Há redes a vender milhares de moradas falsas a imigrantes. Em Lisboa, há prédios de três, quatro andares com 1400 residentes atestados pelas Juntas de Arroios, Penha de França e Santa Maria Maior, mas nem um décimo lá cabe e quase nenhum lá vive. SEF identificou casos também no Porto, Setúbal e Braga.
São apenas 400 metros de rua de uma ponta à outra, entre o Martim Moniz e o Largo do Intendente, ladeada de prédios estreitos e não mais altos do que um terceiro ou quarto andar. Há alguns fechados pela degradação, que vomita reboco e telhas para os passeios, e outros tantos em recuperação para imóveis de luxo e hostels turísticos, que a zona é localização premium. Os r/c são todos comerciais: restaurantes asiáticos, barbeiros a €5 o corte, agências de viagens para o Oriente, lojas de câmbios e transferências, minimercados étnicos, armazéns de revenda, bazares de bugigangas e talhos halal, propriedade de nepaleses, paquistaneses, indianos e bengalis, e de uns poucos portugueses que ali resistem de tempos mais marginais.
Vive-se uma outra Lisboa no Benformoso, sem a perda populacional das artérias vizinhas, sempre cheia de gente, com muitos homens e raras mulheres, sentados nos passeios e soleira das portas, a conversar na estrada ou a assomar nas janelas escancaradas das casas. Mas por mais mestria e despudor que se tenha no tetris humano da sobrelotação habitacional em que vivem tantos imigrantes, com o espaço alugado limitado a um colchão de beliche, não se consegue enfiar mais de 10 mil pessoas em simultâneo numa dúzia de edifícios pequenos.
(Continua)

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