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quinta-feira, 30 de maio de 2024

Rua do Benformoso: Nem formosa, nem segura


PAULO REIS

Conheci o T. numa noite de copos, no Bairro Alto. Era polícia à paisana, dedicado essencialmente ao combate ao tráfico de droga. Na mesa estava também um colega jornalista, que trabalhava na área do crime. Fiz-lhe algumas perguntas, curioso sobre o tema e trocámos telefones, para outra noite de copos.

Liguei-lhe uma semana antes de ir fazer um passeio pela rua do Bemformoso, para “cheirar” o que lá passava – e que seria interessante, pelas notícias e reportagens que ia lendo e vendo em diversos órgãos de Comunicação Social.

Pedi-lhe um retrato de como é que funcionavam as coisas, por ali. E era simples: indianos e paquistaneses dedicados ao tráfico de mão-de-obra e guineenses a controlar a venda de droga – essencialmente “crack”, o parente pobre da heroína. Barato – uma “pedra”, mais conhecida por “pipoca”, para consumo de uma pessoa, custa apenas 5 euros. Tem um efeito rápido, é extremamente viciante, mas o tempo de "pedrada" é curto.

Numa terça-feira pus-me a caminho. Cheguei pouco antes da hora do almoço e, para fazer “contacto”, logo no princípio da rua do Bemformoso, perguntei a um indiano com aspecto de “junkie”, se conhecia algum bom restaurante.

Embora fosse na direcção oposta à minha, fez questão de inverter caminho e levar-me ao restaurante. No trajecto, perguntou-me o nome e respondeu com o seu nome, também: Dierk, pareceu-me ouvir. Duzentos metros acima do início da rua indicou-me o “Taste of Lahore”. Foi comigo até à porta, obviamente para que o patrão percebesse que ele é que tinha angariado o cliente. Antes de nos despedirmos, pediu-me uma ajuda, perguntando se eu tinha algumas moedas. Vivia em Portugal há dois anos, mas estava sem trabalho, nem tinha dinheiro para pagar uma cama. Dei-lhe cinco euros, o que ele agradeceu efusivamente.

O restaurante de Lahore que não era de Lahore

No restaurante, veio o patrão falar comigo. Quando olhei para o menu, disse-lhe que aquilo eram pratos indianos. Ora, Lahore é uma cidade paquistanesa. Riu-se e não me soube dar qualquer explicação. Percebi que havia uma coisa fora da ementa: cerveja, que era algo que cairia bem no calor insuportável que se fazia sentir. “No beer, sir” - uma frase que ouvi repetida 30 ou 40 vezes, em tantos mini-mercados e restaurantes onde fui, durante dois dias. Depois reparei que, em todos os sítios onde se comia ou se faziam compras, como os mini-mercados, havia sempre a palavra “Halal” - “permitido, autorizado”, coisa que não acontecia com o álcool, “Haram”, proibido, fora da lei islâmica.

Tentei um primeiro contacto e perguntei ao patrão se conhecia algum sítio onde alugassem quartos, acrescentando que era turista e queria conhecer aquela zona. Disse enfaticamente que não conhecia nenhum sítio nem tinha amigos que conhecem.

Sem me dar desanimado, com esta primeira derrota, subi a rua do Bemformoso. O meu objectivo original era arranjar uma cama ou um quarto, numa daquelas casas onde habitavam nove ou dez imigrantes. Duas horas e dezenas de contactos depois, não tinha conseguido nada. Até a barbearias fui, sempre com mesma pergunta – um quarto para alugar – e com uma de duas respostas: alguns não conheciam nada, completamente, outros admitiam que conheciam mas estava cheio. Tudo obviamente falso, mas justificado por uma intrínseca desconfiança, um branco a perguntar por quartos naquela zona que, de turística não tem muito: um ou outro casal estrangeiro, de calções e t-shirt, de meia idade, com um ar perdido e mapa na mão, procurando sítios diferentes.

 

Uma guia contratada


Ia a meio da rua quando fui abordado pela M. Loira magrinha mas com uma cara bonita, o cabelo preso, num nó, no alto da cabeça e uma mini-saia que mais precia um cinto largo e que pouco deixava à imaginação. Soube depois que tinha apenas 24 anos, mas parecia ter mais.

Pediu-me umas moedas, não tinha dinheiro para comer. Dei-lhe dois euros e ela aproveitou para subir a parada: “Arranja-me mais três euros...” Percebi, pela conversa que tinha tido com o meu amigo polícia, que ela estava à procura do dinheiro suficiente para uma dose, cinco euros.

Propus-lhe um negócio: eu dava-lhe os cinco euros, mas ela servia-me de guia, para me mostrar a rua do Benformoso. Aceitou logo e subimos até uma esplanada no largo do Intendente. Perguntou-me se podia convidar uma amiga, para beber uma cerveja. Saiu e voltou, cinco minutos depois com a G. uma morena sorridente e bem-disposta, trinta e quatro anos, três filhos. Trocaram a parafernália necessária, a M. tinha cachimbo, mas não tinha “ferrinhos”. Perante a minha curiosidade, explicaram-me que os “ferrinhos” eram pedaços da vareta de um guarda-chuvas, com um palmo de comprimento. Servia para limpar bem o cachimbo, antes lá meter a pedra. O passo final era encher o resto do cachimbo com cinza de cigarro. “Para filtrar”, explicou-me a G. Lá foram as duas, com a promessa de um regresso breve. Lembrei à M. o nosso acordo, o trabalho de “guia” pela Bemformoso que eu lhe tinha pedido. Jurou que voltava já, depois de fumar.

Fui bebendo a cerveja que tinha encomendado e, quase uma hora depois, nenhuma delas tinha voltado. Paguei a conta e desci rua abaixo, na expectativa de as encontrar. Duzentos metros percorridos, estavam as duas, sentadas no degrau de uma casa obviamente vazia, com um cadeado enorme. Via-se pelos olhos que estavam as ambas “numa boa”, com a “alta” garantida nas próximas horas.

Uma “manobra” perigosa

Convidei-as para almoçar mas só a G é que aceitou. No caminho, encontrámos outra jovem, a S., amiga da G., com um ar de adolescente. A G. perguntou-me se ela podia almoçar connosco e eu aceitei. Encomendámos dois pratos e alguma panquecas indianas. A S. estava muito em baixo, comeu meia panqueca e saiu, com o mesmo tipo de despedida a que já me começava a habituar: “Vou ali, já venho”. A G., mais prática devorou um prato de galinha com caril e duas panquecas enormes. Pegou no resto de um prato de arroz e em parte da carne de vaca que eu não tinha comido, colocou tudo num prato e disse à empregada que era para levar. Explicou-me que tinha de sair, para ir guardar as coisas dela no quarto de uma amiga. Coisas que se resumiam, tal como a vida dela, a dois sacos de supermercado, cheios de roupa e uma mochila.

Foi aí que passei o único momento perigoso, por mera casualidade. Enquanto fui à casa de banho, a G. foi-se embora. Reparei numa mochila, exactamente na mesa onde tínhamos comido e parti do princípio que ela se teria esquecido. Peguei na mochila e saí porta fora. Não tinha andado dez metros e vem a empregada a correr atrás de mim, com dois indianos de má cara, que me tiraram a mochila, com alguma violência. Tentei explicar-lhes que tinha sido um engano meu mas limitaram-se a virar as costas e regressar ao restaurante.

Fiquei ali parado, a fumar um cigarro. Â minha frente, do outro lado da rua, nas escadinhas que desembocavam da rua do Terreirinho na rua do Benformoso, sete ou oito junkies despachavam cachimbos de crack, à luz do dia, ou enchiam-se de sangria, para “amaciar” a ressaca, por não terem conseguido os 5 euros para a "pipoca".

Um deles, um africano musculoso e dois palmos mais alto que eu, veio ter comigo, com o habitual pedido de duas moedas. Abri os cordões à bolsa, novamente, e ele perguntou-me o que é que tinha acontecido com a mochila. Expliquei-lhe a história da confusão e o comentário dele foi bastante explícito: “Meu irmão, tiveste uma sorte do c......o em não teres levado uma carga de porrada. Tens que ter cuidado, estes gajos aqui não perdoam nada e quando vêm para cima de um tipo vêm aos cinquenta, com tudo, paus e pedras. Agradece já a Deus, porque tiveste muita sorte”.

Confissão da minha “missão”

 


Em troca do conselho, dei-lhe as três moedas restantes para comprar uma “pipoca”. Aproveitei uma certa empatia que se tinha criado entre nós e resolvi abrir o jogo. Disse-lhe que era jornalista e estava ali para fazer uma reportagem e explicar à pessoas como era a realidade da vida diária no Benformoso. Perguntei-lhe se podia sentar-me nas escadinhas, ao pé dos restantes junkies. “Não há problema, estás à vontade”. Quando me aproximei, ele fez as honras casa e apresentou-me: “Este é o sr. Paulo, é jornalista e vem aqui fazer uma reportagem”.

