segunda-feira, 27 de maio de 2024

O "menino-bonito" da extrema-direita francesa


PAULO REIS

Tem mais de um milhão de seguidores no TikTok, de acordo com a "euronews", e "deu uma lufada de ar fresco à política", refere um dos jovens entrevistados pela agência noticiosa, à porta de um comício do Reagrupamento Nacional (RN), antigamente liderado por Marine Le Pen.
Jordan Bardella, o terceiro político francês mais seguido na plataforma social, tem ascendentes italianos e argelinos, é filho e neto de imigrantes e lidera agora o partido francês mais bem colocado nas sondagens para as próximas eleições europeias: 33 por cento, contra os míseros 16 por cento do partido do presidente Macron.
A sua ascensão no partido, onde se filiou aos 16 anos, passou por um processo de "suavização" dos princípios políticos da geração Le Pen.
Num fenómeno que é transversal à Europa, o discurso anti-emigração continua a ser um dos pontos fortes dos programas eleitorais da direita. O centro-direita tem tentado, com escasso sucesso, "roubar" esse cavalo de batalha à extrema-direita.

O exemplo nacional

Em Portugal, ainda recentemente se assistiu a uma "manobra" dessas, quando da apresentação do livro de conteúdo conservador, "Identidade e Família". De uma forma totalmente inesperada, o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho assumiu um posicionamento típico da extrema-direita, ao associar o excesso de imigrantes ao aumento da criminalidade.   
Discursando antes da apresentação do livro, Passos Coelho fez questão de reavivar uma outra intervenção sua, em 2016, no Algarve, durante uma “Festa do Pontal” do PSD, lembrando que, já nessa altura, tinha alertado para os riscos da imigração, ao afirmar que era necessário sermos "um país aberto à imigração", mas acrescentando: “Cuidado que precisamos também de ter um país seguro“.
Um dos alvos que a extrema-direita aponta como fundamental, para as próximas eleições, é conseguir uma "minoria de bloqueio" (135 eurodeputados) que lhe permita impedir a aprovação de legislação como o Pacto de Migração europeu, salienta o canal noticioso euronews.

A "estrela" da política

Jordan Bardella atrai sobretudo os eleitores mais jovens, de acordo com a maioria das sondagens. Jovem, bem parecido, é uma espécie de versão mais nova de Marcelo Rebelo de Sousa - é um político que também nunca recusa uma "selfie".
A sua biografia também contribui para o seu sucesso político. Cresceu num bairro de habitação social, multiétnico, e é retratado, como salienta o jornal britânico "Guardian", como um "bom imigrante", alguém que "abraçou a cultura e civilização francesas".
Para além de cultivar o princípio de "A França para os Franceses", Jordan Bardella não se exime a criticar violentamente os muçulmanos, que considera serem uma "quinta coluna" que tem como objetivo conquistar o poder e impor os seus princípios a toda a população, destaca o jornal ritânico "Guardian".
A longo prazo, há quem coloque a possibilidade de Bardella ir mais longe e ser o candidato da extrema-direita às eleições presidenciais - isto caso Marine Le Pen se veja numa situação complicada, devido a uma investigação em curso, relacionada com um alegado desvio de fundos europeus.
O sucesso de Bardella assusta a esquerda, ao ponto de o acusarem de querer criar uma "Europa de arame farpado", como disse ao "Guardian" Pierre Jouvet, socialista e também candidato às europeias. Para este político de esquerda, a linguagem de Jordan Bardella é apenas uma espécie de "upgrade" do velho discurso anti-imigrante e xenófobo da família Le Pen: "Está sempre implícito que o responsável dos problemas dos franceses, o 'inimigo', é um estrangeiro, um norte-africano ou um muçulmano.
A grande diferença, argumenta Pierre Jouvet, é o facto de que a mensagem é a mesma mas difundida "com um tom de voz mais suave, equilibrado e calmo."

 

 

What's something that sucks about being white?

 

OLZHAS YESSENBAYEV (OPINION) - PUBLISHED in "Quora"

Quick disclaimer here: I am not White. I am not European. I am Asian, and I come from such a part of the world where History lessons are not tied up with Identity Politics and the concept of “White Guilt”. So perhaps you will be a bit shocked. If you are white, everyone will accuse you of racism, oppression, cultural appropriation, sexism, homophobia, Islamophobia - every sin in the world, even though you by all standards are better than 95 percent of the world. What’s about slavery?

