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O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) escolheu um novo diretor para liderar a secreta externa, o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED). Manuel da Silva Vieira tinha sido colocado já há uns meses como antena em Luanda, Angola, depois de mais de uma dezena de anos em funções no Sistema de Segurança Interna (SSI), primeiro como oficial de ligação, depois como chefe de gabinete e finalmente como secretário-geral adjunto escolhido pelo próprio primeiro-ministro Luís Montenegro. Numa altura em que o SIED (antes chamava-se SIEDM) está prestes a fazer 30 anos, a saída a pedido do antigo diretor do SIED, o diplomata José Pedro Marinho da Costa, abriu a porta a Silva Vieira, que à beira da reforma será o primeiro espião de carreira formado na secreta exterior que chega à liderança.
Há uns anos, outro espião de carreira mandou no SIED, Jorge Silva Carvalho, mas tratava-se de um oficial de informações oriundo do SIS. Antes de cair em desgraça e se incompatibilizar até com vários elementos das secretas, Silva Carvalho teve precisamente em Manuel Silva Vieira um dos seus homens de maior confiança, tanto nas secretas como na própria maçonaria da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP). Ou seja, antes de incompatibilizarem de vez (entre outros operacionais da secreta, Silva Vieira chegou a ser afastado do SIED por Jorge Silva Carvalho e ameaçado que poderia ter o telefone sob vigilância porque andaria a divulgar segredos internos a jornalistas), os dois espiões repartiram interesses profissionais e pessoais até num projeto que na maçonaria regular se chamou as “lojas de poder”. Tratava-se das célebres lojas maçónicas Mercúrio, Brasília e Mozart, sendo que esta última foi a loja que tentou recrutar (ou recrutou mesmo) o então líder parlamentar do PSD e hoje primeiro-ministro Luís Montenegro.
A história merece ser contada porque já lá vão uns anos e a memória mediática tende a esquecer muitos episódios devido à voragem dos acontecimentos. E é uma história que revela, mais uma vez, como a maçonaria atrai até os espiões. Se Silva Vieira passar na futura audição parlamentar, os dois principais serviços de informações portugueses, o SIS e o SIED, terão diretores que foram iniciados na maçonaria da GLLP e do Grande Oriente Lusitano (o também maçom e antigo espião Carvalhão Gil chegou a pagar as quotas do atual diretor do SIS Adélio Neiva da Cruz) e que hoje serão “maçons adormecidos”, que é o estado em que os Irmãos ficam depois de apresentarem o chamado um atestado de quite que os afasta das lojas maçónicas. Tal como de resto sucede com o próprio secretário-geral do SIRP, o diplomata Vítor Sereno.
Só na célebre loja Mozart chegaram a estar, além de Jorge Silva Carvalho, pelo menos, mais três espiões. No caso do então técnico superior de informações do SIS, João Paulo Alfaro, a cerimónia de iniciação terá ocorrido ainda na Loja Mercúrio, a 20 de março de 2006, com o maçon espião a transitar para o grau de companheiro, a 16 de outubro do ano seguinte, e finalmente, para o de mestre, a 1 de outubro de 2007. O outro maçon espião era Francisco Rodrigues, um tenente-coronel da GNR que passou pelo SIS e que, em 2007, quando Silva Carvalho era chefe de gabinete do SIRP, foi nomeado pelo então secretário-geral Júlio Pereira como diretor do Departamento de Segurança, um dos quatro departamentos comuns ao SIS e ao SIED. O terceiro espião era um dos mais antigos diretores de departamento do SIED, Manuel Silva Vieira, que foi iniciado em 2007 já na Loja Mozart e chegou ao grau de mestre em 2009.
Os espiões não estavam apenas na Loja Mozart. Havia também elementos em várias outras lojas da maçonaria regular (e no GOL) como a Mercúrio, onde foi iniciado em 2006 o empresário e dono da Ongoing, Nuno Vasconcellos. Cerca de dois anos depois, a 29 de setembro de 2008, Vasconcellos foi instalado venerável mestre da Loja Wolfgang Amadeus Mozart, n.º 49 e quem lhe passou o malhete, num templo maçónico de Lisboa, foi o seu amigo espião Jorge Silva Carvalho, que dirigia há cerca de seis meses SIED. Durante o ano seguinte, até à última quinzena de junho de 2009, o líder da Ongoing Strategy Investments, a holding da família Rocha dos Santos, mandou naquela que já era vista por alguns maçons regulares como a mais poderosa das então 54 lojas ativas da GLLP/GLRP.