A informação deixou o pessoal todo mais relaxado, depois de alguns olhares algo desconfiados, quando me viram a caminhar em direcção às escadinhas.

De dez em dez minutos aparecia alguém para fumar um cachimbo. O L. expansivo e falador, de tronco nú, estava a meio de uma garrafa de sangria. Parecia conhecer toda a gente que por ali passava. “Everybody and his dog”, como dizem os ingleses. E era atrevido, sem mostrar medo. Quando reparou num amigo, do outro lado da rua, obviamente a preparar-se para ir buscar uma “pipoca”, lançou-lhe um berro: “Pá, não vás a esses, vai ao outro gajo de branco” - um africano entroncado de t-shirt branca. Os potenciais vendedores de que ele tinha afastado o amigo nem sequer reagiram.

Desesperadamente à procura de uma cerveja

A G. e a M. tinham desaparecido, deviam estar ainda a curtir a pedrada no mesmo degrau onde as tinha visto. Fiquei por ali, na conversa, durante quase quatro horas. Apetecia-me alguma coisa fresca, mas não vou muito com a sangria. Perguntei ao F. se sabia onde comprar cerveja, por ali. “É já aqui”, respondeu-me. Andámos vinte metros e entrámos num café minúsculo, com um balcão de metal de metro e meio e espaço para apenas duas mesas. Por trás do balcão, uma portuguesa de cabelos brancos, nos seus cinquenta, sessenta anos. Comprei três Sagres e voltámos às escadinhas. Ofereci a terceira cerveja ao africano alto que me tinha aconselhado a ter cuidado e, depois, me deu “autorização” para sentar nas escadinhas.

Foram conversas interessantes, histórias de vidas complicadas, como T., que vivia numa tenda, num parque na zona de Campolide. O trabalho dele era angariar clientes, à porta de um bar, na zona do Bairro Alto. O ordenado, sé que se pode chamar assim, era duas dúzias de euros. Mas, como ele salientou, bebia à pála e ainda tinha algumas gorjetas de clientes satisfeitos. A três metros de nós, junto a dois caixotes de lixo, a C., uma africana gorducha e nos seus quarenta anos, atarefava-se a construir uma “casa”. Nós estávamos sentados junto à parede de um prédio, onde ainda havia alguma sombra. A C. rasgava caixas de cartão e colocava-as, com destreza, em escadinha, encostados aos caixotes de lixo. “Está a construir um 'casulo”, gozou o T. Com alguma habilidade, a C. lá conseguiu um espaço parecido a uma tenda. Deixou uma abertura, no lado virado para nós, meteu a cabeça de fora e avisou: “Agora vou dormir a sesta...” Se cá fora estava um calor insuportável, naquela barraca improvisada a temperatura devia andar pelo quarenta graus.

Entretanto, a M. reapareceu. Lá veio com a pedinchice habitual, duas moedinhas, mas dessa vez era só para uma sangria. O meu porta-moedas esvazia-se a toda a velocidade e já ia no segundo maço de tabaco – fornecendo, obviamente todo o pessoal que me rodeava.

Um alojamento tranquilo

Nessa altura, já tinha desistido da ideia de conseguir alojamento numa casa de imigrantes. As respostas negativas à minha busca por um quarto eram desmentidas pela própria realidade. Junto às escadinhas, mais abaixo, já em plena rua do Benformoso, viam-se três prédios, de cinco andares, com as cordas cheias de roupa – toalhas de banho e calças de homem. Perguntei ao T. quem morava ali. “Uma porrada de gajos, todos indianos. Aquilo está completamente cheio”, respondeu.

 


Pedi à M. para me arranjar um quarto. “Sem problemas” disse ela, com o seu tom de sempre, desenrascada e mexida. Levou-me a um alojamento local, bastante bom, limpo e quase vazio, no princípio da rua. Eram quarenta euros por dia, com casa de banho colectiva, cinquenta euros com casa de banho própria. Optei pela primeira solução. Quando saímos, a M. explicou-me que era uma casa limpa e tranquila, que era muito usada quando as raparigas sacavam alguém para ir para o quarto – prostituição, obviamente.

Regressámos às escadinhas, onde estava a G. com um ar normal – nem passada nem ressacada. Queixou-se de que estava sem roupa e que precisava de ir ao Martim Moniz, fazer compras. Aceitei acompanhá-la sabendo antecipadamente que seria eu o pagante. Entrámos noutro mundo, dominado por chineses. Controlam essencialmente todo o sistema logístico de abastecimento não à suas lojas, como também às lojas de indianos. Estabeleceram-se ali, numa espécie de filial, vindos de um grupo ancorado em Espanha.

A G. procurava uma coisa fresca, que combinasse com os ténis, cor-de-rosa. Acabei por lhe sugerir um top da mesma cor, que ela aprovou. Faltavam-lhe uma “leggings” para combinar, mas correu todas as lojas e não encontrou o que queria. Decidiu ir à loja da Humana, de roupas usadas. Deixei-a ir, com mais cinco euros para as compras. Quando subia em direcção às escadinhas, dou de caras com a M., num abraço ternurento com um rapaz dos seus vinte anos. Quando me viu, veio a correr, no seu passinho sempre acelerado: “Paulo, empresta-me cinco euros para eu comprar roupa para o meu amigo, ele saiu agora do hospital”. Só então reparei na indumentária do rapaz, uma bata de hospital e respectivas calças. Lá foi a M., também para a Humana.

Voltei às escadinhas, já um bocado cansado com o calor e as subidas e descidas da rua do Benformoso. Eram sete e meia da tarde e resolvi jantar, antes de voltar ao quarto. Escolhi um restaurante nepalês, para variar da comida indiana. Pedi uma dose de camarão, com um molho picante e um arroz. Para minha surpresa, ao folhear o menu, reparei que tinham cerveja. Escolhi uma que estava identificada como “Oriental Beer”. O empregado explicou-me que era cerveja nepalesa e eu decidi experimentá-la, pela primeira vez na vida. Fiquei surpreendido com o rótulo: “Gurkha”, o nome uma tribo nepalesa onde, há séculos, o exército britânico recruta soldados para uma unidade de elite.

Depois do jantar, dei um passeio pela rua, de ponta a ponta. Nos passeios, centenas de indianos e paquistaneses, em grupos de três, quatro, estavam entretidos em longas conversas, puxando do telemóvel com frequência. Já durante a tarde tinha visto essa curiosidade mas, à noite, estavam cinco vezes mais pessoas, nos passeios. Pela rua, circulavam outras dezenas de imigrantes, para cima e para baixo, a maioria com mochilas – sinal talvez de que, provavelmente vinham do trabalho para “casa”.

Negócios asiáticos

Tal como o meu amigo polícia me tinha explicado, o trabalho desses grupos teria a ver com sistemas de contratação de mão-de-obra, através de documentos falsos e outras manobras. Só assim se justificava que tanta gente estivesse por ali, nos passeios, às quatro, cinco da tarde, quando é suposto ser uma hora em que se está a trabalhar. Uma das coisas que me provocou curiosidade foi a quantidade de vendedores de rua, parados nos passeios, com duas grades de bebida, vazias e um tabuleiro por cima, cheio de uma mistura que parecia ser especiarias e umas folhas largas. 

 


 

Lá encontrei um vendedor que falava um pouco de inglês e me explicou o que aquilo era: paan sugari. Juntavam uma série de especiarias, tabaco, lima e açúcar, enroladas em folhas de betel. Colocavam tudo na boca, nas gengivas de um lado da boca. As folhas de betel tem um efeito psicotrópico, dão uma sensação de euforia e relaxamento. Os consumidores habituais são reconhecidos pela cor vermelha dos dentes. Os efeitos secundário de um consumo regular são muitos e maus, destacando-se o cancro na boca.

Acabei por arranjar coragem e, uma vez que já ia a caminho do quarto, podia arriscar com alguma segurança. Pedi um “paan sugari” e coloquei a mistela na boca. O sabor não é grande coisa, mas a primeira sensação é uma dormência em toda a boca. Fui rapidamente para o quarto, onde deitei a fora a mistela. Fiquei meio grogue, mas com uma sensação realmente de euforia e bem-estar.