Did you know that slavery existed throughout the entire history of human beings? Europeans were also held as slaves - not only in Ancient Rome but also quite recently - by historical standards - as part of the Arab, Barbary, and Ottoman slave trades. In Constantinople (present-day Istanbul), the administrative and political center of the Ottoman Empire, about a fifth of the population consisted of slaves in 1609 - many of whom came from Caucasus, Eastern Europe, and Africa.

And yet there is no “Turkish” guilt whatsoever. There is no “Arab” guilt. No one in the Arab or Turkish world has a “White Pride Parade” today, nor are Arabs forced by their educational system to cast aside their glorious history and deride their ancestors for slavery.

You can read the same about Slavery in Muslim Spain, in Iran, and so on. Slavery was ubiquitous until it was ended in the 20th century. By Europeans. What about “colonialism”? Did you know that it also existed pretty much everywhere in the world? Here, you can see, that almost a third of the European continent was once a place conquered by the Islamic states, let alone the Islamic conquest of North Africa. Why does no one speak of Islamic colonialism and Islamic guilt?

Colonialism was ubiquitous until it was ended in the 20th century. By Europeans. Life was a mess before the 20th century - pretty much everywhere in the world. The whole concept of human rights, that we today take for granted, did not at all exist until it was established by Europeans. I am by no means claiming that Europeans are - or were - holy.

It is just that everything bad that is ascribed to Europeans - colonialism, racism, slavery, sexism - was ubiquitous everywhere in the world, until it was ended by Europeans. It is just that Europeans were more successful at doing these things.

So please, stop hating your (European) history and take pride in it - just as everyone else in the world does. Every history of every race and ethnicity has its bright and its dark moments. Let’s forget what is long gone and look forward to a world where no such things will exist - only beautiful moments!

domingo, 26 de maio de 2024

Os cinco minutos mais longos da minha vida

  

O PASSAR DO TEMPO (CRÓNICA) - PAULO REIS

Durante uma reportagem na Guiné-Bissau (África Ocidental), um país devastado por uma violenta guerra civil, tive os cinco minutos mais longos da minha vida, por volta das 17 horas de um dia quente, numa “picada” poeirenta, que atravessava a “terra de ninguém”, entre o posto fronteiriço do Senegal e a localidade de Pirada, já em território da Guiné-Bissau.

Estava de pé, a meio da estrada, braços levantados e mãos cruzadas na parte de trás do pescoço, sentindo o cano de uma metralhadora encostada à nuca. Dei por mim a rezar em silêncio (”Pai nosso que estais no céu...”), lágrimas nos olhos, não por causa da dor de ter outros soldados senegaleses à minha frente, espancando-me com as coronhas das armas, mas porque pensava que o meu filho de 3 anos de idade nunca mais veria o pai.

Na altura, tinha deixado Macau, onde vivera os últimos 11 anos. Comecei a trabalhar no diário “A Capital”. Em 7 de junho de 1998, Ansumane Mané, Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, foi demitido por suposto contrabando de armas para rebeldes separatistas da região de Casamance no Senegal. No dia seguinte, iniciou uma rebelião militar contra o Presidente, Nino Vieira e foi o princípio de uma sangrenta guerra civil, com algo muito tradicional entre os povos daquele país: cortar a cabeça de inimigos mortos e mantê-los em casa, em um lugar especial, geralmente numa prateleira na sala de estar, como um troféu de guerra

Em 7 de maio de 1999, Nina Vieira foi deposto e Ansumane Mané tornou-se o homem forte da Guiné-Bissau. Duas semanas após o início da rebelião, convenci a editora de “A Capital”, Helena Sanches Osório, a mandar-me para lá.

O ex-presidente da Guiné-Bissau estava na capital, protegido por algumas centenas de soldados leais, com o apoio de um batalhão de pára-quedistas senegaleses. Apanhei o avião em Lisboa e desembarquei em Dakar, a capital do Senegal. Levava comigo uma série de contactos de guineenses, amigos de amigos meus, de Lisboa, e que me poderiam ajudar. Fiquei uns dias em casa de um desses amigos, num bairro fascinante. Os conhecidos e amigos do meu amigo falavam comigo não em crioulo, mas em português. Era um bairro onde se concentravam imigrantes guineenses e onde se viam camisolas do Benfica, Porto e Sporting, penduradas em lugar de destaque, nas cantinas, bares e mercearias. Ao fim de semana, juntavam-se em grupos, nas esplanadas improvisadas, com uma cerveja fresca na mão e o transístor sintonizado nas transmissões da rádio portuguesa. Sabiam ao que é que eu vinha e ajudaram-me imenso.

