/3 apoia a suspensão da imigração. De acordo com uma sondagem Yougov em 2018, a maioria dos habitantes de sete países europeus inquiridos opôs-se a aceitar mais migrantes: Alemanha (72%), Dinamarca (65%), Finlândia (64%), Suécia (60%), Reino Unido (58% ), França (58%) e Noruega (52%).

“Campeões” da taxa de homicídios

Em 2021, descobriu-se que a Suécia tinha a segunda maior taxa de homicídios com armas de fogo (depois da Croácia) entre os 22 países europeus pesquisados. A taxa de mortalidade por crimes com armas de fogo na Suécia é agora a mais alta da União Europeia. Cerca de 62 mil pessoas estão ligadas a redes criminosas no país, diz a polícia. A maior parte da violência é resultado de guerras de gangues, com cada vez mais grupos competindo por território e pelo lucrativo comércio de narcóticos.

As pessoas nascidas na Síria constituíam o maior grupo da população estrangeira da Suécia em 2023. Quase 200.000 pessoas provenientes da Síria viviam na Suécia em 2023. Os iraquianos constituíam o segundo maior grupo de cidadãos nascidos no estrangeiro, seguidos pelo país vizinho da Suécia, a Finlândia.

A maior parte do aumento está relacionada com a violência de gangues em áreas vulneráveis na Suécia, que são áreas com taxas de criminalidade mais elevadas, baixos rendimentos e educação, e uma grande população imigrante. Um total de 85 por cento da população da Suécia (com idades compreendidas entre os 16 e os 84 anos) acredita que o número de crimes na Suécia aumentou nos últimos três anos. Este é um aumento verificado desde 2022, quando a proporção era de 80 por cento. Foi possível observar uma diminuição entre 2007 e 2014, mas com algumas variações anuais.

A guerra mortal de gangues na Suécia

Num parque de estacionamento num subúrbio da Suécia, Adam revela quanto dinheiro pode ser ganho disparando sobre alguém, numa entrevista à Sky News. “Se você disparar para a perna de alguém, receberá 50 mil coroas (3.700 libras)”, diz ele. "Antes, se você fosse matar alguém, ganhava um milhão de coroas (76 mil libras) - mas agora os preços são tão baixos que toda a gente mata." Um jovem com pouco mais de 20 anos, Adam faz parte de uma gangue desde os nove anos.

Cobre o rosto para proteger a sua identidade - deixando apenas os olhos à mostra - e dá respostas concisas às perguntas que lhe fazem. “Não estou preocupado com a minha própria segurança, porque eliminei quase toda a gente”, afirma. Admite que cometeu uma série de crimes e esteve na prisão várias vezes.

“Já vi muita merda acontecer”, diz Adam, residente na cidade de Uppsala. "Já vi pessoas a levarem tiros. Já vi pessoas morrerem, pessoas que foram feridas, mães a chorar, desesperadas. Já vi quase tudo, mas não há nada que se possa fazer a respeito disso." Adam faz parte de uma onda de violência de gangues que chocou a sociedade sueca e transformou o país com reputação de nação segura e pacífica num foco de homicídios.

Dois “coelhos” para um “trabalho”

A taxa de mortalidade por crimes com armas de fogo na Suécia é agora a mais alta da União Europeia. Cerca de 62 mil pessoas estão ligadas a redes criminosas no país, diz a polícia. A maior parte da violência resulta da guerra de gangues, com cada vez mais grupos a competirem por território e pelo lucrativo comércio de narcóticos. Para gangsters como Adam, isto representa uma oportunidade de negócio. Estima que ganhou dois “coelhos” (gíria para um milhão de coroas suecas) por aceitar determinados trabalhos. Isso equivale a cerca de 150.000 libras – mas essas recompensas financeiras trazem riscos.

Uma semana antes, diz, um gangue rival veio atrás dele, mas os supostos assassinos não foram muito longe. “Os outros rapazes estavam lá e apanharam-nos”, diz Adam. "Eu sei quem está por trás disso, mas eles acabaram. Eles não estão mais aqui.” Adam resignou-se a uma vida de crime, refere a reportagem da Sky News. Os laços que forjou com os seus companheiros de gangue são demasiado fortes. “Eu, pessoalmente, nunca irei embora”, diz. “Não me vejo a fazer parte de um gangue, vejo como se estivesse numa família.”

Uma resposta mais dura.

“Pela quantia certa de dinheiro eles estão dispostos a arriscar uma sentença de prisão perpétua”, diz Adam. O governo de centro-direita da Suécia anunciou recentemente a primeira estratégia nacional do país para combater o crime organizado – uma série de propostas destinadas a esmagar os gangues. Já está a ser discutida uma legislação que permitirá a prisão de adolescentes a partir dos 15 anos.

Em 2022, quase metade dos suspeitos de homicídios relacionados com armas de fogo tinham entre 15 e 20 anos. “As pessoas aqui não se importam com a punição. Pela quantia certa de dinheiro, estão dispostas a arriscar uma sentença de prisão perpétua”, diz. Adam dá de ombros antes de ir embora. A avaliação sombria do jovem é apoiada pelas estatísticas. Em 2021, 363 tiroteios registados causaram 53 mortes em toda a Suécia, segundo a polícia. Em 2022, a taxa de homicídios com armas de fogo em Estocolmo era cerca de 25 vezes maior do que em Londres. Os gangues suecos querem matar – e não lhes faltam armas.

 Emigração e Crime / Paulo Reis

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