Os ingleses e o eléctrico

Levantei-me cedo, no dia seguinte e fui à procura de um quiosque, no Rossio, para comprar os jornais. Passei pela paragem do célebre eléctrico 28, onde a bicha de turistas se prolongava já, com mais de uma centena de pessoas. Os ingleses são assim, gente feita para existir, como dizia Fernando Pessoa. A gente atira-lhes um eléctrico e saem uma centena a sorrir. No meu caminho para o Rossio, nenhum comissário de bordo velhaco me viu com qualquer sueca – apenas parei, meia-dúzia de vezes, para ajudar outros tantos turistas, perdidos nas intrincadas instruções dos mapas e folhetos.

Mesmo àquela hora matutina, já se viam turistas por todo o lado – provavelmente para aproveitar a temperatura razoável e fugir ao calor do meio-dia. Comprados os jornais, descobri que o velho Pic-Pic se tinha transformado num estabelecimento mais fino, a Fiorela. No meu primeiro ano de vida, em Portugal, regressado de Angola, quase todos os dias passava pelo Pic-Nic, onde se amontoavam largas dezenas de retornados, à procura de amigos e conhecidos. Durante esse ano, vivi à conta de um esquema pouco legal. Tinha dezassete anos quando aconteceu o 25 de Abril. Antes do final de 1974, já tinham começado os confrontos entre movimentos de libertação, transformando Luanda numa mini-Beirute.

As notícias que nos chegavam de Portugal eram más: não havia trabalho, o aeroporto estava cheio de gente a dormir no chão, sem ter para onde ir, das casas de banho saíam rios de urina. Quando a debandada geral começou, resolvi preparar-me para uma vida complicada em Lisboa.

Falei com um dos dealers, que abasteciam a zona onde eu vivia, o "Peniche", com liamba, o haxixe angolano. Na altura, os meus pais tinham uma casa de gelados, quase no centro da cidade. Eu passava algumas horas a trabalhar na caixa e fui aproveitando para desviar, discretamente, algum dinheiro – quarenta, cinquenta escudos por dia. Quando me pareceu ter o suficiente, fiz o negócio e encomendei um quilo ao dealer - três contos, como se dizia então, correspondentes a três mil escudos. Dois dias depois bateu-me à porta com um saco de plástico e a garantia de que estava ali exactamente um quilo. Tinha passado pela mercearia e pediu para pesar o saco na balança. Quando chegou a vez de eu partir, meti o saco na mochila, não fosse a única mala que levava extraviar-se. Sabia perfeitamente que não havia qualquer tipo de controle no aeroporto de Lisboa.

A “paiar” na “pedra”

Ficámos em casa de familiares e, de manhã, quando não estava ninguém em casa eu ia à mochila e fazia dois “talos” - duas doses, enroladas de forma semelhante a um cigarro. Apanhava o autocarro para o Rossio e esperava pelo meu dealer, um amigo sub-contratado. Vvia no Bairro da Coreia, perto da Samba e estava um bocado pendurado, a dormir em casa de amigos, uma dúzia deles dividada por três quartos. Dava-lhe os dois talos e ele ia para a “pedra” - a estátua de D.Pedro IV – para “paiar” (vender, na gíria angolana...) os “talos”. O negócio estava definido como um “acordo de cavalheiros”: eu recebia 120 escudos pelos dois talos e ele tirava a sua percentagem, “ferrando” os talos – retirando alguma liamba de ambos para fazer um terceiro talo, mais pequeno. Recebida a "féria do dia", costumava jantar no Pic-Nic, que tinha uns bifes fantásticos.

Tentei beber o café no restaurante renovado, mas ainda não estava aberto. Sentei-me no Nicola, mergulhado em memórias de quase cinquenta anos. Acabado o café, regressei às escadinhas, onde já estavam os junkies mais madrugadores. A G. passou por ali e pediu-me um favor. Já não tinhas onde guardar as coisas dela, queria guardá-las no meu quarto. Concordei e lá fomos. Enquanto arrumava a roupa, despejou um pequeno saco de cartão em cima da cama, à procura do batom e do rímel. À mistura, caíram mais de dúzia de preservativos, sem que ela piscasse os olhos, sequer. Mas também já não havia segredos entre nós, eu sabia perfeitamente o que ela fazia na vida. Falámos um pouco daquela cena dos imigrantes indianos e paquistaneses parados nos passeios, o dia inteiro, em grupos de três ou quatro - cena um bocado insólita. Mas nalguns casos, eram negociantes astutos. Nas lojas de telemóveis, por exemplo, podia carregar-se a bateria de um telefone por cinquenta cêntimos – um exemplo da rapidez com que os asiáticos aprendem a fazer negócios, ao contrário daquilo que o Marcelo Rebelo de Sousa disse de António Costa. A G. mostrava-se algo furiosa com toda aquela situação: “Estes tipos não fazem nada, estão ali na conversa todo o dia, mas têm dinheiro para f.....!” Dei instruções à senhora da portaria – uma cabo-verdiana a quem todos chamavam tia – para deixar a G. entrar no meu quarto, quando quisesse.

De regresso aos impérios

Quinze minutos depois, estava perto das escadinhas, onde a conversa andava por todas coisas do mundo, pela vida complicada, pela dificuldade em arranjar os cinco euros para uma “pipoca”.

F. queixava-se sobretudo do desprezo com que as pessoas olhavam para eles. “Julgam que andamos nesta vida porque queremos? Nós caímos, mas eles também podem cair, um dia...” argumentava.

Às tantas, falou-se nas festas da cidade. Já se viam algumas ruas decoradas e era uma altura de bom tempo para o pessoal porque era mais fácil arranjar umas gorjetas. “Dia 10 Junho não é só o 10 de Junho” disse subitamente O., um dos mais calados do grupo. “É dia de Portugal e de Camões”! berrou, batendo com a mão no peito. A afirmação suscitou algumas dúvidas, com vários deles a perguntarem quem era Camões. O mesmo O. explicou-lhes: “Há três poemas que são os melhores que a Humanidade produziu. A 'Eneida' que é grega e tem um herói, Eneias, a Odisseia, que também tem heróis, Ulisses e Aquiles, e os Lusíadas”. Levantou a voz e disse: “Os dois primeiros têm heróis, só os Lusíadas é que não têm um herói, os heróis dos Lusíadas somos todos nós, o povo português”.

Embalámos numa conversa interessante e inesperada. Quando mencionei Fernando Pessoa, como “adversário” de Camões, O. rejeitou liminarmente. “Fernando Pessoa não existiu nunca, foi apenas um heterónimo de Alberto Caeiro. Esse sim, é que foi o nosso segundo grande poeta”.

Já em matéria de dramaturgos, concordámos em Gil Vicente, como o nosso mais importante. A nível internacional, também houve acordo: William Shakespeare, sobretudo “Hamlet”. Durante as três horas seguintes, falámos um pouco de tudo, desde o império Mongol até às influências da música celta nas gaitas de foles do Norte de Portugal.

Estivemos entretidos até às sete da noite, com uma pequena interrupção: dois carros da polícia, vindos da rua do Terreirinho pararam junto às escadinhas, por volta das seis horas. Três polícias saíram e, de forma brusca, deram ordem para sairmos dali: “Vá, toca a andar, pessoal, desapareçam daqui.” Virámos a esquina, descemos vinte metros e ficámos de olho nos dois carros da “bófia” que continuaram pela rua do Bemformoso acima. Cinco minutos depois, estávamos novamente nas escadinhas. Por volta das sete e meia, anunciei ao pessoal que ia jantar. F. disse que não valia a pena, que íamos jantar juntos e que eu era convidado deles. Perguntei onde íamos jantar e ela respondeu: "Na praceta". Fiquei algo surpreendido, por saber que não havia restaurantes na praceta do Martim Moniz. “Confia em nós”, insistiu o F. “Vamos às oito horas.” E lá fomos andando, Benformoso abaixo, em direcção ao Martim Moniz, até chegarmos junto de uma carrinha da Igreja Sana, uma instituição de caridade que fornecia alimentos aos necessitados. Coloquei-me na bicha, com alguma vergonha interior, sabendo que ia “roubar” uma refeição a alguém que, se calhar, precisava mais dela do que eu.

Uma sobremesa especial

Sentámo-nos num degrau do jardim e saboreámos uma boa sopa portuguesa, reforçada com um pão, uma garrafa de água e uma maçã. Terminado o “repasto”, F. deu a “voz de comando”: “E agora vamos à sobremesa...” Riu-se com a estupefacção que se via na minha cara e explicou: “Vamos a uma pipoca...” Voltámos às escadinhas, com o número de imigrantes nos passeios já reduzido e grande parte das lojas com os taipais corridos. Por volta das onze da noite decidi ir para o quarto. Despedi-me do pessoal, que ainda ficou por ali. Já passava da meia-noite quando me deu a fome. A sopa da caridade estava muito boa, de facto, mas era pouco. Saí do quarto e percorri parte da rua sem vislumbrar loja aberta. De repente, vejo um dos meus amigos das escadinhas, o Z, a descer a rua. Ficou preocupado comigo e perguntou se tinha algum problema. Expliquei-lhe que tinha fome e estava tudo fechado.