O primeiro passo daquela autêntica aventura começou às 4 da manhã, num terminal com centenas de carros, nos arredores de Dakar, ainda era noite cerrada. Naquele local concentravam-se as viaturas de transporte informal, a maioria modelos de carrinha Peugeot, completamente lapidadas. Os condutores apregoavam o seu destino e os clientes escolhiam o carro com esse destino. O meu amigo Embaló percorreu as ruas estreitas, aparentemente sem destino, mas acabou por encontrar o que procurava: um condutor amigo, que estacionava sempre no mesmo sítio, e em quem ele tinha confiança para me levar ao meu destino – a fronteira de Pirada, a 600 quilómetros de Dakar.

Esperámos cerca de meia-hora até a lotação do carro estar concluída. Lembro-me que era uma carrinha Peugeot 505, de certeza com mais de 20 anos. Quando tirei o maço de tabaco do bolso, para fumar um cigarro, o condutor chamou-me logo à atenção, dizendo que era proibido fumar por questões de segurança – algo perfeitamente cómico, quando se vai dentro de um carro a cair de podre.

Mas, como sempre, ali funcionava o desenrasque tipicamente africano. Mais ou menos de hora a hora, tínhamos de parar, para o condutor encher o radiador com água dos jerricans que transportava na bagageira do carro.

Era um reabastecimento que eu aproveitava para fumar um cigarro. Parámos numa vilória, por volta da hora do almoço. A refeição era simples: latas de sardinha marroquinas com as mais perfeitas “baguetes”francesas”. Apercebi-me depois de que todo o pão fabricado no Senegal era um resquício da dominação colonial.

A meio do caminho, encontrámos uma outra especificidade africana: uma zona onde a estrada estava cheia de buracos, tapados com terra vermelha. Um grupo de miúdos, a maioria adolescentes, bloqueava a estrada. Descobri depois que era um “negócio” comum: os jovens tapavam os buracos, com terra e depois exigiam um pagamento aos carros que ali circulavam. Se não houvesse pagamento, o carro era corrido à pedrada. Feitas as contas, lá seguimos caminho, com um calor inenarrável.

Chegámos ao destino depois de mais de 12 horas de viagem. A carripana pouco mais dava que 50 quilómetros à hora, com 600 quilómetros de trajecto. Durante toda a viagem, nunca me identifiquei como jornalista, à cautela. Inventei uma história, alegando que tinha família na Guiné-Bissau e estava de férias em Cabo Verde. Preocupados com o destino desses familiares, no meio de uma guerra civil, expliquei que a família em Lisboa me tinha pedido para tentar saber do seu paradeiro.

Acrescentei alguns pormenores verdadeiros – uma boa mentira precisa de alguma realidade factual – e disse aos meus companheiros de viagem que a minha família vivia na cidade de Gabú e eram libaneses. Nesta parte da história, conseguia ser convincente. Uma vizinha da minha mãe era libanesa e estava casada com um português, que tinha feito a tropa na Guiné-Bissau. Expliquei que o marido era meu tio, estabelecendo assim os necessários laços familiares para justificar a viagem. Chegámos a Pirada já de noite e arranjámos lugar para dormir – uma casa com quartos vagos, à laia de pensão, com um colchão de espuma a fazer as vezes de cama. O calor era tão forte que acabei por enrolar a espuma e optar por me deitar no chão de cimento – e calor era algo a que estava habituado, uma vez que nasci em Angola e vivi lá até aos meus 18 anos.

No dia seguinte, já na fronteira, esperámos algumas horas para “tomar o pulso” à situação. A fronteira do lado da Guiné-Bissau estava aberta e as formalidades foram simples. Apanhámos outra carrinha Peugeot para percorrer a meia-dúzia de quilómetros que nos separavam da fronteira senegalesa.

Aí, começaram os problemas. A meio do caminho apanhámos um controle das forças senegalesas. Obviamente que chamei logo a atenção – um branco no meio do nada, a viajar com um grupo de guineenses. Mandaram-me abrir a mochila e viram o computador portátil que levava comigo. A simpatia dos senegaleses, em relação aos portugueses era escassa, porque nos viam como apoiantes do Ansumane Mané.

