O FALSO DEBATE SOBRE LIBERDADE
O Parlamento português decidiu restringir o uso da burca em espaços públicos, e imediatamente surgiu o coro previsível: “a mulher tem o direito de vestir o que quiser”.
É um argumento bonito, mas intelectualmente desonesto.
A liberdade de escolha pressupõe ausência de coação.
E ninguém pode, em consciência, afirmar que a burca — um símbolo nascido do medo e da submissão — é resultado de livre escolha.
Na maioria dos casos, o que se apresenta como “autodeterminação feminina” é pressão social, familiar ou religiosa.
O Parlamento português decidiu restringir o uso da burca em espaços públicos, e imediatamente surgiu o coro previsível: “a mulher tem o direito de vestir o que quiser”.
É um argumento bonito, mas intelectualmente desonesto.
A liberdade de escolha pressupõe ausência de coação.
E ninguém pode, em consciência, afirmar que a burca — um símbolo nascido do medo e da submissão — é resultado de livre escolha.
Na maioria dos casos, o que se apresenta como “autodeterminação feminina” é pressão social, familiar ou religiosa.
Mesmo em países europeus, muitas mulheres usam a burca porque temem o julgamento da comunidade, o isolamento ou o castigo.
O Islão, nos seus textos fundadores, não impõe a burca.
Fala em modéstia e recato, mas a cobertura total do corpo e do rosto é uma interpretação cultural e patriarcal, não uma ordem divina.
O próprio Sheik David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, reconheceu isso publicamente.
Ora, se não é mandamento religioso, o que significa o seu uso?
Significa submissão simbólica e social.
É a presença visível de uma ideologia que coloca a mulher abaixo do homem e a transforma num corpo a esconder, num sujeito a calar.
O DISCURSO DO SHEIK: NORMALIZAÇÃO DO RETROCESSO
O Sheik David Munir — figura mediática e bem tratada pela imprensa nacional — afirmou que “a burca não é obrigatória, mas deve ser respeitada enquanto escolha individual”.
À primeira vista, parece um discurso moderado e conciliador.
Na prática, é profundamente político.
Ao relativizar o significado da burca, o imã promove a aceitação cultural de um símbolo de opressão, transformando-o num simples elemento de “identidade”.
E ao fazê-lo, introduz no espaço público português a ideia de que qualquer prática religiosa — mesmo que anule direitos universais — merece respeito automático.
O problema é que essa “moderação” não defende o direito das mulheres, defende a imunidade cultural de sistemas patriarcais.
O Sheik Munir é inteligente: sabe que o Islão não impõe o véu integral, mas usa o discurso da tolerância para ganhar espaço e legitimidade política.
Cada vez que uma figura religiosa é amplificada pelos media sem contraditório, o país cede um pedaço da sua laicidade.
O que ele promove, em última análise, é a aceitação gradual de uma exceção permanente: a ideia de que certas comunidades podem viver segundo regras próprias, acima das leis da República.
PORQUE ALGUMAS MULHERES AINDA A DEFENDEM
Algumas mulheres muçulmanas afirmam usar a burca “por vontade própria”.
Mas a psicologia social explica: quando uma norma de submissão é interiorizada desde a infância, a obediência passa a ser confundida com fé, e o medo com virtude.
É o mesmo mecanismo que leva vítimas de regimes autoritários a defender os seus algozes — a chamada submissão interiorizada.
Outras veem na burca um ato de identidade cultural — uma forma de se distinguir num mundo ocidental que as julga.
Mas o resultado é o mesmo: o corpo torna-se bandeira e a mulher desaparece por detrás de uma causa que não é dela, mas de quem a formou para servir.
A verdadeira liberdade não é poder tapar o rosto.
É poder mostrá-lo sem medo de ninguém.
O FEMINISMO QUE ABANDONOU AS MULHERES
O maior paradoxo é ver feministas e organizações ditas progressistas a defender o uso da burca como “expressão da autonomia feminina”.
O feminismo clássico combatia o véu como símbolo de submissão.
O feminismo contemporâneo, capturado pelo identitarismo, passou a desculpá-lo em nome da diversidade cultural.
A Amnistia Internacional é o exemplo perfeito dessa hipocrisia:
denuncia o uso obrigatório da burca no Irão, mas defende o direito de usá-la na Europa — como se o mesmo ato pudesse ser opressão lá e liberdade cá.
Se é opressão quando imposta, não deixa de o ser quando normalizada.
A diferença está apenas na forma, não na essência.
Este duplo padrão é o retrato de uma esquerda que prefere parecer tolerante a ser coerente.
Teme ser acusada de islamofobia e, por isso, aceita a desigualdade quando ela vem “do outro”.