 


“Não há problema, é já aqui”. Virámos à esquerda, no fim da rua do Benformoso e andámos dez metros. Um indiano, encostado aos taipais de ferro de uma loja, fumava tranquilamente um cigarro. Z. cumprimentou-o efusivamente e o indiano puxou a porta de ferro para cima. Era um esquema perfeito para fugir a qualquer infracção: a loja estava fechada, tudo bem. Abria sempre que aparecia algum cliente. Comprei alguns iogurtes e pacotes de snack. Despedi-me do Z., mas prometi-lhe que um dia havia de voltar para beber uma cerveja com o pessoal das escadinhas.

Quando entro no quarto reparei que as coisas da G. ainda lá estavam. Preparei-me para uma noite de sono curta, prevendo logo que ela só viria às tantas da manhã. Eram cinco e meia quando me bateu à porta. Estava estoirada e cheia de frio. Perguntei-lhe como é que tinha corrido a noite e ela desabafou: “Foi uma m...., não consegui sacar ninguém”. Deitou-se e dois minutos depois estava a dormir. Levantei-me às nove da manhã e tive que sacudi-la durante cinco minutos para ela abrir os olhos. Despedi-me e ela retorquiu: “Arranja-me umas moedinhas” - tarefa impossível, para mim, naquela altura, com o porta-moedas já vazio.

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 As escadinhas, vazias por causa da torreira do sol. Perto dos caixotes do lixo, o barraco improvisado da C.

Três prédios seguidos, com a cordas cheias de roupa, toalhas de banho e calças de homem. "Casa" para largas dezenas de migrantes.

 Uma banca de "paan sugari" um entorpecente feito à base de folhas de betel, especiarias e tabaco. A "pedrada" é suave e deixa-nos num estado de euforia e relaxamento
  

O ex-Presidente da Câmara, Fernando Medina, ainda hoje é "recordado" por alguns habitantes daquela rua

Na bicha para a "sopa dos pobres"



Centenas de pessoas, indianos e paquistaneses, ocupam os passeios das ruas, desde o fim da manhã até ao anoitecer 

O jantar, pouco mas saboroso - sobretudo a sopa com vegetais 

PAULO REIS
 
PS: O Correio da Manhã noticia hoje que uma das raparigas que eu conheci, ontem, nas escadinhas da rua do Benformoso, morreu. Houve uma discussão entre ela e outro junkie, por causa de uma dívida. O junkie empurrou-a, ela caiu, bateu com a cabeça no chão e morreu (Editado às 12h35, dia 1 de Junho de 2024)



 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Moradores preocupados com falta de segurança pedem mais câmaras e mais polícias - Moradores e trabalhadores defendem videovigilância como solução

 

 

Uns degraus abaixo, depois do primeiro lanço das escadas, está Cidália à janela do rés-do-chão onde vive — com vista para a Praça do Martim Moniz e para as escadas —, que evoca Carlos Moedas. “O presidente da Câmara [de Lisboa] está à espera de quê? É preciso instalar câmaras onde há problemas”, desabafa, antes de questionar a prioridade dada ao Cais do Sodré e ao Campo das Cebolas.

Apesar da preocupação com essas duas zonas, esta segunda-feira, instado a comentar a insegurança na sequência da queixa de violação nas Escadinhas da Saúde, Moedas reiterou a disponibilidade para instalar câmaras no Martim Moniz. “Já decidimos [instalar câmaras] em vários sítios da cidade que são importantes. O Martim Moniz não estava incluído, mas obviamente que estou com a PSP para também implementar no Martim Moniz, se essa for a vontade da PSP”, disse o autarca, citado pela Lusa. A PSP demonstrou interesse em ter videovigilância naquela zona da capital, depois da rixa que fez vários feridos entre a Rua do Benformoso e o Intendente.

“A polícia é muito importante em qualquer lado. Devia haver mais câmaras e policiamento durante a noite”, reitera Teresa, apoiada por Carlos: “Se alguém quiser fazer porcaria e estiver a ser filmado, vai pensar duas vezes.”

As vozes em defesa de um sistema de controlo com câmaras naquela zona da cidade vão-se somando. Mas a solução não é unânime. Além de temer um clima de “vigilância constante e massiva”, Fábio defende “estudos” para perceber se compensa ter “câmaras”, numa cidade “com uma configuração estranha, com muitas ruelas e becos”.

Entre bafos no cigarro, o trabalhador de 31 anos diz que passeia “muitas vezes na rua do Benformoso” e não sente medo, apesar de admitir que, “há algumas situações delicadas, com traficantes ou pessoas viciadas em crack”. “Há muitas pessoas, alguns portugueses e outros imigrantes, também da minha idade, em situações de toxicodependência. Já tive que chamar o INEM duas ou três vezes”, explica.

A comoção é geral entre vizinhos e trabalhadores das redondezas, que admitem um problema com segurança na zona, mas que normalmente não se traduz em violações, restringindo-se, maioritariamente, a confrontos entre traficantes. Além de admitir que “não se apercebeu de nada”, Cidália diz que o marido — “que tem sono leve e costuma ouvir tudo” — não notou nenhum barulho na madrugada do alegado crime.

Os confrontos na zona “são comuns”, desabafa a mulher de 68 anos na entrada do prédio onde vive há quase uma década, apesar de confirmar que os problemas nas Escadinhas da Saúde costumam estar relacionados com “tráfico de droga”.

“Temos que poder andar na rua de madrugada, se quisermos, e com segurança”, exige, com a assertividade de quem não se inibe de combater o problema que tem à porta de casa. “Sinto insegurança com a droga. Corro o risco de levar com uma pedra na cabeça. No outro dia, o meu marido acordou com o barulho e viu pessoas à pedrada. Eu já mandei baldes de água a traficantes que estavam aqui a vender droga”, relata, num sotaque carregado: “A justiça não tem mão no tráfico. A polícia prende bastante, mas não é suficiente. Até no meu Alentejo está mau.”

Tal como Cidália e o marido, a maioria das pessoas dormia às 4h00 da manhã de domingo, hora a que terá ocorrido o crime. Fonte da PJ, citada pela Lusa, disse que a vítima teria saído de uma viatura TVDE e foi atacada a caminho de casa.

Maria, que trabalha num café com vista para a Praça do Martim Moniz, assume: “Não tenho outro remédio. Tenho que andar na rua de noite, porque apanho o autocarro do outro lado da praça, mas estou sempre atenta”. Preocupada, a jovem de 28 anos diz que falou com vários vizinhos, que também não ouviram nada.
“Eu não vou para algumas ruas. Há homens maus”

O caminho de vários turistas em direção ao Castelo de São Jorge passa, muitas vezes, por esta escadaria que termina na Rua Marquês Ponte de Lima – bem mais deserta do que a praça uns metros abaixo, mas também com algum comércio procurado, maioritariamente, por trabalhadores imigrantes.

Sentado à espera dos clientes, um vendedor do Bangladesh explica que “há zonas que evita”. “Eu não vou para algumas ruas. Acordo e venho logo para aqui, à hora de sair, vou para casa. Há zonas com homens maus”, descreve, num inglês esforçado, o homem que prefere não ser identificado.

A visão sobre a insegurança no Martim Moniz transcende a nacionalidade. Os vários comerciantes que falam com desconfiança ao Observador explicam que “sentem insegurança nas ruas”, que os leva a evitar determinados locais.

Há sete meses em Portugal, mas apenas um em Lisboa, outro imigrante revela que gostava mais de estar no Porto — “é mais seguro do que aqui” —, mas a falta de trabalho obrigou-o a mudar-se para a capital. “Evito as escadas de noite. O meu patrão diz-me para não passar por ali”, explica.

Teresa, que vive na zona há quase 40 anos e herdou a loja do pai, diz que nos últimos anos “tem havido uma degradação muito grande” e compara o crescente problema de delinquência de tráfico de droga com o Casal Ventoso – o antigo bairro de Alcântara que foi reorganizado no final do último milénio.
Atuação da polícia não gera consenso

Entre as várias pessoas que tentam pensar numa solução para o combate à criminalidade no Martim Moniz, há muitas que apoiam ações policias como a rusga polémica verificada em dezembro do ano passado na Rua do Benformoso. “Até acho que podiam fazer rusgas mais vezes. Ser identificados e revistados não tem mal nenhum. Quem não deve não teme”, justifica Teresa.

