Conheci o T. numa noite de copos, no Bairro Alto. Era polícia à paisana, dedicado essencialmente ao combate ao tráfico de droga. Na mesa estava também um colega jornalista, que trabalhava na área do crime. Fiz-lhe algumas perguntas, curioso sobre o tema e trocámos telefones, para outra noite de copos.
Liguei-lhe uma semana antes de ir fazer um passeio pela rua do Bemformoso, para “cheirar” o que lá passava – e que seria interessante, pelas notícias e reportagens que ia lendo e vendo em diversos órgãos de Comunicação Social.
Pedi-lhe um retrato de como é que funcionavam as coisas, por ali. E era simples: indianos e paquistaneses dedicados ao tráfico de mão-de-obra e guineenses a controlar a venda de droga – essencialmente “crack”, o parente pobre da heroína. Barato – uma “pedra”, mais conhecida por “pipoca”, para consumo de uma pessoa, custa apenas 5 euros. Tem um efeito rápido, é extremamente viciante, mas o tempo de "pedrada" é curto.
Numa terça-feira pus-me a caminho. Cheguei pouco antes da hora do almoço e, para fazer “contacto”, logo no princípio da rua do Bemformoso, perguntei a um indiano com aspecto de “junkie”, se conhecia algum bom restaurante.
Embora fosse na direcção oposta à minha, fez questão de inverter caminho e levar-me ao restaurante. No trajecto, perguntou-me o nome e respondeu com o seu nome, também: Dierk, pareceu-me ouvir. Duzentos metros acima do início da rua indicou-me o “Taste of Lahore”. Foi comigo até à porta, obviamente para que o patrão percebesse que ele é que tinha angariado o cliente. Antes de nos despedirmos, pediu-me uma ajuda, perguntando se eu tinha algumas moedas. Vivia em Portugal há dois anos, mas estava sem trabalho, nem tinha dinheiro para pagar uma cama. Dei-lhe cinco euros, o que ele agradeceu efusivamente.
O restaurante de Lahore que não era de Lahore
No restaurante, veio o patrão falar comigo. Quando olhei para o menu, disse-lhe que aquilo eram pratos indianos. Ora, Lahore é uma cidade paquistanesa. Riu-se e não me soube dar qualquer explicação. Percebi que havia uma coisa fora da ementa: cerveja, que era algo que cairia bem no calor insuportável que se fazia sentir. “No beer, sir” - uma frase que ouvi repetida 30 ou 40 vezes, em tantos mini-mercados e restaurantes onde fui, durante dois dias. Depois reparei que, em todos os sítios onde se comia ou se faziam compras, como os mini-mercados, havia sempre a palavra “Halal” - “permitido, autorizado”, coisa que não acontecia com o álcool, “Haram”, proibido, fora da lei islâmica.
(Continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário