Os imigrantes são já metade da população de Vila Nova de Milfontes e a tendência é para aumentar. Mulheres e crianças sentem-se observadas e inseguras, fazendo aumentar o clima de insatisfação. Junta de Freguesia pede reforço de policiamento e admite que "bolha social" pode estar prestes a rebentar em Milfontes.
Em apenas um ano, Vila Nova de Milfontes mudou. Bastante. A comunidade imigrante já é praticamente metade de toda a população residente.
"Já é gente a mais”, diz à Renascença o presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova de Milfontes, Francisco Lampreia, acrescentando que “o Estado já não está a garantir qualquer processo de integração, mas sim de acolhimento”.
“Se eles viessem numa quantidade que fosse fácil de gerir, em termos de integração, não haveria grande problema. Mas quando se passa de uma quota superior a 50% da população, isso vai ser difícil. Vai provocar choques, mais cedo ou mais tarde. Já os está a provocar."
Na rua principal da vila, onde se concentrava o comércio e restauração tradicionais, nota-se, cada vez mais, a presença dessa grande comunidade imigrante. Um pequeno hotel é agora uma mesquita da comunidade muçulmana. Um antigo pronto-a-vestir transformou-se numa loja de artigos eletrónicos, que trata também de transferências de dinheiro e de documentos com vista ao processo de legalização. E um dos principais restaurantes de outrora é agora uma espécie de camarata, onde residem dezenas de imigrantes. A toda a hora, há um vaivém frenético e ruidoso de carrinhos de supermercado a passar, de um lado para o outro, carregados de produtos para reforçar o "stock" das lojas e supermercados da comunidade imigrante.
Há um ano, só ao final da tarde se viam alguns dos trabalhadores imigrantes, regressados das estufas e campos agrícolas. Agora, durante todo o dia, dezenas deles, sem trabalho, percorrem as ruas de Vila Nova de Milfontes.
O concelho de Odemira está habituado a lidar com imigrantes. Primeiro, russos, ucranianos, romenos e búlgaros, oriundos de uma cultura de origem europeia, muito semelhante à nossa, concentrados sobretudo em São Teotónio. Mas desde há uns anos que os imigrantes que chegam à costa alentejana vêm da Índia, do Bangladesh ou do Nepal. No início, vieram para trabalhar na agricultura intensiva. Agora, devido ao excesso de mão-de-obra, esperam apenas pela legalização que lhes abrirá portas a outros países europeus. Muitos nem sequer procuram emprego.
Alguns dos que passam parte do dia quase “à deriva”, pelas ruas de Milfontes vestem o “panjabi”, a túnica comprida que os cobre quase até aos pés. E muitos usam na cabeça um “tupi”, um pequeno chapéu, muitas vezes feito de renda, típico do subcontinente indiano. A rua só fica mais vazia às horas das orações diárias cumpridas pelos muçulmanos.
Francisco Lampreia passou centenas de atestados de residência que abriram caminho á legalização destes imigrantes. Para o autarca, a questão é simples. “O que temos aqui é um negócio de importação e exploração de pessoas, que querem vir para a Europa à procura de uma vida melhor”. E esse negócio, sublinha, “é controlado por máfias, que ganham muito dinheiro com a vinda de imigrantes. Sem limites na legislação têm o negócio em crescendo. E isto pode vir a provocar um problema grave no nosso país”.
Habitação e comércio mudam de mãos
A maioria dos negócios é de imigrantes asiáticos. Há mesmo “grupos empresariais”, como o SDS Brothers, que tomaram conta de lojas de acessórios para telemóveis, lojas de roupa, supermercados e de algumas vivendas e apartamentos. São casas ocupadas por alguns funcionários destas empresas e por dezenas de outros imigrantes, seus compatriotas. São grupos que usam as redes sociais na angariação de mão-de-obra para trabalhar na apanha de frutos vermelhos. Apesar de vários contactos no sentido de conseguir ouvir elementos destas comunidades, estes recusaram sempre fazê-lo. Ou por não dominarem o português ou o inglês, ou porque simplesmente preferiram o silêncio.
Aparentemente, tudo funciona dentro da legalidade, já que as poucas operações em larga escala levadas a cabo pelas autoridades não detetam problemas de maior.
“Eles vão ter com pessoas que têm neste momento negócios e oferecem rendas completamente impensáveis. Com base nisso, têm tomado conta da maioria dos estabelecimentos e pelo que temos ouvido dizer, o objetivo é tomar conta de todos”, assegura Francisco Lampreia, que garante que a compra ou aluguer desses espaços é feita em dinheiro vivo.
“Os tais sacos de dinheiro que toda a gente sabe de onde proveem. As autoridades também sabem de onde, mas infelizmente até agora não vimos nenhuma ação prática das policias criminais para resolver o problema. Serão as tais explorações de pessoas, que pagam entre 15 e 20 mil euros para vir para cá, dinheiro não entra no circuito económico normal. Como é que é possível pagar oito mil euros de renda por um restaurante? É muito dinheiro”.
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