O empresário milionário com então 44 anos, gestor formado no Curry College, em Boston, EUA, passara a liderar cerca de 45 Irmãos com profissões tão díspares como as de espiões, chefes de gabinete de ministros, deputados, advogados, professores universitários, assessores diplomáticos. Como habitualmente, as reuniões da Loja Mozart continuaram a ser rodeadas de um enorme secretismo, nada comparável com aquilo que acontecia com a generalidade das oficinas da maçonaria regular que, ainda sem grande interesse da generalidade da comunicação social, reuniam pacatamente na sede de Alvalade, em Lisboa. Os Irmãos da Mozart encontravam-se uma vez por mês, num local que só na sessão anterior era previamente combinado.
Às vezes, as reuniões decorriam no 1.º andar da Rua João Pereira da Rosa, n.º 14, no Chiado, precisamente a sede do Supremo Conselho para Portugal que funcionava sob a fachada da Associação Cultural Albert Pike. outras vezes, os encontros verificavam-se em salas de hotéis, como o Marriott, o Vip Zurique ou o Penta. Quando Nuno Vasconcellos tomou posse como venerável, a loja Mozart tinha pouco mais de um ano e meio desde que fora reerguida no final de 2006 por um grupo de Irmãos inspirados por Paulo Noguês, o primeiro venerável provisório da instalação, que poucos meses antes, a 22 de setembro de 2006, assumira idênticas funções na Loja Brasília, aberta no Porto.
O maçon, que já vinha dos tempos da Casa do Sino onde assumira até funções dirigentes, era militante do PS há largos anos. Mas também tinha outros interesses. Por exemplo, desempenhava as funções de vice-presidente do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação, era secretário-geral da Associação de Amizade Portugal/EUA (AAPEUA) e dono da editora Diário de Bordo, a proprietária da revista Segurança e Defesa, que ainda hoje publica livros e textos de altos quadros políticos, militares ou das polícias e serviços de informações. Ao setor da segurança interna, a revista tinha ido buscar até uma boa parte dos seus órgãos sociais, como se verificava com o próprio espião Silva Carvalho. Mas havia muitos outros maçons ou ex-maçons, como António Nunes (então diretor da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica e hoje presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses), Heitor Romana (antigo diretor de recrutamento do SIS/SIED), Francisco Oliveira Pereira (então diretor da PSP) e António da Silva Ribeiro (ex-diretor de Pesquisa e Operações do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa e Militares e depois Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas).
Com o passar dos meses, a Loja Mozart tornou-se realmente influente, mas representava apenas o último dos vértices de um triângulo de poder que os maçons regulares tinham congeminado alguns anos antes quando ressuscitaram formalmente, em novembro de 2004, a Loja Mercúrio, n.º 35. O plano maçónico tivera sempre o apoio do grão-mestrado da GLLP/GLRP, sobretudo desde que fora apresentado e incentivado pelo grão-mestre José Manuel Anes, um velho maçon que dirigiu o laboratório científico da PJ e que depois desempenhou funções dirigentes em várias instituições caracterizadas por juntarem (ou recrutarem) muitos maçons. Por exemplo, foi vogal do conselho consultivo do Instituto Transatlântico Democrático (ITD), vice-presidente do conselho consultivo do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação, liderado pelo maçon Manuel Augusto Pechirra, que foi diretor da revista Segurança e Defesa e secretário-executivo do OSCOT, Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, uma instituição cujo mentor foi o também maçon e ex-ministro da Administração Interna Rui Pereira.
O “projeto Mercúrio” tinha vários objetivos estratégicos e um deles era a “intervenção social e política”. A missão nem sequer era nova na maçonaria regular, pois os Irmãos assumiram que estavam simplesmente a recuperar uma ideia nascida nas reuniões conspirativas realizadas na Casa do Sino, a célebre moradia alugada em Cascais e usada em meados dos anos 90 como sede da GLRP – “Em termos de atuação, pretendeu-se dar sequência ao projeto inicial de 1994.” Dez anos depois, durante a cerimónia secreta do reerguer de colunas da Mercúrio, os Irmãos aprovaram a nova “declaração de princípios” que reafirmava os anteriores “vetores estratégicos” da loja maçónica.
