Escolas com cerca de metade de alunos estrangeiros e de dezenas de nacionalidades é a realidade no concelho de Lisboa. Repartidos por todos os ciclos e jardins de infância, sendo que muitos deles não falam português, estes alunos necessitam de atenção especial de forma a conseguirem bom aproveitamento. Diretores reclamam mais autonomia, tanto de contratação como pedagógica, para conseguirem responder à necessidades destes novos estudantes.
Programas de integração,
estratégias pedagógicas e voluntariado são os recursos a que as várias
escolas e comunidades educativas da capital recorrem para fazer face a
esta alteração do tecido estudantil originada pelo aumento do número de
imigrantes que escolheram Lisboa para viver. As próprias escolas são
locais de integração das famílias em todas as suas dimensões: social,
aprendizagem e até profissional.
Em Lisboa, em cinco dos 39 Agrupamentos de Escola (AE) e Escolas Não Agrupadas (ENA) mais de 30% dos alunos inscritos são estrangeiros. Sendo que também em cinco dos AE e ENA da capital têm distribuídos pelas suas salas de aulas estudantes de mais de 40 nacionalidades. No AE Passos Manuel – que é constituído por seis estabelecimentos: cinco Escolas do 1.º Ciclo com Jardim de Infância (Gaivotas, Luísa Ducla Soares, Maria Barroso, Padre Abel Varzim e S. José) e uma Escola com 2.º e 3.º Ciclos e Secundário (EBS Passos Manuel) – estão estudantes de mais de 50 nacionalidades. O AE Laranjeiras tem inscritos neste ano letivo alunos de 47 países e o AE Quinta de Marrocos é frequentado por estudantes de 44 nacionalidades.
Em relação à percentagem de alunos estrangeiros, no AE Manuel da Maia
45% dos estudantes são imigrantes, segue-se o AE Patrício Prazeres com
cerca de 40% e o AE Passos Manuel que conta com 36% de alunos
estrangeiros. O AE Gil Vicente assim como o AE Olaias têm cerca de 30%
de estudantes de nacionalidades distintas.
As
Escolas Não Agrupadas, assim como as de ensino especializado são as que
contam com uma menor proporção de alunos estrangeiros. Com exceção do
AE Filipa de Lencastre (3,6%), do AE Eça de Queirós (4,5%), do AE Rainha
D. Leonor (7,5%), AE Santa Maria dos Olivais (7,5%) e o AE Vergílio
Ferreira (7,6%). O Conservatório de Nacional, a Secundária e Camões,
Rainha D. Amélia, Secundária Fonseca de Benevides, a António Arroio
também têm muito baixas percentagens.
No
AE Passos Manuel, mais de 230 alunos dos cerca de 1400 inscritos
(portugueses e de outras nacionalidades) não falam a língua portuguesa, o
que representa mais de metade dos alunos estrangeiros inscritos neste
agrupamento (mais de 500). Nos AE Gil Vicente, Escolas Olaias e Nuno
Gonçalves a proporção é a mesma: mais de 200 alunos não falam português e
correspondem a cerca de metade ou mais dos alunos de outras
nacionalidades. Só no AE da Olaias, dos perto de 350 alunos
estrangeiros, apenas 130 sabem falar português.
O
AE Manuel da Maia é o que tem maior proporção de alunos estrangeiros,
cerca de 350 alunos de 27 nacionalidades, num total de 770, divididos em
três escolas do 1.º Ciclo e uma do 2.º e 3.º Ciclos.
«A maior dificuldade que temos é com a língua, uma vez que o ensino ainda está muito centrado na transmissão do conhecimento», declarou ao Nascer do SOL o diretor deste agrupamento de escolas, Luís Mocho. «As famílias têm também muita dificuldade em entender os procedimentos porque muitas vezes não estão traduzidos na língua mãe. Temos muitas famílias de nacionalidades diferentes que nem inglês sabem falar e isso tem sido muito difícil na comunicação». Grande parte são do Bangladesh, Índia e Nepal.
Para ultrapassar este obstáculo da língua, o diretor diz que tem
sido feito um investimento, que irá continuar a ser feito no próximo
ano, de professores dedicados ao ensino do Português Língua Não Materna
(PLNM), que substituem as horas dedicadas à disciplina de Português
curricular. «Para o ano teremos mais um professor, para que os alunos
façam mais horas de aprendizagem do Português. Uma espécie de curso
intensivo, não estando nas outras disciplinas». Isto nos primeiros meses
até os alunos aprenderem pelo menos o básico, para depois serem
integrados no currículo base.
Os alunos que não têm qualquer dificuldade na língua, assim como os alunos estrangeiros acabam por sair prejudicados na aprendizagem uma vez que os meios são escassos assim como a atenção dos professores, que acaba repartida. O que é uma consequência «da forma como as escolas trabalham». E é por isso que este diretor é adepto de uma alteração de funcionamento das escolas que deixe de olhar para a questão de forma tão tradicional: a minha turma, a minha sala, o meu professor e a minha disciplina.
Este tipo de formação prejudica muito a forma como os professores lidam com os alunos e a relação que criam, os alunos estão sempre a saltar, conhecem sempre pessoas novas e não têm autonomia para se adaptarem tão rapidamente. «Convinha que houvesse uma estabilidade na equipa docente que trabalham com estes alunos que são mais vulneráveis e precisam de mais atenção», afirma Luís Mocho. Dentro de uma turma que tem cinco ou seis estrangeiros, que é o caso destas escolas, os professores têm necessidade de lhes dar mais atenção, que não é dedicada da mesma forma aos outros. «Tudo isto acaba por prejudicar toda a dinâmica de uma escola que anda a várias velocidades quando devia de andar só a uma: que é cuidar de todos sabendo que todos são diferentes», refere o diretor.
(Continua)
Artigo do jornal Nascer do Sol, republicado no site da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas

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