No entanto, há quem entenda que estas rusgas “são uma tentativa de mostrar músculo e antagonizar os imigrantes, que acabam por sentir-se diminuídos”, refere Fábio, que defende ações para “fiscalizar e para proteger o país e os imigrantes”.

Na complicada missão de ajudar três idosas a descer as escadas íngremes — dificultada ainda mais pelas poças de água acumuladas na escorregadia calçada —, Renata diz que o problema “não é de etnias nem de nacionalidades”, mas de “pobreza e de condição social”.

No topo da escadaria e acabada de chegar ao Martim Moniz está a proprietária de um Alojamento Local que, apesar de ter estado ausente, “já soube do que aconteceu”. “Violações aqui não costumam acontecer”, refere, surpreendida, afastando também qualquer relação entre insegurança e imigração. A seu lado está Elvira, de 68 anos, profunda conhecedora do Martim Moniz, onde já não vive, mas que continua a visitar diariamente para trabalhar. Nota, com tristeza na voz, um “aumento da insegurança nos últimos tempos”: “Agora está um bocadinho pior. Não estamos numa fase boa e tenho medo de estar na rua. As pessoas não se sentem seguras, vemos muitos ajuntamentos e não vemos polícias.”

A maioria das pessoas queixa-se da falta de polícias. “Recentemente há mais polícias, mas só de carro, raramente os vejo a pé”, acrescenta Fábio. “Estamos numa zona sensível. É preciso mais policiamento apeado, para dar pelo menos alguma sensação de segurança”, confidencia Maria, em busca de uma solução para o local onde trabalha.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Os “novos” imigrantes. Um outro país dentro da capital

 


 

"(…) O maior problema é que as pessoas têm medo de vir a esta rua (Rua do Benformoso). As minhas filhas, que cresceram aqui, por exemplo, deixaram de cá vir tantas vezes e, quando vêm, não trazem os meus netos. Quando os quero ver tenho de ser eu a deslocar-me”, explica. (…)"

Jornal Sol

"(...) Das mais de 100 lojas, contam-se pelos dedos da mão as de outros tempos. Numa delas, de roupa e acessórios, no início da Rua do Benformoso, as três lojistas, que pediram para não ser identificadas, queixam-se da insegurança, do tráfico de droga, da prostituição e de como isso se reflete nas contas: “As pessoas têm medo de vir para aqui, os nossos clientes antigos já não vêm.”

“À porta da minha loja vende-se droga. Já mandei e-mails para todo o lado a pedir mais policiamento. Aqui vê-se de tudo. Estou aqui há 30 anos, mas isto está a tornar-se pesado. Estou cansada. Já nos convencemos que estamos a trabalhar em Chinatown, ou melhor, em Banglatown”, dizem, completando-se em concordância (...)"

CNN

 


segunda-feira, 21 de abril de 2025

Ana Gomes, onde estás tu?

Há semanas que não te vejo a distribuir cravos pela rua do Benformoso e pelo Martim Moniz. Esgotaram-se os cravos da tua Esquerda lacrimejante? Ou tens medo de ficar sem telemóvel ou carteira, se fores lá passear novamente? E se isso acontecesse, também criticavas a polícia, por encostar os suspeitos à parede? Já agora, Ana Gomes, tens ideia do que estavam a fazer cerca de centena de imigrantes, nos passeios da rua do Benformoso, às 4 da tarde? Essa gentes não trabalha? De onde lhes vem o dinheiro?


 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Ainda a rusga na rua do Benformoso - imbecis e mentecaptos de Esquerda

 

 
A onda de indignação que percorreu a Esquerda deste país perante uma simples operação policial permitiu revelar a enorme percentagem de imbecis e mentecaptos que milita nessa área. Não houve um único ou uma única voz de Esquerda a colocar uma pergunta muito simples: o que é que cerca de uma centena de emigrantes do Paquistão, Bangladesh e Índia estavam a fazer, no passeio da Rua do Benformoso, às quatro da tarde? 
 
Estão todos legais, foi o resultado da rusga. Mas não trabalham? Às quatro da tarde estão por ali, encostados à parede, em grupos de 4/5, a maior parte do tempo a falar ao telemóvel. Vivem de quê? De onde lhes vem o dinheiro para não terem que trabalhar? E onde vivem? Onde é que encontram casas ou quartos para viver, uma vez que precisam de um atestado de residência para se legalizarem? Em Lisboa, de acordo com uma reportagem da SIC, descobriu-se um esquema em que uma única morada foi usada para validar mais de 1.600 atestados de residência

Os imigrantes são já metade da população de Vila Nova de Milfontes e a tendência é para aumentar. Mulheres e crianças sentem-se observadas e inseguras, fazendo aumentar o clima de insatisfação. Junta de Freguesia pede reforço de policiamento e admite que "bolha social" pode estar prestes a rebentar em Milfontes.

Ainda de acordo com a reportagem da SIC "alguns (imigrantes) dos que passam parte do dia quase “à deriva”, pelas ruas de Milfontes vestem o “panjabi”, a túnica comprida que os cobre quase até aos pés. E muitos usam na cabeça um “tupi”, um pequeno chapéu, muitas vezes feito de renda, típico do subcontinente indiano. A rua só fica mais vazia às horas das orações diárias cumpridas pelos muçulmanos.

Francisco Lampreia, presidente da Junta de Freguesia, passou centenas de atestados de residência que abriram caminho á legalização destes imigrantes. Para o autarca, a questão é simples. “O que temos aqui é um negócio de importação e exploração de pessoas, que querem vir para a Europa à procura de uma vida melhor”. E esse negócio, sublinha, “é controlado por máfias, que ganham muito dinheiro com a vinda de imigrantes. Sem limites na legislação têm o negócio em crescendo. E isto pode vir a provocar um problema grave no nosso país”.

Já agora, sugiro um slogan para futuras manifestações perante esta bandalheira que grassa pela nossa política de imigração: "Encostem-nos à parede!"



 

domingo, 12 de janeiro de 2025

Um futuro negro


Ainda ninguém perguntou o que é que mais de uma centena de bangladeshis e paquistaneses estavam a fazer, às 4 da tarde, nos passeios da rua do Bemformoso! Não trabalham? De onde lhes vem o dinheiro para comer e alugar casas? De onde lhes veio o dinheiro para transformarem em restaurantes e minimercados TODAS as lojas (com excepção de UMA, que ainda tem como dona uma velhota portuguesa) da rua do Bemformoso?

O que fazem esses paquistaneses e banglasheshis, o dia inteiro, encostados à parede da Rua do Benformoso, agarrados ao telemóvel, em grupos de 4/5 pessoas? São mais de três centenas e enchem os passeios de ambos os lados da Rua do Benformoso. Passam ali o dia inteiro, de manhã à noite, fazendo apenas uma interrupção para almoçar - num restaurante indostânico.
Em 2022, de acordo com dados da Pordata, viviam em Portugal cerca de 58.000 indianos e 40 mil nepaleses. A comunidade bangladeshi, de acordo com o presidente da sua associação, atingia 70.000. No total, 160.000 imigrantes - a maioria muçulmanos - cuja cultura, religião e princípios são totalmente opostos dos nossos e da nossa Constituição - cuja noção de justiça, a Sharia, é medieval e primitiva. A forma como ocupam certas zonas da cidade é uma espécie de invasão.

Novamente, a Rua do Bemformoso é o melhor exemplo. Em tempos que já lá vão, era uma zona de turistas estrangeiros - europeus, obviamente. Hoje em dia são raros os portugueses e os turistas que se aventuram naquela zona. A sensação de se estar num país estrangeiro é desagradável.
E depois há o negócio dos atestados de residência. Cada "empresa" daquela zona - e do Martim Moniz, Largo Camões, etc, - tem como "mercadoria" para venda uma quantidade infindável de porta-chaves, chapéus, malas de usar a tiracolo.

Numa viagem detalhada por essas zonas, reparei num pormenor: cada loja tem 1/2 empregados. É raro ver turistas a comprar seja o que for nessas lojas. O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, já mostrou a sua preocupação com algo que “está a degradar a imagem da cidade". Rui Moreira manifestou, assim, estranheza quanto ao facto de lojas que vendem “souvenirs” conseguirem receita suficiente para suportarem rendas de estabelecimento comerciais nobres do centro da cidade, que rondam os 5/6 mil euros.

O negócio dessas lojas é simples: é constituída uma empresa, que gere a loja. Depois, a empresa faz contratos de trabalho falsos com centenas, milhares de imigrantes indostânicos - um documento necessário para regularizarem a sua situação como residentes em Portugal. O truque não funciona apenas nas lojas. Ainda recentemente foi detectada uma moradia com 1.600 imigrantes registados como inquilinos. Os imigrantes pagam uma determinada quantia aos proprietários das lojas, em troco de um comprovativo de que têm um contrato de trabalho vigente.