De acordo com o plano traçado, a loja começou a recuperar vários maçons adormecidos e a iniciar muitos outros, como aconteceu com Isaltino Morais, Jorge Silva Carvalho ou Nuno Vasconcellos. Os novos maçons enquadravam-se perfeitamente no “perfil de recrutamento” aprovado na loja, com O Aprendiz (uma publicação interna da GLLP) a destacar o crescimento exponencial das influentes iniciações e a garantir que a Mercúrio era constituída por Irmãos com “idades entre os 25 e os 75 anos”, que se encontravam espalhados por Portugal Continental, mas também pelos Açores e a Madeira, Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Fortalecida, em número e em poder pelo tipo de gente iniciada de forma muito discreta, a loja avançou para a fase seguinte do plano: a criação as já referidas oficinas ligadas umbilicalmente à Mercúrio. Isso concretizou se logo a partir de meados de 2006, no fim dos dois mandatos de Paulo Noguês, quando estava prestes a ser eleito o novo venerável da Mercúrio, José Moreno. “Nessa altura, e de acordo com um projeto já longamente debatido, membros da RL Mercúrio foram encarregados de reerguer as colunas das Lojas Brasília, Mozart […]”, concretiza O Aprendiz. E assim foi. A primeira sessão da Loja Brasília, n.º 11, ocorreu a 22 de setembro de 2006. Instalada secretamente a oriente de Santa Maria da Feira, tinha como objetivo o recrutamento de profanos influentes, ou que pudessem vir a sê-lo, no Norte e no centro do País (preferencialmente no eixo Coimbra, Porto e Viseu).
Entre os peticionários que reergueram em 2006 as colunas da oficina, estavam oito mestres maçons encarregados da tarefa e que vieram todos da Loja Mercúrio. Três deles eram Rui Paulo Figueiredo (um assessor do PS), o espião Jorge Silva Carvalho e o então líder da Juventude Socialista, Duarte Cordeiro. A Loja Mozart seria aberta pouco depois, ainda nesse ano e que cativou dezenas de novos maçons até que guerras internas e o escândalo da Ongoing/Silva Carvalho afastou em definitivo muitos dos seus membros, inclusive espiões como o agora novo diretor do SIED, Manuel Silva Vieira.
Há uns anos, outro espião de carreira mandou no SIED, Jorge Silva Carvalho, mas tratava-se de um oficial de informações oriundo do SIS. Antes de cair em desgraça e se incompatibilizar até com vários elementos das secretas, Silva Carvalho teve precisamente em Manuel Silva Vieira um dos seus homens de maior confiança, tanto nas secretas como na própria maçonaria da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP). Ou seja, antes de incompatibilizarem de vez (entre outros operacionais da secreta, Silva Vieira chegou a ser afastado do SIED por Jorge Silva Carvalho e ameaçado que poderia ter o telefone sob vigilância porque andaria a divulgar segredos internos a jornalistas), os dois espiões repartiram interesses profissionais e pessoais até num projeto que na maçonaria regular se chamou as “lojas de poder”. Tratava-se das célebres lojas maçónicas Mercúrio, Brasília e Mozart, sendo que esta última foi a loja que tentou recrutar (ou recrutou mesmo) o então líder parlamentar do PSD e hoje primeiro-ministro Luís Montenegro.
A história merece ser contada porque já lá vão uns anos e a memória mediática tende a esquecer muitos episódios devido à voragem dos acontecimentos. E é uma história que revela, mais uma vez, como a maçonaria atrai até os espiões. Se Silva Vieira passar na futura audição parlamentar, os dois principais serviços de informações portugueses, o SIS e o SIED, terão diretores que foram iniciados na maçonaria da GLLP e do Grande Oriente Lusitano (o também maçom e antigo espião Carvalhão Gil chegou a pagar as quotas do atual diretor do SIS Adélio Neiva da Cruz) e que hoje serão “maçons adormecidos”, que é o estado em que os Irmãos ficam depois de apresentarem o chamado um atestado de quite que os afasta das lojas maçónicas. Tal como de resto sucede com o próprio secretário-geral do SIRP, o diplomata Vítor Sereno.
