terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Outras caracteríticas do jovem Vitório, secretário do secretário de Estado das Comunidades

As ideias do putativo nomeado eram conhecidas. Estão, aliás, na blogosfera. Exemplos? Para Vitório, Aristides Sousa Mendes, o cônsul que “alegadamente ajudou a salvar vidas judias durante a II Guerra Mundial, pôs em risco a vida de todos os portugueses”. O 25 de Abril de 1974 foi, “em Macau, um dia de luto, pois significou a derrota de Civilização pelo Comunismo”. Vitório chegara mesmo a indignar-se com a detenção de elementos de organizações fascistas e neonazis em Portugal, em 2007, para ele “reflexo da formatação cultural dada pelo ensino de esquerda”. O português nascido em Macau acredita na trilogia “Deus, Pátria e Família”, sente-se repugnado pelos “valores libertinos e perversos da revolução francesa e de laivos marxistas”. Era frequente lê-lo a terçar armas contra o “Terrorismo Anarco-Piolhoso e Extrema-Esquerdista com cobertura Socialista” e os “capitães abrilinos”. “Conservador-reformista e tradicionalista”, acredita que, no PSD, as novas gerações irão “limpar o Partido e por Deus, por Portugal e pelo Povo e Famílias Portuguesas”, rezando e governando “a bem da Nação”. Um dia, Daniel Oliveira, no Blasfémias, deu-lhe troco: “Julguei que estava a ver a RTP Memória mas ainda antes de haver RTP. Você toma banho em formol?”, questionou.

Vitório fechou, entretanto, o seu blogue Portas do Cerco e atribuiu alguns comentários a um “clone” com intenção de denegrir e difamar. Poucos acreditaram. No livro Crónicas Portuguesas, editado em 2009 em Coruche, Vitório elogiara, de resto, o fascismo espanhol de Franco e considerara a instauração da ditadura militar em Portugal o momento em que o País “pôde encontrar estabilidade e sobretudo paz em tempo de guerras generalizadas”. Sobre a PIDE, é taxativo: “Teve um papel fundamental para combater os atos subversivos da oposição política”, em defesa da “unidade, liberdade e soberania nacionais”. O mal estava feito. Dito e escrito.

“O Vitório é simpático e prestável, mas é um fura-bolos, incapaz de vender um salpicão. A uns dá-lhes para Napoleão, a outros para a extrema-direita”, ironiza José Rocha Dinis, diretor do Tribuna, que confirma ter sofrido pressões para mudar a opinião sobre a eventual nomeação de Vitório e abordado o caso com o secretário de Estado das Comunidades.

Afinal, quem se teria lembrado de Vitório para um cargo onde os representantes de vários países têm estatuto de embaixadores? Segundo Nuno Lima Bastos, ex-dirigente do PSD/Macau, “a ideia só pode ter partido do José Cesário, que sempre gostou de ter pajens à volta”. Reduzir os objetivos do PSD/Macau “aos interesses particulares do deputado José Cesário é pouco, muito pouco”, indignara-se, já em 2011, nas páginas do Hoje Macau, o social-democrata politólogo Arnaldo Gonçalves. Desde que tomou posse, o secretário de Estado já se deslocou cinco vezes a Macau, contando com a última, esta semana, para o 10 de junho. Segundo as fontes da VISÃO em Macau, Cesário terá sido confrontado por responsáveis da imprensa portuguesa com o escândalo da possível escolha de Vitório para o Fórum Macau. “É apenas uma hipótese”, terá admitido, sob pressão, atribuindo as investidas a Rita Santos, “que pede muito”. A própria não respondeu aos emails da VISÃO. Cesário desmente interferências no processo.

Epílogo: o nome de Vitório cairia. O MNE, então ainda liderado por Portas, lavou as suas mãos. Vítor Sereno, diplomata de carreira, cônsul-geral de Macau e ex-chefe de gabinete de Miguel Relvas, ocupa hoje o lugar que, por semanas, “foi” de Vitório. A notícia da LUSA, essa, nunca foi desmentida.

Vitório recebeu um extenso questionário da VISÃO destinado a esclarecer matérias constantes deste artigo, entre as quais algumas ligadas ao percurso profissional extra CPLP e a eventuais diligências relacionadas com negócios destinados à atribuição de vistos dourados a chineses. “Não alimento a curiosidade jornalística nem especulações sobre a minha pessoa ou atividades”, reagiu, ao telemóvel. “Sou um orgulhoso cidadão português nascido em Macau e em tudo o que faço defendo a minha Pátria”.

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