Seis professores da Escola Portuguesa de Macau (EPM), residentes de Macau, cinco dos quais ao abrigo da Licença Especial para Macau, foram informados pelo Diretor da Escola Portuguesa de Macau, Acácio de Brito, a 27 e 28 de maio último, que não lhes renovaria o contrato para lecionarem na EPM no próximo ano letivo, justificando a medida com uma “reestruturação da EPM” ou por “opção gestionária”, de acordo com uma fonte fidedigna, contactada pela Gazeta Digital.
No mesmo dia, a 27 de maio, o Diretor da Escola Portuguesa de Macau informou diretamente as escolas desses docentes em Portugal de que não iria “promover o procedimento tendente a que seja concedida autorização especial para o ano letivo de 2024/25”, para trabalharem em Macau. Os professores tomaram conhecimento deste procedimento apenas através de contatos das suas próprias escolas em Portugal, com as quais têm vínculo, de acordo com a mesma fonte.
De salientar que "a EPM contratou 10 professores na altura em que não tinham candidatos em Macau. Mas quando os 10 novos professores vierem para Macau, vão despachar professores experientes, alguns com mais de 33 anos de serviço em Macau, faltando-lhes apenas 3 a 4 anos para a aposentação", refere a fonte que falou à Gazeta Digital.
No entanto, “a falta de professores em
Portugal levou o ministério da Educação a informar a Escola
Portuguesa que não há docentes disponíveis para substituir futuros dispensados” de acordo com o jornal Hoje
Macau.
Segundo o mesmo jornal, “nas últimas semanas foram solicitados esclarecimentos ao director da Escola Portuguesa de Macau. Depois dos esclarecimentos enviados ao ministro da Educação, Ciência e Inovação de Portugal (MECI) pelo director da Escola Portuguesa de Macau, foram pedidos novos esclarecimentos ao conselho de administração”.
“Entretanto, dada a falta de professores em Portugal, o MECI já deu indicações que não vão ser disponibilizados professores para substituir os docentes que a direcção da escola vier a dispensar”, acrescenta o jornal.
Rita Santos, a presidente do conselho regional da Ásia e da Oceânia das Comunidades Portuguesas, comentou a questão, considerando "desumana a atitude" da direção de comunicar o fim do elo profissional "apenas a 27 de maio", ou seja, a poucos meses do início do novo ano letivo.
"Os conselheiros estão ao lado dos professores despedidos e tudo farão ao seu alcance para repor a justiça e continuar o seu trabalho na Escola Portuguesa de Macau em prol do desenvolvimento educativo" de Macau, escreveu, em comunicado divulgado nas redes sociais, Rita Santos.
De salientar que O Governo português pediu uma auditoria às contas das escolas portuguesas no estrangeiro como "forma de esclarecer a gestão financeira e administrativa" disse o ministro da Educação em Luanda, de acordo com a agência Lusa, citada pelo Diário de Notícias (DN).
Os professores dispensados tratam-se de "docentes e de uma psicóloga com excelentes habilitações, dois com doutoramento na área da Educação e da Literatura, quatro com mestrado em áreas diretamente ligadas às atividades que exercem (Educação, Mestrado em Língua e Cultura Portuguesas – variante de Estudos Literários, Estudos Portugueses Multidisciplinares e Psicologia Educacional), três com pós-graduações também estreitamente relacionadas com o currículo da EPM e o trabalho que aí desempenham (Estudos Luso-Asiáticos – variante de Literatura, Filosofia para Crianças e Educação Especial)", salientou a fonte contactada pela Gazeta Digital.
São professores que "acumularam um conhecimento aprofundado dos alunos de Macau, nas suas especificidades de bilinguismo chinês-português (uma situação que levanta desafios pedagógicos muito específicos) – alguns há já várias décadas – não só através do ensino de várias disciplinas como também por via do trabalho na área do acompanhamento psicológico e no apoio aos alunos inclusivos (muitos deles de língua materna chinesa)" disse a fonte à Gazeta Digital.
O presidente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau, Jorge Neto Valente, em declarações à TDM, reagiu à polémica sobre a dispensa dos professores, um deles com 33 anos de docência em Macau, afirmando que "não haverá alterações às decisões que afirmou terem sido tomadas pelo director da escola, Acácio de Brito."
Os referidos professores "possuem um aprofundado conhecimento do meio em que vivem e uma valiosa experiência no ensino e no acompanhamento de alunos falantes de chinês, quer na Escola Portuguesa, quer noutras escolas de Macau onde lecionaram ao longo dos anos, o que agiliza e aumenta a eficácia das suas atividades", tendo o seu serviço sido, sempre, "classificado como Excelente", salienta a fonte.
Como reacção a esta situação, foi posto a correr um abaixo-assinado, na forma de petição pública, que já foi subscrito por 1.011 pessoas.
A forma como esses docentes têm desenvolvido o seu trabalho "tem provado ser uma mais-valia para a comunidade em que estão inseridos, já que o têm partilhado com outras instituições da RAEM - a Direção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, instituições escolares do ensino básico e instituições universitárias – quer através da organização de momentos de formação, quer através de publicações diversas", acrescentou a mesma fonte à Gazeta Digital.
"Este contributo tão significativo – acumulado ao longo de tantos anos – tem-se revelado de grande valor para a Escola Portuguesa, em particular, e para a comunidade de Macau que a procura cada vez mais, em geral. Não pode – e nem deve – portanto, ser alienado, sob pena de representar um prejuízo para a nossa comunidade – quer falantes de português quer falantes de chinês – que tanto procuram o ensino em língua portuguesa" considera a fonte com que a Gazeta Digital contactou.
Neto Valente, presidente da Fundação Escola Portuguesa de Macau, acusou a anterior direcção da EPM liderada por Manuel Machado - que esteve à frente da instituição durante dez anos, até finais de 2023 - de não ter a confiança da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ). “Anteriormente, eu diria, que a Direcção dos Serviços teria perdido a confiança na escola, na direcção da escola, pela maneira como as coisas estavam a acontecer”, acusou. “Eu diria que estamos a reconstruir, e já se reconstruiu, um clima de abertura, transparência e de confiança, derivado das boas relações e bons contactos que existem [com DSEDJ]”, complementou.
Em relação à dispensa de docentes, é de salientar ainda que, "dos seis profissionais residentes de Macau, cinco são residentes permanentes e uma é residente não permanente. Todos têm as suas vidas organizadas em Macau, havendo até quem tenha adquirido habitação no território", revelou a mesma fonte.
A comunidade docente do território encara este processo de forma bastante apreensiva, esperando que "não seja uma instituição portuguesa a criar o precedente de contratar novos professores para substituir profissionais qualificados, que já são residentes permanentes de Macau." concluiu a fonte.
Sociedade / Paulo Reis