Só na célebre loja Mozart chegaram a estar, além de Jorge Silva Carvalho, pelo menos, mais três espiões. No caso do então técnico superior de informações do SIS, João Paulo Alfaro, a cerimónia de iniciação terá ocorrido ainda na Loja Mercúrio, a 20 de março de 2006, com o maçon espião a transitar para o grau de companheiro, a 16 de outubro do ano seguinte, e finalmente, para o de mestre, a 1 de outubro de 2007. O outro maçon espião era Francisco Rodrigues, um tenente-coronel da GNR que passou pelo SIS e que, em 2007, quando Silva Carvalho era chefe de gabinete do SIRP, foi nomeado pelo então secretário-geral Júlio Pereira como diretor do Departamento de Segurança, um dos quatro departamentos comuns ao SIS e ao SIED. O terceiro espião era um dos mais antigos diretores de departamento do SIED, Manuel Silva Vieira, que foi iniciado em 2007 já na Loja Mozart e chegou ao grau de mestre em 2009.
Os espiões não estavam apenas na Loja Mozart. Havia também elementos em várias outras lojas da maçonaria regular (e no GOL) como a Mercúrio, onde foi iniciado em 2006 o empresário e dono da Ongoing, Nuno Vasconcellos. Cerca de dois anos depois, a 29 de setembro de 2008, Vasconcellos foi instalado venerável mestre da Loja Wolfgang Amadeus Mozart, n.º 49 e quem lhe passou o malhete, num templo maçónico de Lisboa, foi o seu amigo espião Jorge Silva Carvalho, que dirigia há cerca de seis meses SIED. Durante o ano seguinte, até à última quinzena de junho de 2009, o líder da Ongoing Strategy Investments, a holding da família Rocha dos Santos, mandou naquela que já era vista por alguns maçons regulares como a mais poderosa das então 54 lojas ativas da GLLP/GLRP.
O empresário milionário com então 44 anos, gestor formado no Curry College, em Boston, EUA, passara a liderar cerca de 45 Irmãos com profissões tão díspares como as de espiões, chefes de gabinete de ministros, deputados, advogados, professores universitários, assessores diplomáticos. Como habitualmente, as reuniões da Loja Mozart continuaram a ser rodeadas de um enorme secretismo, nada comparável com aquilo que acontecia com a generalidade das oficinas da maçonaria regular que, ainda sem grande interesse da generalidade da comunicação social, reuniam pacatamente na sede de Alvalade, em Lisboa. Os Irmãos da Mozart encontravam-se uma vez por mês, num local que só na sessão anterior era previamente combinado.
Às vezes, as reuniões decorriam no 1.º andar da Rua João Pereira da Rosa, n.º 14, no Chiado, precisamente a sede do Supremo Conselho para Portugal que funcionava sob a fachada da Associação Cultural Albert Pike. outras vezes, os encontros verificavam-se em salas de hotéis, como o Marriott, o Vip Zurique ou o Penta. Quando Nuno Vasconcellos tomou posse como venerável, a loja Mozart tinha pouco mais de um ano e meio desde que fora reerguida no final de 2006 por um grupo de Irmãos inspirados por Paulo Noguês, o primeiro venerável provisório da instalação, que poucos meses antes, a 22 de setembro de 2006, assumira idênticas funções na Loja Brasília, aberta no Porto.
O maçon, que já vinha dos tempos da Casa do Sino onde assumira até funções dirigentes, era militante do PS há largos anos. Mas também tinha outros interesses. Por exemplo, desempenhava as funções de vice-presidente do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação, era secretário-geral da Associação de Amizade Portugal/EUA (AAPEUA) e dono da editora Diário de Bordo, a proprietária da revista Segurança e Defesa, que ainda hoje publica livros e textos de altos quadros políticos, militares ou das polícias e serviços de informações. Ao setor da segurança interna, a revista tinha ido buscar até uma boa parte dos seus órgãos sociais, como se verificava com o próprio espião Silva Carvalho. Mas havia muitos outros maçons ou ex-maçons, como António Nunes (então diretor da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica e hoje presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses), Heitor Romana (antigo diretor de recrutamento do SIS/SIED), Francisco Oliveira Pereira (então diretor da PSP) e António da Silva Ribeiro (ex-diretor de Pesquisa e Operações do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa e Militares e depois Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas).
