PAULO REIS
A extrema-direita europeia entrou em ebulição com as declarações de um membro de AfD (Alternativa para a Alemanha) Maximilian Krah, depois de este político ter declarado, em entrevista aos jornais La Repubblica e Financial Times. Krah afirmou que nem todos os membros das Waffen SS nazis (também conhecidas como 'Schutzstaffel', 'Esquadrão de Protecção') "eram automaticamente criminosos".
De acordo com a Reuters, o grupo de extrema-direita Identidade e Democracia (ID) do Parlamento Europeu expulsou a delegação da Alternativa para a Alemanha (AfD) no dia 23 de Maio, menos de um mês antes das eleições para ao Parlamento Europeu.
"O Grupo ID não quer mais ser associado aos incidentes envolvendo Maximilian Krah, chefe da lista da AfD para as eleições europeias", disse o grupo ID em um comunicado.
Na entrevista aos dois jornais, questionado sobre se considerava aquele corpo de tropas especiais nazis como "criminosos", Maximilian Krah respondeu: "Depende. Você tem que avaliar a culpa individualmente. No final da guerra havia quase um milhão de SS. Günter Grass também esteve nas Waffen SS", afirmou Maximilian Krah, referindo-se ao conhecido escritor alemão.
As definições e a informação sobre o que eram as Waffen SS foram mínimas e desfazadas da realidade, na quase totalidade dos órgãos de Comunicação Social.
A Reuters limita-se a três ou quatro linhas, adiantando que "as SS, ou Schutzstaffel, foram um grupo paramilitar nazista ativo na década de 1930 e 1940. Entre outros crimes contra a humanidade, os membros das SS desempenharam um papel de liderança no Holocausto, o genocídio de seis milhões de judeus e outros durante a Segunda Guerra Mundial", adianta a agência noticiosa.
Outras publicações limitaram-se a destacar o facto de que as Waffen SS desempenharem o papel de guardas dos campos de concentração – o que é verdade, mas representa apenas uma pequena minoria dos seus efectivos.
As Waffen SS foram fundadas em 1925 e desempenharam, inicialmente, o papel de guardas de segurança dos principais dirigentes do partido nazi – daí a designação, também utilizada, de "Schutzstaffel", "Esquadrão de Protecção". Enquanto as tropas regulares do exército alemão juravam lealdade ao Fuhrer, as Waffen SS tinham direito a um juramento diferente, especial: "Juro-lhe, Adolf Hitler, como Führer e Chanceler do Reich Alemão, lealdade e coragem. Juro-lhe e a todos os líderes que forem escolhidos para mim, uma total obediência até à morte – assim Deus me ajude".
O seu "motto" era "A minha honra chama-se lealdade". De acordo com a Wikileaks, as Waffen SS começaram por ser um grupo ("Saal-Schutz") composto por voluntários que forneciam segurança às reuniões do partido nazi em Munique, nos primórdios do desenvolvimento do partido nazi. Heinrich Himmler, que viria a ser um dos mais poderosos líderes nazis, filiou-se no grupo em 1925.
Foi sob a sua direcção que essa pequena formação paramilitar se transformou numa poderosa máquina de guerra, incluindo um total de 39 divisões (cerca de 900 mil soldados) entre 1929 e 1945. Para além das suas funções como unidade de vigilância e protecção do regime nazi, as Waffen SS, com o início da II Guerra Mundial, transformaram-se num exército, cujas unidades eram sujeitas a um treino especial e que se distinguiam da Wehrmacht, o exército regular alemão, pelos seus uniformes negros.
As divisões das Waffen SS eram utilizadas como tropa de choque, combatendo muitas vezes nas piores zonas da frente. Em 1929 Heinrich Himmler foi promovido a comandante-geral das Schutzstaffel e foi o principal responsável pela criação do que viriam a ser as temidas Waffen SS.
Uma das exigências colocadas aos novos recrutas era a obrigatoriedade de provar que não tinham sangue judaico, até á terceira geração de ascendentes.
Em 1939, no início da guerra, as Schutzstaffel transformaram-se nas Waffen SS, sempre sob o comando de Heinrich Himmler. Nessa altura, já tinham um total de efectivos que rondava os 250 mil homens. Uma das principais estratégias de Himmler, à medida que a guerra se desenrolava, sobretudo para países do Leste europeu, foi alterar as regras de recrutamento das divisões das Waffen SS, passando a incluir outras raças, para além dos "alemães puros".
As diferenças de recrutamento eram salientadas pela própria designação das unidades. Uma "Divisão SS" era composta, quse na totalidade, apenas por alemães. Outras unidades, cujos efectivos incluíam elementos de outras nacionalidades, eram designadas por "Divisão das SS" – uma pequena mas substancial diferença.
Ao longo da guerra, estas tropas de choque vestidas de negro foram os mais temíveis adversários das forças aliadas e dos soviéticos, para além de serem conhecidos pela sua ferocidade e pelo facto de serem implacáveis, na liquidação dos chamados "Untermenschen", os "Sub-humanos", com os judeus como alvo principal.
Mas a nova estratégia de recrutamento de Himmler produziu resultados. Aproveitando-se sobretudo de rivalidades étnicas e de conflitos políticos, as Waffen SS conseguiram até recrutar soldados ingleses, voluntários escolhidos nos campos de concentração. No caso dos ingleses, não passaram de algumas dezenas, que foram capturados na Frente Leste. Os russos entregaram-nos às forças aliadas e os ingleses, rápida e discretamente, trataram de os enforcar. Curiosamente, as últimas unidades militares que resistiram ao avanço das tropas russas, em Berlin, eram elementos da Divisão Charlemagne, constituída por franceses – cerca de 20 mil – recrutados em 1944.
À medida que a guerra começava a correr mal para os alemães, Heinrich Himmler decidiu "suavizar" ainda mais os critérios de recrutamento, para o que viriam a ser as 39 divisões das Waffen SS. Algumas delas, compostas por não-alemães, deixaram memória de atrocidades e massacres indiscritíveis. Dois desses exemplos são a Galizische Nr.1, composta por ucranianos e a Kama Kroatische Nr. 2, integrada por croatas e bósnios. A 29ª divisão das Waffen SS, por exemplo, era composta por russos, a maioria recrutados entre prisioneiros de guerra. Numa lista das 39 divisões das Waffen SS (entre 18 a 20 mil homens), encontra-se uma amostra de dezenas de países europeus: holandeses, romenos, croatas, cossacos, estónios, húngaros, italianos, bielorussos, etc.
Por todo o lado onde passaram, as divisões das Waffen SS deixaram um rasto de sangue e mortos. Aquela que é considerada a pior de todas – a SS Sturmbrigade Dirlewanger - era comandada Oskar Dirlewanger. Esteve envolvida em inúmeras atrocidades cometidas na Frente Oriental, foi responsável pela liquidação de cerca de 120 mil bielorussos e destruiu mais de duas centenas de aldeias e vilas, naquele país.
As forças de Dirlewanger esmagaram completamente a chamada "Revolta de Varsóvia", quando os polacos pegaram em armas e tentaram livrar-se do jugo nazi, confiantes de que as tropas russas, a escassas dezenas de quilómetros da cidade, viriam em seu auxílio. Não foram.
No final da guerra, calcula-se que tenham passado pelas fileiras das Waffen SS cerca de um milhão de soldados. Durante os julgamentos de Nuremberga, as Waffen SS foram classificadas como "organização nazi" e os seus membros sistematicamente condenados. O facto de todos os elementos das Waffen SS terem o seu grupo sanguínio tatuado no sovaco direito tornou difícil escaparem à justiça.
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