domingo, 26 de maio de 2024

"Espera por mim lá fora, se fores homem..."

  

O PASSAR DO TEMPO (CRÓNICA) - PAULO REIS

Andaram mosquitos por cordas, depois da polémica afirmação de André Ventura sobre a escassa vontade de trabalhar dos turcos. A esquerda indignou-se e o presidente da Assembleia da República deitou gasolina na fogueira, ao colocar como hipótese um sistema mais restritivo, para refrear os ímpetos dos deputados. Ao assistir a toda esta agitação, lembrei-me de imagens passadas na televisão, sobre os trabalhos parlamentares em Taiwan, já lá vão alguns anos.

A propósito da aprovação de uma lei que dividia profundamente os deputados, vai daí  chegaram a vias de facto. Durante mais de dez minutos, o parlamento de Taiwan transformou-se num ringue de boxe, onde valia tudo, perante a impotência do seu presidente.

Ainda não chegámos lá, mas a esperança mantém-se. A continuarem as repetidas provocações de André Ventura, mais dia menos dia haverá um deputado de cabeça mais quente que lhe irá pedir satisfações, arriscando-se a importar práticas do parlamento de Taiwan.

A alteração do Regulamento da Assembleia da República, tal como se tem vindo a propor, é uma mordaça colocada não numa assembleia de representantes do povo português, mas num grupo de rapazinhos mal-comportados que precisa de quem tome contra deles e lhes puxe as orelhas, quando ultrapassam os limites do que é considerado politicamente correcto.

Retirar a palavra a um deputado, porque Aguiar Branco entende que eles ultrapassaram determinados limites, é um instrumento de controle e diminuição dos direitos dos parlamentares.

Na ressaca deste episódio, não faltaram as posições dos extremistas de esquerda, para quem os direitos fundamentais só funcionam num sentido. Tudo o que for crítico ou verbalmente violento, em contradição com os seus princípios políticos, merece castigo e punição.

A única hipótese de resolver este imbróglio é, realmente, estabelecer novas regras no Regulamento da Assembleia da República. Por exemplo, incluir nesse documento o direito à chapada – não no parlamento, mas nos chamados passos perdidos, os corredores da Assembleia. Passar a permitir que os deputados se desafiem, à boa maneira dos adolescentes nas escolas, propondo um ajuste de contas no exterior da escola. Tipo “se és homem, espera por mim lá fora”. Na modorra das sessões parlamentares, era uma boa oportunidade para os jornalistas se divertirem. E como cereja no cimo do bolo, escolhia-se a personalidade mais óbvia, para servir de árbitro: o presidente da Assembleia da República, Aguiar Branco.

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