sábado, 9 de agosto de 2025

CNN: A Jihad na Europa

 


Sobre o programa:

Nas últimas décadas, a Europa tem enfrentado a multiplicação de ataques jihadistas em seu território, em quase todos os países – 150 ataques, mais de 800 mortos e quase 5.000 feridos. No velho continente, a expansão desta ideologia radical e a perpretação de seus atos mortais tornaram-se um dos maiores problemas políticos e intelectuais da atualidade. Embora o fenômeno esteja no centro do debate público, ele continua mal compreendido. 

Esta série mergulha em um sistema altamente complexo: o do jihadismo europeu. Longe de ser um fenómeno isolado, ele se encontra no cruzamento de uma multiplicidade de questões políticas, socioeconômicas, religiosas e culturais. Grandes crises geopolíticas – que instilam raiva e medo – ajudaram a ideologia a se enraizar por todo o continente. França, Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Países Baixos e Dinamarca tornaram-se grandes fontes de recrutas para o ISIS, juntos representando 90% dos jihadistas europeus no Oriente Médio. Como chegamos aqui? Desde o início do conflito no Afeganistão, no início dos anos 1980, até a recente derrota militar do Estado Islâmico, este documentário examina minuciosamente o estabelecimento e a propagação de um terrível padrão de violência, enquanto questiona o futuro das nossas sociedades.
Combinando arquivos e intervenções de historiadores, cientistas políticos e ex-agentes da CIA e de contrterrorismo, esta minissérie oferece uma reconstrução histórica e geográfica sem precedentes que revela uma rede internacional complexa e ainda ativa. Combatendo o reducionismo, opta por analisar os mecanismos extremistas de dentro, dando a palavra a quem viveu isso – de longe ou de perto.

Mini-série emitida pela CNN Portugal

Comentário roubado ao João Braz

Por vezes, um documentário escapa ao crivo da propaganda dominante e da habitual mediocridade televisiva. A Jihad na Europa é um desses casos. Apesar de conter algumas leituras ideológicas discutíveis como a sugestão de que Ronald Reagan teria responsabilidade directa na génese do novo fundamentalismo islâmico, tese que carece de maior nuance, o documentário levanta questões pertinentes e baseadas em factos documentados.

Dois pontos centrais emergem:
Em primeiro lugar, o islão, ao contrário de muitas tradições religiosas ocidentais, não separa, na sua matriz clássica, a esfera política da esfera religiosa. O conceito de ummah (comunidade dos crentes), de sharia (lei islâmica) e de califado reflecte uma visão teológica que integra política, jurisprudência e religião como dimensões inseparáveis da vida humana.

Em segundo lugar, trata-se de uma religião com vocação universalista e expansiva, que historicamente dividiu o mundo entre a dar al-Islam (terra do islão) e a dar al-Harb (terra da guerra), sendo os não-crentes, os kuffar, objecto, segundo certas interpretações, de conversão ou subjugação.

Durante as últimas décadas, houve tentativas explícitas, embora minoritárias, de imposição violenta da sharia em solo europeu. Este documentário permite-nos perceber como a estratégia jihadista evoluiu. Os atentados, o conflito directo deu lugar à aposta nas dinâmicas demográficas, culturais e psicológicas, explorando os códigos morais e legais das sociedades ocidentais para avançar a sua influência, uma espécie de jihad pós-moderna, mais subtil e eficaz.

O caso da guerra da Bósnia (1992–1995) mostrou um dos momentos dessa “ofensiva”, e do que poderia e pode ser a radicalização dessa posição. Nesse conflito a Europa assistiu à emergência de brigadas de mujahideen estrangeiros, oriundos do Afeganistão, do Médio Oriente e do Norte de África, que se integraram nas forças muçulmanas bósnias com o objetivo de fazer triunfar a causa islâmica. 

Muitos desses combatentes introduziram a sharia em zonas sob controlo muçulmano, provocando tensões com os próprios bósnios, em geral mais secularizados. 
Embora o número de combatentes estrangeiros fosse relativamente pequeno o seu impacto simbólico e doutrinário foi enorme. O uso dessa violência extrema, execuções sumárias, massacres, violações e a propaganda jihadista difundida a partir da Bósnia ajudaram até consolidar uma nova geração de jihadistas globais. O “batalhão El-Mujahed” tornou-se uma referência para redes como a Al-Qaeda, que mais tarde recrutariam veteranos dessa guerra.

A resposta sérvia, por sua vez, foi brutal, e a escalada de violência levou a massacres generalizados, incluindo o genocídio de Srebrenica. No entanto, importa reconhecer, sem com isso justificar qualquer atrocidade que os primeiros actos de terror não partiram exclusivamente do lado sérvio. Há registo de massacres de civis sérvios em vilas dominadas por muçulmanos radicais, episódios muitas vezes omitidos ou relativizados no discurso ocidental.

Se a Sérvia acabou por ser punida severamente, tanto militar como politicamente, foi também, em parte, a sua resistência tenaz que impediu a consolidação de um emirado islâmico no coração da Europa. A presença dos mujahideen na Bósnia representa, assim, um marco decisivo na internacionalização do jihadismo e no uso instrumental de conflitos locais para promover uma agenda global.
A Europa progressista compreendeu verdadeiramente a natureza deste fenómeno...Gaza é tambem um capitulo que interessa a esta "batalha". 

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