No espaço de quatro dias, a Impresa evolui na informação ao mercado
sobre o negócio com os italianos da MFE. Agora, já admite que "não está
afastada" a venda do controlo da SIC e Expresso. Agora é oficial: Nas contas semestrais comunicadas ao mercado esta terça-feira à tarde, a Impresa SGPS não só confirma as negociações com a MediaForEurope (MFE), como revela a possibilidade de venda de uma posição acionista “com efeitos de controlo“. É a primeira vez, num documento oficial, que a família Balsemão clarifica o que pode ser o desfecho das negociações com o grupo fundado por Berlusconi. A entrada do grupo italiano poderá significar o fim de um ciclo e uma mudança de poder na Impresa.
Impresa precisa de 80 milhões para reequilibrar contas
No dia 27 de setembro, dia seguinte à notícia do ECO, a Impresa fez um comunicado ao mercado a confirmar as negociações. “Face às notícias divulgadas na comunicação social, a Impresa informa que lhe foi comunicado pelo seu acionista maioritário [Impreger] que este se encontra a desenvolver contactos, em exclusividade, com o grupo MFE com vista à avaliação de potenciais operações societárias para a aquisição de uma participação relevante na Impresa”, refere a empresa. E assinalava que não existia “qualquer acordo vinculativo entre o acionista e a MFE” para o negócio. Agora, ainda sem nova informação conhecida do mercado, a Impresa SGPS deixa saber no relatório e contas do primeiro semestre — cujos resultados, um prejuízo de 5,1 milhões de euros, já eram conhecidos — uma evolução nos termos do que pode vir a ser o negócio.
Na Nota 27 do relatório e contas dos primeiros seis meses, são identificados dois eventos subsequentes a junho. O falhanço da venda do edifício-sede a um fundo do BPI por 37 milhões de euros e as negociações com o grupo de media que foi fundado por Berlusconi e é hoje um dos maiores operadores televisivos da Europa. As diferenças são subtis em relação ao comunicado ao mercado do passado sábado, mas reveladoras: “Fomos informados pelo acionista maioritário [Impreger] que se encontram em curso negociações, em exclusividade, com o Grupo MFE – MediaForEurope N.V., tendo em vista a avaliação de potenciais operações societárias, nas quais não se encontra afastada a possibilidade de aquisição, por aquele, de uma participação relevante (direta ou indireta) para efeitos de controlo da Impresa, sendo que, a esta data, não existe qualquer acordo vinculativo para o efeito”.
Não só a Impresa assinala a possibilidade de mudança do acionista de controlo como antecipa de que forma pode vir a ser feito o negócio. Deste parágrafo, ao revelar tmbém que os italianos poderão controlar o grupo através de uma aquisição direta ou indireta, está na prática a confirmar que o negócio passará pela entrada no topo da cascata: Não diretamente na empresa cotada, a Impresa SGPS, mas na Impreger, a holding familiar que é o veículo da família Balsemão para controlar o grupo.
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A mudança na frase comunicada ao mercado é tanto mais surpreendente quando um administrador da CMVM tinha dito, no dia anterior, que já tinham sido prestados todos os esclarecimentos ao mercado sobre o negócio. “A CMVM suspendeu a negociação, comunicou a suspensão na sexta-feira, para o mercado e os investidores poderem absorver, compreender e valorizarem [a informação] que estava a ser prestada”, disse José Miguel Almeida, administrador da CMVM, aos jornalistas, na apresentação dos resultados globais do sistema de controlo de qualidade sobre a atividade de auditoria relativo ao ciclo 2024/2025. E mais: “Esta é a informação que considerámos adequada para levantar a suspensão”, referiu José Miguel Almeida, sendo que a partir desse momento, cabe aos “investidores retomarem as expectativas quanto a esta matéria”. “A preocupação da CMVM é que esteja no público a informação que é pública”, acrescentou.
O que é que se passou entre os dois comunicados? O ECO revelou que o negócio poderia mesmo significar uma mudança de controlo acionista da Impresa, com a aquisição, por parte dos italianos, de 75% da Impreger, a holding da família Balsemão que controla mais de 50% da sociedade cotada, a Impresa SGPS. A família Balsemão passaria, neste contexto, a acionista minoritária, mas isso, a confirmar-se, terá outra consequência: A obrigatoriedade de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a sociedade cotada, a Impresa SGPS, à luz dos artigos 186º e seguintes do Código de Valores Mobiliários.
A Impresa estava avaliada, a valores de sexta-feira, em cerca de 21 milhões de euros, mas disparou para o dobro depois do regresso à negociação, já na segunda-feira. Com um ‘free float’ de cerca de 30%, tem como acionistas, além da Impreger, o BPI (quase 4% do capital), a sociedade Newshold — de Álvaro Sobrinho — com 2,4%, o Santander Asset Management (SGOIC), o Azvalor Asset Management (SGIIC) e o Norges Bank, todos próximos dos 2%.
De acordo com as contas a 31 de dezembro de 2024 (entretanto, os números de 2025 revelaram um prejuízo ligeiramente superior a cinco milhões de euros no primeiro semestre), a dona da SIC e do Expresso precisa de uma recapitalização de cerca de 80 milhões de euros para repor a estrutura de capital a níveis sólidos
SAPO

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