Com o passar dos meses, a Loja Mozart tornou-se realmente influente, mas representava apenas o último dos vértices de um triângulo de poder que os maçons regulares tinham congeminado alguns anos antes quando ressuscitaram formalmente, em novembro de 2004, a Loja Mercúrio, n.º 35. O plano maçónico tivera sempre o apoio do grão-mestrado da GLLP/GLRP, sobretudo desde que fora apresentado e incentivado pelo grão-mestre José Manuel Anes, um velho maçon que dirigiu o laboratório científico da PJ e que depois desempenhou funções dirigentes em várias instituições caracterizadas por juntarem (ou recrutarem) muitos maçons. Por exemplo, foi vogal do conselho consultivo do Instituto Transatlântico Democrático (ITD), vice-presidente do conselho consultivo do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação, liderado pelo maçon Manuel Augusto Pechirra, que foi diretor da revista Segurança e Defesa e secretário-executivo do OSCOT, Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, uma instituição cujo mentor foi o também maçon e ex-ministro da Administração Interna Rui Pereira.
O “projeto Mercúrio” tinha vários objetivos estratégicos e um deles era a “intervenção social e política”. A missão nem sequer era nova na maçonaria regular, pois os Irmãos assumiram que estavam simplesmente a recuperar uma ideia nascida nas reuniões conspirativas realizadas na Casa do Sino, a célebre moradia alugada em Cascais e usada em meados dos anos 90 como sede da GLRP – “Em termos de atuação, pretendeu-se dar sequência ao projeto inicial de 1994.” Dez anos depois, durante a cerimónia secreta do reerguer de colunas da Mercúrio, os Irmãos aprovaram a nova “declaração de princípios” que reafirmava os anteriores “vetores estratégicos” da loja maçónica.
De acordo com o plano traçado, a loja começou a recuperar vários maçons adormecidos e a iniciar muitos outros, como aconteceu com Isaltino Morais, Jorge Silva Carvalho ou Nuno Vasconcellos. Os novos maçons enquadravam-se perfeitamente no “perfil de recrutamento” aprovado na loja, com O Aprendiz (uma publicação interna da GLLP) a destacar o crescimento exponencial das influentes iniciações e a garantir que a Mercúrio era constituída por Irmãos com “idades entre os 25 e os 75 anos”, que se encontravam espalhados por Portugal Continental, mas também pelos Açores e a Madeira, Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Fortalecida, em número e em poder pelo tipo de gente iniciada de forma muito discreta, a loja avançou para a fase seguinte do plano: a criação as já referidas oficinas ligadas umbilicalmente à Mercúrio. Isso concretizou se logo a partir de meados de 2006, no fim dos dois mandatos de Paulo Noguês, quando estava prestes a ser eleito o novo venerável da Mercúrio, José Moreno. “Nessa altura, e de acordo com um projeto já longamente debatido, membros da RL Mercúrio foram encarregados de reerguer as colunas das Lojas Brasília, Mozart […]”, concretiza O Aprendiz. E assim foi. A primeira sessão da Loja Brasília, n.º 11, ocorreu a 22 de setembro de 2006. Instalada secretamente a oriente de Santa Maria da Feira, tinha como objetivo o recrutamento de profanos influentes, ou que pudessem vir a sê-lo, no Norte e no centro do País (preferencialmente no eixo Coimbra, Porto e Viseu).
Entre os peticionários que reergueram em 2006 as colunas da oficina, estavam oito mestres maçons encarregados da tarefa e que vieram todos da Loja Mercúrio. Três deles eram Rui Paulo Figueiredo (um assessor do PS), o espião Jorge Silva Carvalho e o então líder da Juventude Socialista, Duarte Cordeiro. A Loja Mozart seria aberta pouco depois, ainda nesse ano e que cativou dezenas de novos maçons até que guerras internas e o escândalo da Ongoing/Silva Carvalho afastou em definitivo muitos dos seus membros, inclusive espiões como o agora novo diretor do SIED, Manuel Silva Vieira.

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