
As ideias do putativo nomeado eram conhecidas. Estão, aliás, na blogosfera. Exemplos? Para Vitório, Aristides Sousa Mendes, o cônsul que “alegadamente ajudou a salvar vidas judias durante a II Guerra Mundial, pôs em risco a vida de todos os portugueses”. O 25 de Abril de 1974 foi, “em Macau, um dia de luto, pois significou a derrota de Civilização pelo Comunismo”. Vitório chegara mesmo a indignar-se com a detenção de elementos de organizações fascistas e neonazis em Portugal, em 2007, para ele “reflexo da formatação cultural dada pelo ensino de esquerda”. O português nascido em Macau acredita na trilogia “Deus, Pátria e Família”, sente-se repugnado pelos “valores libertinos e perversos da revolução francesa e de laivos marxistas”. Era frequente lê-lo a terçar armas contra o “Terrorismo Anarco-Piolhoso e Extrema-Esquerdista com cobertura Socialista” e os “capitães abrilinos”. “Conservador-reformista e tradicionalista”, acredita que, no PSD, as novas gerações irão “limpar o Partido e por Deus, por Portugal e pelo Povo e Famílias Portuguesas”, rezando e governando “a bem da Nação”. Um dia, Daniel Oliveira, no Blasfémias, deu-lhe troco: “Julguei que estava a ver a RTP Memória mas ainda antes de haver RTP. Você toma banho em formol?”, questionou.
Vitório fechou, entretanto, o seu blogue Portas do Cerco e atribuiu alguns comentários a um “clone” com intenção de denegrir e difamar. Poucos acreditaram. No livro Crónicas Portuguesas, editado em 2009 em Coruche, Vitório elogiara, de resto, o fascismo espanhol de Franco e considerara a instauração da ditadura militar em Portugal o momento em que o País “pôde encontrar estabilidade e sobretudo paz em tempo de guerras generalizadas”. Sobre a PIDE, é taxativo: “Teve um papel fundamental para combater os atos subversivos da oposição política”, em defesa da “unidade, liberdade e soberania nacionais”. O mal estava feito. Dito e escrito.
“O Vitório é simpático e prestável, mas é um fura-bolos, incapaz de vender um salpicão. A uns dá-lhes para Napoleão, a outros para a extrema-direita”, ironiza José Rocha Dinis, diretor do Tribuna, que confirma ter sofrido pressões para mudar a opinião sobre a eventual nomeação de Vitório e abordado o caso com o secretário de Estado das Comunidades.
Afinal, quem se teria lembrado de Vitório para um cargo onde os representantes de vários países têm estatuto de embaixadores? Segundo Nuno Lima Bastos, ex-dirigente do PSD/Macau, “a ideia só pode ter partido do José Cesário, que sempre gostou de ter pajens à volta”. Reduzir os objetivos do PSD/Macau “aos interesses particulares do deputado José Cesário é pouco, muito pouco”, indignara-se, já em 2011, nas páginas do Hoje Macau, o social-democrata politólogo Arnaldo Gonçalves. Desde que tomou posse, o secretário de Estado já se deslocou cinco vezes a Macau, contando com a última, esta semana, para o 10 de junho. Segundo as fontes da VISÃO em Macau, Cesário terá sido confrontado por responsáveis da imprensa portuguesa com o escândalo da possível escolha de Vitório para o Fórum Macau. “É apenas uma hipótese”, terá admitido, sob pressão, atribuindo as investidas a Rita Santos, “que pede muito”. A própria não respondeu aos emails da VISÃO. Cesário desmente interferências no processo.
Epílogo: o nome de Vitório cairia. O MNE, então ainda liderado por Portas, lavou as suas mãos. Vítor Sereno, diplomata de carreira, cônsul-geral de Macau e ex-chefe de gabinete de Miguel Relvas, ocupa hoje o lugar que, por semanas, “foi” de Vitório. A notícia da LUSA, essa, nunca foi desmentida.
Vitório recebeu um extenso questionário da VISÃO destinado a esclarecer matérias constantes deste artigo, entre as quais algumas ligadas ao percurso profissional extra CPLP e a eventuais diligências relacionadas com negócios destinados à atribuição de vistos dourados a chineses. “Não alimento a curiosidade jornalística nem especulações sobre a minha pessoa ou atividades”, reagiu, ao telemóvel. “Sou um orgulhoso cidadão português nascido em Macau e em tudo o que faço defendo a minha Pátria”.
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