A herança socialista em matéria de imigração é um dos grandes desastres que António Costa nos deixou. E o pior ainda está por vir. A pacata Suécia, um país tranquilo e pacífico, está hoje em primeiro lugar, na Europa, em matéria de homicídios - a maior parte resultantes de ajustes de contas e negócios de droga, entre gangues de imigrantes.
Não há-de faltar muito para que estejamos numa situação idêntica. Basta ouvir (ler, no caso) o que o presidente da associação de bangladeshis (Rana Taslim Uddin) disse, num discurso proferido numa reunião da direção daquela associação: "“Aqueles que encontraram aqui uma sociedade nova, aqueles que estão aqui presentes hoje, perguntam-me o que eu fiz para a sociedade. Irmãos, fi-lo para fazer o meu Deus feliz, não para a sociedade. Se Deus ficar feliz, ele trará uma solução para a sociedade e conduzirá esta sociedade para o caminho certo. Se não ficar feliz, então destruirá esta sociedade. Por isso tentamos agradar a Deus e ao mesmo tempo construir uma amizade com as pessoas desta sociedade.”


 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Rua do Benformoso: Nem formosa, nem segura

 

Conheci o T. numa noite de copos, no Bairro Alto. Era polícia à paisana, dedicado essencialmente ao combate ao tráfico de droga. Na mesa estava também um colega jornalista, que trabalhava na área do crime. Fiz-lhe algumas perguntas, curioso sobre o tema e trocámos telefones, para outra noite de copos.

Liguei-lhe uma semana antes de ir fazer um passeio pela rua do Bemformoso, para “cheirar” o que lá passava – e que seria interessante, pelas notícias e reportagens que ia lendo e vendo em diversos órgãos de Comunicação Social.

Pedi-lhe um retrato de como é que funcionavam as coisas, por ali. E era simples: indianos e paquistaneses dedicados ao tráfico de mão-de-obra e guineenses a controlar a venda de droga – essencialmente “crack”, o parente pobre da heroína. Barato – uma “pedra”, mais conhecida por “pipoca”, para consumo de uma pessoa, custa apenas 5 euros. Tem um efeito rápido, é extremamente viciante, mas o tempo de "pedrada" é curto.

Numa terça-feira pus-me a caminho. Cheguei pouco antes da hora do almoço e, para fazer “contacto”, logo no princípio da rua do Bemformoso, perguntei a um indiano com aspecto de “junkie”, se conhecia algum bom restaurante.

Embora fosse na direcção oposta à minha, fez questão de inverter caminho e levar-me ao restaurante. No trajecto, perguntou-me o nome e respondeu com o seu nome, também: Dierk, pareceu-me ouvir. Duzentos metros acima do início da rua indicou-me o “Taste of Lahore”. Foi comigo até à porta, obviamente para que o patrão percebesse que ele é que tinha angariado o cliente. Antes de nos despedirmos, pediu-me uma ajuda, perguntando se eu tinha algumas moedas. Vivia em Portugal há dois anos, mas estava sem trabalho, nem tinha dinheiro para pagar uma cama. Dei-lhe cinco euros, o que ele agradeceu efusivamente.

O restaurante de Lahore que não era de Lahore

No restaurante, veio o patrão falar comigo. Quando olhei para o menu, disse-lhe que aquilo eram pratos indianos. Ora, Lahore é uma cidade paquistanesa. Riu-se e não me soube dar qualquer explicação. Percebi que havia uma coisa fora da ementa: cerveja, que era algo que cairia bem no calor insuportável que se fazia sentir. “No beer, sir” - uma frase que ouvi repetida 30 ou 40 vezes, em tantos mini-mercados e restaurantes onde fui, durante dois dias. Depois reparei que, em todos os sítios onde se comia ou se faziam compras, como os mini-mercados, havia sempre a palavra “Halal” - “permitido, autorizado”, coisa que não acontecia com o álcool, “Haram”, proibido, fora da lei islâmica.

(Continua)

terça-feira, 4 de junho de 2024

Um estranho "passeio"

 

"(...) Conheci o T. numa noite de copos, no Bairro Alto. Era polícia à paisana, dedicado essencialmente ao combate ao tráfico de droga. Na mesa estava também um colega jornalista, que trabalhava na área do crime. Fiz-lhe algumas perguntas, curioso sobre o tema e trocámos telefones, para outra noite de copos.

Liguei-lhe uma semana antes de ir fazer um passeio pela rua do Bemformoso, para “cheirar” o que lá passava – e que seria interessante, pelas notícias e reportagens que ia lendo e vendo em diversos órgãos de Comunicação Social.

Pedi-lhe um retrato de como é que funcionavam as coisas, por ali. E era simples: indianos e paquistaneses dedicados ao tráfico demão-de-obra e guineenses a controlar a venda de droga – essencialmente “crack”, o parente pobre da heroína. Barato – uma “pedra”, mais conhecida por “pipoca”, para consumo de uma pessoa, custa apenas 5 euros. Tem um efeito rápido, é extremamente viciante, mas o tempo de "pedrada" é curto.

Na rua do Benformoso, depois do jantar, dei um passeio pela rua, de ponta a ponta. Nos passeios, centenas de indianos e paquistaneses, em grupos de três, quatro, estavam entretidos em longas conversas, puxando do telemóvel com frequência. Já durante a tarde tinha reparado nessa curiosidade mas, à noite, estavam cinco vezes mais pessoas, nos passeios. Ficavam ali horas seguidas, sempre um pequenos grupos. Não entravam nas lojas nem nos restaurantes, apenas ocupavam completamente os passeios, obrigando os transeuntes a deslocarem-se pela rua. 

Já noite dentro, pela hora de jantar, circulavam outras largas dezenas de imigrantes, para cima e para baixo, a maioria com mochilas – sinal talvez de que, provavelmente vinham do trabalho para “casa”. Tal como o meu amigo polícia me tinha explicado, o trabalho desses pequenos grupos teria a ver com sistemas de contratação de mão-de-obra, através de documentos falsos e outras manobras, como a subcontratação para trabalhadores na agricultura, na zona do Alentejo. Só assim se justificava que tanta gente estivesse por ali, nos passeios, às quatro, cinco da tarde, quando é suposto ser uma hora em que se está a trabalhar, disse para mim próprio. (...)

Reportagem / Paulo Reis

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Aumento de 50%: PSP detém 141 carteiristas este ano

 

Existe ainda um crescimento de 22% de suspeitos de furto por carteiristas relativamente ao período homólogo de 2023. Mais de 340 suspeitos foram identificados pelas autoridades. Aumento de 50%: PSP detém 141 carteiristas este ano

A PSP deteve este ano 141 carteiristas e identificou 341 suspeitos desta prática, número de detenções que aumentou 50% em relação a 2023, segundo dados divulgados esta sexta-feira por aquela polícia. Existe ainda um crescimento de 22% de suspeitos de furto por carteiristas relativamente ao período homólogo de 2023. Mais de 340 suspeitos foram identificados pelas autoridades

Segundo a Polícia de Segurança Pública, entre 1 de janeiro e 30 de novembro, além do aumento de 50% das detenções, existe ainda um crescimento de 22% de suspeitos de furto por carteiristas relativamente ao período homólogo de 2023.

Os dados fornecidos pela PSP apontam que o número de detenções de carteiristas foi de 32 em 2020, descendo para 18 em 2021, ano a partir do qual o crescimento deste crime tem crescido exponencialmente, registando-se 58 casos em 2022, 104 em 2023 e 141 este ano, até 30 de novembro.

A PSP explica que, com o intuito de reforçar o combate a este fenómeno criminal, criou em 2018 uma equipa formada por polícias pertencentes à estrutura de investigação criminal, especializados em crimes contra o património.

"Este investimento da PSP, tem permitido aumentar consideravelmente, ao longo dos últimos anos, o número de interceções em flagrante delito de suspeitos da prática deste crime", refere aquela polícia, em comunicado, destacando também a vertente da cooperação e troca de informações a nível internacional relacionadas com este crime.

No âmbito da cooperação policial a nível internacional, operacionais desta equipa da PSP têm participado em diversas ações de policiamentos internacionais, com destaque para o EURO 2024, na Alemanha, o Festival de GENT, na Bélgica, o Festival OKTOBERFEST, na Alemanha e os Jogos Olímpicos, em França.