Semanas antes desta minha viagem, o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, tinha ido a Bissau. Atravessou a linha da frente, para contactar com o líder rebelde. Perante as queixas do Ansume Mané, que lamentou não ter meios de comunicar com ninguém, Jaime Gama entregou-lhe um telefone-satélite que um dos elementos da sua delegação trazia consigo – pormenor que não ajudou nada na antipatia dos senegaleses.

Nessa altura, as coisas começaram complicar-se. O meu portátil era um Toshiba, modelo Satélite. Mal se aperceberam disso, os senegaleses tornaram-se extremamente hostis, acusando-me de ser um espião e de ir levar um telefone-satélite às forças do Ansumane Mané. Todos os meus esforços para lhes explicar que aquilo era um computador foram infrutíferos. Mandaram cruzar as mãos na nuca e começaram a espancar-me, com os cinturões, nas costas. Dois dos soldados que estavam à minha frente usaram as coronhas das armas para me agredir. Tudo isto no meio de uma berraria e ameaças que me davam um tiro.

Entretanto, surgiu um jipe, onde vinha um oficial que, soube depois, era capitão.

Decidiu levar-me para o quartel-general do batalhão ali colocado, em território senegalês, para ser interrogado pelo comandante, um tenente-coronal.

Mantive a história que tinha “construído” e tive uma ajuda do capitão, que sabia distinguir um computador portátil de um telefone-satélite. Como me explicou, já tinha feito parte de um destacamento de manutenção da paz, sem me dizer qual o país.

O espancamento tinha acabado, com a presença do capitão e, minutos depois, fui chamado à presença do tenente-coronel. De novo, repeti a história. Dez minutos depois, mandou-me sair e ficar à espera, numa espécie de palhota, com algumas cadeiras, à porta do quartel. Uma hora depois, apareceu um civil, um homem dos seus 50 anos, que me saudou com um ar amigável. Perguntou o que é que estava ali fazer, sem se identificar. Pela centésima vez, contei a história de estar à procura da família. E dessa vez, fui salvo pelos pormenores verdadeiros que tinha introduzido na história. Quando referi o nome da amiga da minha mãe, ele sorriu e disse-me: “Conheço-a bem, andámos juntos na escola. Ainda a semana passada estive com os pais dela, em Gabú. Diga-lhes que está tudo bem...”

Aliviado, como é natural, acrescentei mais alguns detalhes, dizendo-lhe que a amiga estava bem, especialmente satisfeita porque a filha tinha sido admitida como bailarina no São Carlos – o que também era verdade.

O ambiente ficou mais relaxado e o meu interlocutor revelou que era coronel das forças armadas, estava do lado do Nino Vieira e tinha-se deslocado à fronteira para vir buscar um contingente de reforços senegaleses, para tentar uma incursão a partir da zona de Pirada. Chamou um dos soldados e mandou-o buscar duas cervejas. Confesso que nunca na vida uma cerveja me soube tão bem.

O coronel das forças guineenses deixou a cerveja a meio e entrou no quartel, penso que chamado pelo comandante do batalhão senegalês.

Pouco depois, formou-se uma coluna de cinco jipes e o tenente-coronel mandou-me entrar no veículo onde ele ia. Deixaram-me na fronteira guineense e o coronel virou-se para mim e deu-me um conselho: “Não te quero ver aqui novamente”. Assenti veemente com a cabeça. Não fazia tensões de ali voltar, de facto. Mas acabei por o fazer, numa segunda incursão, até conseguir entrevistar o líder golpista, Ansumane Mané. Mas isso é outra história.

 

The tragedy of Alcafache

  

O PASSAR DO TEMPO (CRÓNICA) - PAULO REIS

In 1997, Macao became to small for me, at the time Editor of a Portuguese daily newspaper, "Gazeta Macaense" and for the last Portuguese Governor of Macao (also known, in the British Media of Hong Kong as "The Last Plunderer of Macao"). I had been honoured, since 1995, with the label of "Public Enemy Nº 1" of Army General Rocha Vieira.

