
Operação da GNR detetou pela primeira vez em Portugal a arecolina, uma substância natural, psicoativa, que misturada com tabaco potencia o efeito estimulante da nicotina. A Polícia Judiciária (PJ), num comunicado à Imprensa, revelou ter detectado pela primeira vez em Portugal a droga psicoativa arecolina, uma substância natural, psicoativa, que misturada com tabaco potencia o efeito estimulante da nicotina, estando ainda em análise potenciais riscos associados.
Uma operação da Guarda Nacional Republicana (GNR) desmantelou um laboratório ilegal para produção e embalamento “em larga escala” de tabaco de mascar, contrafeito, nos concelhos de Lisboa e Sintra, mas na mistura, para além de tabaco e mentol, foi detetada pela primeira vez em Portugal a arecolina, identificada pela polícia científica da PJ.
“Apesar de ser tabaco, suspeitava-se que poderia conter outra substância. Daí fizemos a análise e identificámos a arecolina. Não é uma substância nova, já é conhecida, por isso para nós também foi mais fácil fazer a identificação, porque se fosse uma primeira vez necessitaria de outro tipo de técnicas e seria mais moroso”, explicou à Lusa Carla Ferreira, especialista da polícia científica da PJ, responsável pela deteção em laboratório da substância.
Segundo Carla Ferreira, ainda não há dados toxicológicos que permitam aferir os riscos de sinergia do consumo conjunto de nicotina e arecolina, mas a análise está a ser feita, tendo a especialista ressalvado que o consumo desta substância natural se faz tipicamente em países asiáticos mascando a noz de areca, fruto da palmeira com o mesmo nome, com o objetivo de obter um efeito estimulante.
“Sabemos que é uma substância estimulante, interage com os recetores com que a nicotina também interage (…) Portanto, como era tabaco contrafeito adicionaram este composto. O objetivo era potenciar o potencial estimulante da nicotina, ou seja, ser ainda mais potente”, explicou à Lusa.
Por ter sido a primeira apreensão da substância no país desta substância, a PJ não tem ainda informações sobre a escala de consumo em Portugal nem sobre a venda, referiu Carla Ferreira.
Em comunicado esta terça-feira divulgado, a PJ adiantou que “nos termos regulamentados, a deteção laboratorial foi já transmitida aos organismos internacionais competentes, através do ponto focal nacional”.
A arecolina é um composto químico alcaloide derivado da noz de areca (sementes da palmeira Areca catechu), com propriedades psicoativas. É amplamente encontrada em regiões do sul e sudeste da Ásia, onde mastigar a noz de areca junto com folhas de bétel, tabaco, lima e cal é uma prática cultural e social comum.
A folha de betel é frequentemente consumida junto com a noz de areca, que contém a arecolina, um composto psicoativo. A combinação dos dois cria um efeito estimulante, proporcionando uma sensação de euforia e bem-estar. Esse efeito pode levar ao uso repetido, contribuindo para a dependência. Mesmo sem a arecolina, as folhas de betel têm compostos que podem causar leves efeitos estimulantes. Isso, junto com os efeitos da noz de areca, pode reforçar o efeito viciante do "bétel".
A arecolina é um agonista muscarínico e nicotínico que atua no sistema nervoso parassimpático, ou seja, ela estimula receptores colinérgicos, produzindo efeitos semelhantes à acetilcolina. Pode causar estimulação, euforia, aumento da salivação, e contração da musculatura lisa. Em excesso, pode levar a efeitos colaterais como náuseas, vômitos e sudorese.
Mastigar a noz de areca é culturalmente associado a um efeito estimulante leve. O consumo crônico de arecolina e da noz de areca está associado a problemas sérios, como câncer oral, fibrose submucosa oral e dependência, além de outras condições médicas. Por conta dos seus efeitos farmacológicos, a arecolina também tem sido estudada em contextos medicinais, como no tratamento de condições neurológicas, embora seu uso seja limitado devido à toxicidade.
Na prática do consumo de "bétel", esse hábito tem características de dependência química devido aos efeitos psicoativos e estimulantes da arecolina no sistema nervoso central.
A GNR e a PJ talvez poupassem trabalho se (talvez com a ASAE) fizessem uma rusga aos vendedores de "bétel" que enchem os passeios da rua do Bemformoso. Quando lá estive, em Dezembro do ano passado, uma das coisas que me provocou curiosidade foi a quantidade de vendedores de rua, nos passeios, com duas grades de bebida, vazias e um tabuleiro por cima, cheio de uma mistura que parecia ser especiarias e umas folhas largas, ainda verdes e frescas, com aspecto de terem sido acabadas de importar.
Lá encontrei um vendedor que falava um pouco de inglês e me explicou o que aquilo era: "paan". Juntavam-se uma série de especiarias, tabaco, lima, açúcar, cal e noz de areca, que contém arecolina, um alcaloide que tem efeitos estimulantes e que são semelhantes à forma como a nicotina ou a cafeína podem dar uma sensação de energia ao consumidor. Todos esses elementos tornam a "paan" viciante e dão uma sensação de alerta, mas também tem efeitos colaterais como aumento da frequência cardíaca e potencial dependência.
Esses ingredientes são enrolados em folhas de betel. Coloca-se tudo na boca, entre a gengiva e a parte interior da bochecha. As folhas de betel, que também têm um efeito psicotrópico, dão uma sensação de euforia e relaxamento. Os consumidores habituais são reconhecidos pela cor vermelha dos dentes.
Os efeitos secundário de um consumo regular são muitos e maus, destacando-se o cancro na boca.
Acabei por arranjar coragem e pedi um “paan”. O sabor não é grande coisa, mas a primeira sensação é uma dormência em toda a boca. Fui rapidamente para o quarto, onde deitei fora a mistela. Fiquei meio grogue, mas com uma sensação realmente de euforia e bem-estar...