A PSP alerta que a quadra natalícia e a passagem de ano originam uma grande movimentação de pessoas, com especial destaque nos grandes centros urbanos, em que a concentração é maior em zonas comerciais, turísticas e em interfaces de transportes públicos e que, "apesar do incremento da presença e visibilidade policial em zonas de grande aglomeração de pessoas, continua a ser expectável a existência de condições para a ocorrência de determinadas tipologias criminais, com especial destaque para os crimes contra o património em geral, designadamente os roubos e furtos a pessoas".

Nesse sentido, a PSP aconselha a população para que guarde os pertences e objetos de valor em bolsos interiores, não transporte objetos, como telemóvel ou carteira, em bolsos traseiros ou visíveis, não transporte grandes quantias de dinheiro ou objetos valiosos e tenha malas e mochilas sempre fechadas e junto ao corpo.
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Aconselha a que, preferencialmente, as mochilas sejam transportadas na parte da frente do corpo e não nas costas, especialmente se circular em transportes públicos ou em zonas de grande aglomeração de pessoas, e ao reforço da segurança das malas/mochilas utilizando um cadeado de pequenas dimensões ou um simples clipe.

A PSP apela ainda à denúncia de todos os crimes de que se tenha conhecimento, quer na condição de vítima ou testemunha, e relembra que quanto mais célere for esta denúncia, mais depressa serão efetuadas diligências para chegar à identificação dos criminosos.

TSF/Lusa   

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Portugal tem mais de um milhão de estrangeiros, aumento em 2023 foi de um terço

Em seis anos, o número de estrangeiros em Portugal mais do que duplicou. São agora mais de um milhão a viver em Portugal. Aumento registado em 2023 foi de 33,6%.

A população estrangeira residente em Portugal aumentou 33,6% em 2023, em comparação com o ano anterior, totalizando 1.044.606 os cidadãos com Autorização de Residência, segundo o Relatório de Migração e Asilo esta terça-feira divulgado.

De acordo com a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), em seis anos, mais do que duplicou o número de estrangeiros legais em Portugal, passando de 480.300 em 2017, para mais de um milhão no ano passado.

O ano de 2023 foi também o período em que a população mais cresceu, correspondendo a um terço, segundo o mesmo documento.

O relatório “é um instrumento essencial para a caracterização das dinâmicas e processos migratórios em Portugal, peça essencial de informação pública que é devida por parte da Administração”, escreve no documento Pedro Portugal Gaspar, presidente da AIMA.

Além deste número, existem milhares de cidadãos estrangeiros a aguardar regularização. Segundo as autoridades, existiam 400 mil processos pendentes nestas condições no final de 2023.

Entre as nacionalidades mais representativas, 35,3% são brasileiros (368.449 pessoas), seguindo-se 55.589 angolanos (5,3%), 48.885 cabo-verdianos (4,7%), 47.709 britânicos (4,5%), 44.051 indianos (4,2%), 36.227 italianos (3,5%), 32.535 guineenses (3,1), 29.972 nepaleses (2,9), 27.873 chineses (2,7%), 27.549 franceses (2,6%) e 26.460 são-tomenses (2,5%).

Por continente, o maior crescimento de estrangeiros em relação a 2022 verificou-se nos cidadãos vindos de África (mais 51,2%) e da América do Sul (mais 54,2%).

Do total de estrangeiros 53% são homens e 80,5% do total são parte a população ativa, com mais de metade entre os 25 e os 44 anos (532.214 pessoas).

Por distrito, a maioria vive em Lisboa (431.919), tendo sido também a região do país com maior crescimento absoluto (mais 106.600 pessoas), com um aumento de quase um terço. Seguem-se os distritos de Faro, Setúbal e Porto.

Numa análise por concelho, é na capital que vivem mais estrangeiros (162.553 pessoas), um aumento de 37,1% em relação a 2022. Segue-se Sintra (63.220), Cascais (42.823), Amadora (35.858) e Porto (35.653).

Segundo o relatório, “salienta-se o facto de nove dos doze concelhos com maior número de cidadãos estrangeiros pertencem à área metropolitana de Lisboa, perfazendo com um total de 436.277 (41,8%)”.

Em 2023, mais do que duplicou o número de títulos de residência atribuídos (328.978), correspondendo a um aumento de 130 por cento em relação a 2022, ano que já tinha verificado uma subida de 28,5% em relação a 2022.

O “fluxo migratório apresenta um aumento substancial face aos anos anteriores, com destaque para a Autorização de Residência para cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)”, correspondendo a 45,3% do total, refere o relatório.

Além do visto CPLP, as novas concessões de títulos de residência tiveram por base processos relacionados com certificados de residência (53.988), atividade profissional (50.333), reagrupamento familiar (44.878) e estudo (23.876).

Numa análise por nacionalidade, o Brasil foi o país que teve quase metade das autorizações de residência em 2023 (147.262), seguindo-se, a larga distância, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Índia, Guiné Bissau, Bangladesh, Itália e Nepal.

Numa análise de vários anos que consta no relatório, a população com títulos de residência tem vindo quase sempre a subir desde 1980 (50.750 pessoas), com exceção de 2005 e o período entre 2010 e 2015.

Em junho, o Governo alterou a lei de estrangeiros e acabou com as manifestações de interesse, uma figura que permitia a regularização de estrangeiros que chegassem a Portugal com visto de turismo e começassem a trabalhar.

Este recurso jurídico, contemplado nos artigos 88 e 89 da lei, motivaram a regularização de cerca de 15% dos processos em 2023 mas são, segundo as autoridades, um dos principais motivos para a sobrecarga do sistema, a par do visto CPLP.

(Continua

PS 1: É claro que os dois artigos anteriores versam matéria que nada tem a ver uma com a outra, dirão os esquerdistas do BE e do Livre, amantes de migrantes e defensores de uma política de imigração de portas abertas. Aliás, presumo que as portas das casas dessas pessoas estejam sempre abertas para receber migrantes.

PS 2: Rua do Benformoso: Nem formosa, nem segura 

Uma zona onde é preciso ter cuidado, sobretudo com os telemóveis. A semana passada fui alvo de uma tentativa de assalto, de três indostânicos, mesmo em frente à igreja dos Anjos. Resisti e consegui evitar a perda do telemóvel. Aprendi uma lição: nunca usem o telemóvel no bolso traseiro  das calças. Já assisti a outros três assaltos, noutra zona, perto do Marim Moniz. Característica comum: todos os assaltantes eram indostânicos


quarta-feira, 21 de maio de 2025

O Judas do Martim Moniz

 


 Carlos Moedas, aka o Judas do Martim Moniz, proibiu uma manifestação do "Ergue-te", depois de obter a necessária "autorizacão" para isso dos seus “fariseus” vestidos de azul. O autarca de Lisboa concorda com uma avaliação desses mesmos “fariseus” e anuncia a todos nós, cristão portugueses, que a “exibição da cruz de Cristo” tem “elementos de evidente carga ideológica, simbólica e provocatória".

Carlos Moedas considerou também que a manifestação era uma “afronta à dignidade de comunidades residentes em Lisboa e uma ameaça à convivência democrática".

Moedas comentou a situação e destacou o facto de ter que haver "Liberdade sim (...) mas sem extremismos nem ilegalidades", sublinhando a importância de respeitar os princípios democráticos e legais. O autarca explicou que a decisão de proibir a manifestação foi tomada com base na avaliação da PSP, que considerou que não estavam reunidas as condições de segurança e que as iniciativas em questão poderiam colocar em causa a ordem e tranquilidade públicas .

E qual é a "avaliação" dos "fariseus" de azul? ": "preocupações com a segurança pública devido à realização simultânea de outras manifestações com posicionamentos ideológicos distintos e antagónicos na mesma área geográfica e horário .", dizem alguns jornais.

O parecer do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, seguido pela CML, determinou “objetar a realização da manifestação e comício comunicados pelo partido 'Ergue-te”, tendo em conta o “risco real e fundado de perturbação da ordem pública”.

A preocupação terá sido - segundo outras publicações, que citam com maior detalhe o parecer da PSP "(...) a necessidade de garantir a ordem e tranquilidade públicas, considerando o risco de confrontos em uma área com uma comunidade estrangeira significativa, incluindo uma grande população muçulmana." Carlos Moedas, em declarações aos jornalistas considerou também que a manifestação era uma “afronta à dignidade de comunidades residente em Lisboa e ameaça à convivência democrática”.

No parecer da PSP, emitido no passado dia 7 e citado no despacho assinado pelo autarca, é feito a contextualização territorial e sociocultural da zona do Martim Moniz, onde "reside e trabalha uma significativa comunidade muçulmana e hindu, com expressões visíveis de identidade coletiva, locais de culto e práticas religiosas".