É o triunfo do relativismo sobre o universalismo dos direitos humanos.
A CONTRADIÇÃO IMPOSSÍVEL: ISLAMISMO E MOVIMENTO LGBTQIA+
A esquerda progressista construiu uma coligação de minorias onde tudo cabe: feministas, ambientalistas, ativistas LGBTQIA+ e defensores do multiculturalismo islâmico.
Mas essa aliança é ideologicamente impossível.
O islamismo tradicional condena a homossexualidade como pecado grave — e, em dezenas de países, como crime punível com prisão ou morte.
Em nenhum Estado islâmico há igualdade de género ou liberdade sexual plena.
Mesmo em comunidades islâmicas europeias, a hostilidade ao movimento LGBTQIA+ é aberta e frequente.
O progressismo europeu, contudo, finge não ver.
Tenta proteger todas as minorias ao mesmo tempo, mesmo quando uma destrói a outra.
É o “multiculturalismo esquizofrénico”: um sistema que exige aceitação de valores mutuamente excludentes e depois culpa o Ocidente quando a convivência falha.
O CONFRONTO COM A IGUALDADE DE GÉNERO
O princípio universal da igualdade de género — base do direito europeu — é inconciliável com o islamismo tradicional.
A sharia define hierarquia entre homem e mulher: o homem herda o dobro, o testemunho feminino vale metade, a mulher precisa de autorização para viajar, casar ou trabalhar.
Isto não é exceção cultural, é lei religiosa.
Defender igualdade e ao mesmo tempo proteger a expansão dessas normas é autodestruição moral.
A esquerda tolera em nome da diversidade aquilo que, na sua própria lógica, deveria denunciar como violência estrutural.
O resultado é visível: bairros onde a separação de género reaparece, escolas onde meninas são retiradas das aulas de educação sexual, mulheres que já evitam circular sozinhas.
A Europa que dizia “nunca mais” começa a ceder terreno ao regresso do mesmo patriarcado, só que agora importado.
A ILUSÃO DO MULTICULTURALISMO
O multiculturalismo não trouxe integração; trouxe comunidades paralelas.
Em nome da “inclusão”, o Estado laico começou a recuar.
Proibiu o crucifixo, mas aceita a burca.
Critica a Igreja Católica, mas teme questionar o Islão.
As elites progressistas criaram um sistema onde as leis universais se aplicam apenas aos ocidentais.
As minorias religiosas ganham imunidade moral — não por mérito, mas por medo político.
É o novo dogma europeu: “respeitar todas as culturas, mesmo as que não respeitam ninguém”.
A LIBERDADE SEM ADJETIVOS
Mostrar o rosto não é um gesto político, é um gesto humano.
É dizer “eu existo”, “sou reconhecida”, “sou igual”.
Quando o Estado permite que a mulher se apague por trás de um pano em nome da fé, abdica da igualdade em troca da aparência de tolerância.
Portugal é um Estado laico.
E num Estado laico, nenhuma religião tem o direito de transformar o corpo humano num símbolo ideológico.
A burca não é um adereço de moda — é a negação visível da identidade feminina.
O QUE ESTÁ REALMENTE EM CAUSA
A polémica sobre a burca não é sobre vestuário — é sobre valores civilizacionais.
É sobre se o Ocidente ainda acredita nos seus próprios princípios ou se vai continuar a destruí-los para não ser acusado de intolerância.
É sobre se queremos viver numa sociedade de pessoas visíveis, livres e iguais, ou numa de guetos culturais onde cada um responde apenas às suas tradições.
Quando figuras como o Sheik David Munir falam de “respeito” e “diversidade”, não estão a defender o pluralismo.
Estão a testar os limites da submissão cultural europeia.
Sabem que o medo de ofender é hoje mais forte do que a vontade de defender.
E cada vez que os media lhes dão palco sem contraditório, Portugal cede mais um metro à fragmentação da sua própria soberania moral.
CONCLUSÃO
A burca é o espelho perfeito do que o progressismo europeu se tornou:
um sistema que confunde liberdade com rendição, diversidade com relativismo e tolerância com medo.
O discurso do Sheik David Munir não promove o diálogo — promove a aceitação do recuo civilizacional.
Apresenta-se como voz de moderação, mas o seu efeito é o da normalização do desigual.
Cada frase aparentemente pacífica é uma peça na lenta desmontagem do princípio da igualdade.
Portugal precisa de líderes que defendam a liberdade sem vergonha e a igualdade sem exceções.
Porque quem relativiza a opressão em nome da tolerância não é progressista — é cúmplice.
A mulher livre mostra o rosto.
A sociedade livre reconhece-o.
E o Estado livre não pede desculpa por o defender.
WHISTLEBLOWER.Pt

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