domingo, 17 de novembro de 2024

Jornalistas mentecaptos

 

Li e ouvi algumas dezenas de notícias, publicadas por jornais ou emitidas por jornais, rádios e televisões, a propósito da morte do Pedro Guerra. Na quase totalidade dessas notícias não vi uma referência ao facto de o Pedro Guerra ter sido jornalista, um bom jornalista e durante muitos anos. A maior parte desses idiotas encartados que pululam pelas redacções fora não tem memória que ultrapasse os últimos 15 dias da sua vida.
É verdade que o Pedro Guerra começou a trabalhar no arquivo d'O Indepente. Mas saíu daí para a redacção do jornal, pouco depois, porque alguém lhe viu capacidade e talento para ser jornalista.
Nunca foi jornalista desportivo, sempre trabalhou na área política. Quando o jornal fechou, dedicou-se à difícil tarefa de comentador desportivo na televisão.

Não sei quanto tempo ele trabalhou como jornalista n'O Independente. Sei que, quando fui para lá, um 1987, ele já lá estava. E quando saí (sete ou oito anos depois) ainda lá ficou. Foi um jornalista único, tanto pela sua capacidade profissional como pelo seu fantástico sentido de humor, a sua camaradagem por todos nós e uma espantosa capacidade de fazer títulos - o "tijoleiro", termo aplicado há mais de 40 anos, nas velhas redacções do Bairro Alto e dos jornais vespertinos.

Nessas redacções havia sempre um jornalista especializado apenas em fazer títulos - daí a passar à classificação de "tituleiro" foi um àpice e a transformação da designação acabou por dar em "tijoleiro", uma brincadeira que se enraizou. Mas isto era no tempo em que os políticos falavam, parafraseando La Fontaine e os jornalistas liam livros. Parabéns, ó mentecaptos, pela vossa incapacidade em fazer uma notícia decente, sobre um evento triste mas simples. 

Pelo menos naveguem um bocadinho na Internet, sem ser para ver páginas de pornografia, e tentem encontrar lá informações correctas e quilibradas sobre o nosso camarada Pedro Guerra - sim camarada, porque como se dizia em 1981, qundo comecei como estagiário no semanário "Tempo" (já lá vão 36 anos de jornalista, com uma interrupção de sete anos) uma das primeiras lições que um jornalista mais velho me deu foi sobre a designção correcta que devíamos utilizar, nas nossas conversas: "Quando falas com outros jornalistas, dizes 'camaradas'. Colegas são as 'pu**s" - lição que me foi dada pelo meu camarada João Isidro, já falecido.

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