A força policial levou em conta a informação divulgada publicamente pelo partido de a sua iniciativa incluir uma "refeição coletiva de porco no espeto" e a exibição da cruz de Cristo, "elementos de evidente carga ideológica, simbólica e provocatória".

"A associação, num evento de campanha, da exibição da cruz cristã com o consumo público de carne de porco — alimento interdito por várias práticas religiosas — configura, no mínimo, um gesto e mensagem ambíguas, passível de múltiplas leituras, entre elas, a de provocação simbólica, de exclusão cultural e, no limite, uma demonstração de ódio ou de rejeição de uma comunidade em função das suas crenças e práticas religiosas”, lê-se na informação dos "fariseus" vestidos de azul.

A Câmara Municipal de Lisboa alinha por estas alegações sem pensar, assinando por baixo o parecer dos “fariseus” vestidos de azul: "A associação, num evento de campanha, da exibição da cruz cristã com o consumo público de carne de porco -- alimento interdito por várias práticas religiosas -- configura, no mínimo, um gesto e mensagem ambíguas, passível de múltiplas leituras, entre elas, a de provocação simbólica, de exclusão cultural e, no limite, uma demonstração de ódio ou de rejeição de uma comunidade em função das suas crenças e práticas religiosas", lê-se no despacho da CML.

A força policial levou em conta a informação divulgada publicamente pelo partido de a sua iniciativa incluir uma "refeição coletiva de porco no espeto" e a exibição da cruz de Cristo, "elementos de evidente carga ideológica, simbólica e provocatória".

Esta "conjugação" suscitou à PSP "sérias reservas quanto ao seu impacto no espaço público em causa (Martim Moniz)" e também o "risco real e fundado de perturbação da ordem pública".

A PSP baseia-se também num parecer do conselho consultivo da Procuradoria-Geral da República emitido em 2021 e que sublinha que os "direitos de reunião e manifestação não são absolutos e devem ser harmonizados com os princípios de convivência democrática, da ordem pública e da dignidade de grupos sociais minoritários".

O facto é que, pela segunda vez na história portuguesa, desde a conquista de Lisboa por forças cristãs, os muçulmanos reivindicaram para si um espaço, tornado-o interdito aos cristãos e a todos os não muçulmanos.

Tudo isto se passa tendo como pano de fundo uma praça denominada Martim Moniz, um militar lendário que terá participado na conquista de Lisboa, em 1147, sacrificando-se de forma a impedir o fecho de uma das portas do Castelo de São Jorge.

De acordo com a lenda, terá sido um cavaleiro que lutou com heroísmo durante o cerco de Lisboa, ao lado das forças cristãs sob o comando do rei D. Afonso Henriques (1112–1185). Ao perceber o entreabrir de uma porta no Castelo dos Mouros, atacou-a individualmente, sacrificando a vida ao atravessar o seu próprio corpo no vão da mesma, como forma de impedir o seu fecho pelos defensores.

Esse gesto heroico permitiu ganhar o tempo necessário à chegada dos seus companheiros, que assim conseguiram penetrar o castelo. Em sua homenagem, esse acesso ficou conhecido como Porta de Martim Moniz. Com este gesto tornou-se um glorioso mártir cristão.

Verdade ou lenda, a sua memória ficou, no nome da praça que, uma vez por ano, é totalmente ocupada por muçulmanos, na oração final do Ramadão.

A força policial levou em conta a informação divulgada publicamente pelo partido de a sua iniciativa incluir uma "refeição coletiva de porco no espeto" e a exibição da cruz de Cristo, "elementos de evidente carga ideológica, simbólica e provocatória".

"A associação, num evento de campanha, da exibição da cruz cristã com o consumo público de carne de porco — alimento interdito por várias práticas religiosas — configura, no mínimo, um gesto e mensagem ambíguas, passível de múltiplas leituras, entre elas, a de provocação simbólica, de exclusão cultural e, no limite, uma demonstração de ódio ou de rejeição de uma comunidade em função das suas crenças e práticas religiosas”, lê-se na informação dos "fariseus" vestidos de azul.

Ou seja, na opinião desses acólitos, opinião essa caninamente acolhida pelo Judas do Martim Moniz, a simples “exibição da cruz cristã (...) configura, no mínimo (...) uma demonstração de ódio ou de rejeição de uma comunidade em função das suas crenças e práticas religiosas.”

Fica aqui enterrada uma parte importante da Constituição Portuguesa, nomeadamente o nº 1 do artigo 41º: “A liberdade de consciência, de religião e de culto é inviolável.” Este direito fundamental choca de frente com a actuação do Judas do Martim Moniz e dos seus seguidores, ao proibirem a exibição de símbolos religiosos – a cruz de Cristo.

E porquê? Em que se baseiam os “fariseus" vestidos de azul? “A associação (...) da exibição da cruz cristã com o consumo público de carne de porco — alimento interdito por várias práticas religiosas — configura, no mínimo, um gesto e mensagem ambíguas, passível de múltiplas leituras, entre elas, a de provocação simbólica, de exclusão cultural e, no limite, uma demonstração de ódio ou de rejeição de uma comunidade em função das suas crenças e práticas religiosas”, lê-se na informação dos “fariseus” vestidos de azul.

Temos portanto, um Judas na CML que, acolitado por uma chusma de “dhimmi”, se dobram e lambem as botas aos muçulmanos, estremecendo perante a possibilidade de os ditos cujos levarem a mal a exibição de uma cruz cristã num espaço público. Esta chusma até considera que um direito fundamental constitucionalmente garantido constitui uma manifestação de ódio: “(...) A exibição (...) da cruz cristã (...) configura (...) no limite, uma demonstração de ódio ou de rejeição de uma comunidade em função das suas crenças e práticas religiosas”, refere o parecer da PSP que serve de esteio à proibição da decisão da CML.

Ficamos, assim, a saber que as autoridades que gerem esta cidade (e também os responsáveis da PSP, autênticos "fariseus") se arrojam pelo chão, diante do Islão e seus dirigentes, humildes e temerosos da sua ira, tal como os “dhimmi” – povos que, embora subjugados pelos islamistas, não eram chacinados e tinham alguns direitos reduzidos, através do pagamento de uma taxa, a "Jizia".

A conquista, a pouco e pouco, de espaços físicos onde apenas entram muçulmanos é um primeiro passo na estratégia de expansão do Islão, nos países ocidentais. Um fenómeno típico desta expansão territorial é a ocupação das zonas urbanas situadas em redor das mesquitas. O passo seguinte é a criação de escolas islâmicas – as escolas não islâmicas destroem a fé, escrevia-se há uns tempos numa das revistas em língua portuguesa da Comunidade Islâmica do Sul do Tejo. A cereja no topo do bolo é a constituição de um Estado dentro do Estado, através da criação de tribunais islâmicos, onde a Sharia é aplicada e a lei dos países onde essas comunidades vivem é ignorada.

Na Mesquita de Lisboa, por exemplo, há mais de 12 anos que funciona um tribunal islâmico. Colocada esta estratégia no terreno, as comunidades islâmicas partem para a “guerra” a sério: passam a exigir uma estatuto político e social próprio e um conjunto de direitos baseados na Sharia, com base no direito à diferença da sua crença. A participação política é uma característica importante nesta fase. Numa manobra cínica, invocam os direitos que constam na Constituição da República Portuguesa, ao mesmo tempo que tentam destruir o Estado de Direito que tem essa Constituição como pedra fundamental e onde estão plasmadas as leis que lhes dão a eles, muçulmanos, uma liberdade religiosa completa.

Confesso que é com alguma expectativa que aguardo a realização da próxima procissão em honra de Nossa Senhora da Saúde, também conhecida como “Procissão dos Artilheiros”, que se realiza no primeiro domingo de Maio. A procissão parte do Martim Moniz e começa por subir pela Rua do Benformoso. Nessa rua, só há um pequeno café explorado por uma velhota portuguesa. Todos os outros estabelecimentos – restaurantes, lojas de telemóveis, mini-mercearias - são explorados, na sua quase totalidade, por bangladeshis. A ocupação quase total da Rua do Bemformoso por muçulmanos é visível através de uma palavra nas montras de todos os estabelecimentos: “Halal”, produtos que não são proibidos pelo Islão, enquanto produtos proibidos são designados por “Haram”.

Uma questão que aqui deixo, destinada ao Judas do Martim Moniz: irá permitir que a Procissão das Artilheiros, no próximo ano, no primeiro domingo de Maio, siga o seu trajecto habitual, incluindo a rua do Benformoso? Ou, atendendo ao facto de que a “(...) a exibição (...) da cruz cristã (...) configura (...) no limite, uma demonstração de ódio ou de rejeição de uma comunidade em função das suas crenças e práticas religiosas” essa procissão também será proibida?


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