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"O pensamento de Fanon, por ser uma negação da negação da humanidade do sujeito colonial, é a antítese da resignação ao fardo colonial e seu corolário, a racialização. Há pouco tempo, uma declaração minha ativou um sentimento de filiação ao “homem branco colonialista, racista e assassino” ao ponto de suscitar grande comoção coletiva no espaço público, o que prova que o imaginário colonial persiste nas nossas sociedades e o fantasma da hierarquia racial o ensombra.
Prova, também, que está por cumprir a visão de Fanon: “A morte do colonialismo é ao mesmo tempo a morte do colonizado e a morte do colonizador”. O colonialismo não morre tão somente pela libertação política e subjetiva do colonizado se o colonizador não o matar em si, política e subjetivamente. O pensamento de Fanon recusa facilitismo, confronta-nos a nunca resignar sempre que a dignidade esteja ameaçada. Era resolutamente contra o status quo.
A vontade de interrogar e desafiar permanentemente a realidade está bem plasmada na última frase de Pele Negra, Máscaras Brancas: “A minha última prece: ó meu corpo, faz de mim sempre um homem que interroga!” Ele sabia que só assim a rebeldia do espírito de liberdade contra a pobreza da certeza da servidão poderia triunfar.
O legado de Fanon é uma farmácia atual e necessário para curar o determinismo biológico que estratifica e fixa as pessoas em função da sua cor de pele ou cultura mas, sobretudo, para derrotar o supremacismo branco que estruturou todos os seus privilégios acumulados ao longo da história a partir da ideia de superioridade racial.

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