sexta-feira, 11 de julho de 2025

Porque é que não há guetos portugueses em França, com quase 2 milhões de imigrantes?

 


A integração dos imigrantes portugueses em França é frequentemente vista como um caso de sucesso, embora tenha sido um processo longo e, no início, repleto de desafios. A comunidade portuguesa em França, uma das maiores e mais bem integradas do país, passou por uma transformação notável.

A Partida e os Primeiros Anos: A Dificuldade da Invisibilidade

A grande vaga de emigração portuguesa para França ocorreu entre os anos 1950 e 1970, impulsionada por fatores como a pobreza, a ditadura do Estado Novo, a guerra colonial e a procura de mão de obra para a reconstrução francesa após a Segunda Guerra Mundial.

Muitos portugueses entraram em França de forma clandestina, fugindo à polícia política (PIDE) e a uma saída controlada. Chegavam em condições precárias, sem documentos, sem dominar a língua, e viviam em habitações de emergência, os famosos "bidonvilles", que eram bairros de barracas em redor das grandes cidades, como Champigny-sur-Marne.

Nesta fase inicial, a comunidade era muitas vezes "invisível" para a sociedade francesa, composta por trabalhadores que viviam e trabalhavam em condições difíceis, focados em juntar dinheiro para enviar para a família em Portugal.

Integração Económica e Social: O Motor da Ascensão

A integração dos portugueses deu-se, em grande parte, através do trabalho e da família.

    Trabalho: Os imigrantes portugueses rapidamente se destacaram pela sua ética de trabalho e resiliência, assumindo cargos que os franceses não queriam, sobretudo na construção civil e no setor de limpezas. O lema era "trabalhar duro" para ascender socialmente. Com o tempo, muitos passaram de operários a empreendedores, criando as suas próprias empresas de construção, padarias, e outros negócios, contribuindo significativamente para a economia francesa.

    Família e Comunidade: A família e a comunidade foram a base da integração. O reagrupamento familiar nos anos 70 permitiu que as famílias se juntassem e que a segunda geração, nascida e educada em França, se integrasse plenamente na sociedade. As associações culturais, religiosas e os clubes de futebol portugueses foram fundamentais para manter as raízes e a coesão social.

O Legado e a Dupla Identidade

Hoje, a terceira e quarta gerações de luso-descendentes estão perfeitamente integradas. Muitos alcançaram posições de destaque em diversas áreas, como a política, as artes, o desporto e a ciência, demonstrando uma integração bem-sucedida.

No entanto, este processo não foi isento de desafios, nomeadamente a questão da "dupla identidade" para a segunda geração, que cresceu com uma forte ligação a Portugal (língua, gastronomia, tradições) mas sentindo-se plenamente francesa. Esta "ponte" entre as duas culturas é hoje um dos aspetos mais ricos e distintivos da comunidade.

Em resumo, a integração dos imigrantes portugueses em França foi um percurso de trabalho árduo e resiliência, que transformou uma comunidade inicialmente vulnerável e invisível numa força económica e cultural respeitada e plenamente integrada na sociedade francesa.

A estimativa mais consistente aponta para quase 600.000 portugueses (nascidos em Portugal) a viver em França em 2024.

No entanto, se incluirmos os franceses de ascendência portuguesa (luso-descendentes), o número total da comunidade portuguesa em França é muito maior, sendo frequentemente estimado em cerca de 1,5 a 2 milhões de pessoas.

"Gemini" 


 

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