After being jobless, a outcast and a pariah among the Portuguese community for two years, I decided to went back to Portugal, probably until December 1999, when Macao would be handed over to China and I was sure it would be safe for me to return, as the small territory would enjoy a more democratic and free way of life, mainly for journalists that dare to not follow the dictates of General Rocha Vieira – a man who just was not able to understand some simple and basic concepts, that existed in Europe since the the Storming of the Bastille, 14 July 1789 - not even with the help of a drawing. 

A good friend of mine, a female journalist also working in Macao, coined a funny phrase to define General Rocha Vieira peculiar way of ruling Macao: “Um regime de bota cardada e tropa na parada” [“A carded boot regime, where everybody should lined up like soldiers at the barracks parade”].

It was a difficult decision, to go back to Portugal. I was married for two years, had a one-and-half year old son, but in Macao I couldn't find work, not even at the local garbage collector company.

I went to Portugal on June 1997 and start to work at the daily “A Capital”. On June 7th, 1998, Ansumane Mané, Chief of Staff of the armed forces of Guiné-Bissau, was dismissed for allegedly smuggling arms to Casamance separatist rebels in Senegal. Next day, he started a military rebellion against the President, Nino Vieira and it was the beginning of a bloody civil war, with something very traditional among people of that country: cutting the head of dead enemies and keeping at home, on a special place, usually on a shelve in the living-room, as a war trophy

On May 7th 1999, Nina Vieira was deposed and Ansumane Mané became the strong-man of Guiné-Bissau. Two weeks after the rebellion started, I convinced the Editor of “A Capital”, Helena Sanches Osório, to send me there. That is a chronicle I will publish, soon. Until than, my career as a journalist was made on the political field, with the exception of the reporting, for 12 non-stop working hours, of the biggest train accident in Portugal (more than 50 persons killed, around 200 injured) at Alcafache, near Viseu.

I was working at “Radio Renascença”, as Editor of the 4'clock to midnight news shift. At 6h54, I was inside the cabin, ready to begin the 7'clock newscast (18/20 minutes) as “pivot”. After the “beep” of 7'clock, there was a “jingle” of 3 seconds, I opened the microphone and said the standard phrase (in Portuguese..): “Good evening, Radio Renascença, 7'clock news” and turned off the micro, while 2/3 “jingles”, advertisements, went on air. I switch on the micro and start to read the first phrase of the first story, when the journalist at my right side poked me strongly in the arm and pointed to the window, behind where was the sound technician.

I was sitting with my face to the wall, the window was on my left side, so I turned my head to look at it, while keeping the sheet of paper in front or my eyes, never stopped reading. Gave a very quick look ate the window and our colleague Inês Dentinho, jumping and very agitated, had a A/4 sheet paper against the window.

I had a quick look and read a few words, in a 10th of a second, without stopping reading the news. The words were: “Big train accident Alcafache Viseu + 30 dead”. Just made quickly switch, as soon as I finished the story I was reading, and gave the news of the train disaster, stressing that we will be following the accident, as soon we had more information.

When I get out of the news cabin, around 7h25, it was decided that I should go to Alcafache, 300 miles from Lisbon. 15 minutes after that, we received a phone call from the Prime-Minister's office. Mário Soares, several ministers (Health, Interior and so on) where leaving to Alcafache in 25 minutes and invited a journalist from each one of the 3 national radio networks to go with him.

We left Lisbon at 8h30 and arrived at the place of the accident, a train line 500 meters from the road, around 11h00. As I walked through a pine forest, I had a very strange sensation. It had summer shoes and felt the ground hot, 300 meters from the place. The two trains had a frontal collision, there was a big explosion and a fire, for more that one hour.

I followed the Prime-Minister and recorded his talk with the head of firemen services who gave him a detailed report. I looked to my watch and I realized I had 8/9 minutes to find a phone, call Lisbon and either record 1 or 2 minutes or go direct, live, on the midnight news – there was no mobile phones, in 1985. I saw several young man, in the road where the Prime-Minister's convoy of cars stopped, with their motorcycles, just looking at a distance, because the area was cordon-off by police. I talked to one of them and asked if he knew where I could find the nearest phone boot. 

There was one, 2 miles from there, in a 40-people tiny village. It was a private phone, at the local grocery store. I told him I was a journalist and asked him to drive me there in his motorcycle. 5 minutes after, we were knocking at the door of the home of the owner of the grocery store. He was already sleeping, but was very helpful. Two minutes before midnight, I was dialling the direct number for the news room.

After the midnight beep, the pivot transferred the news to me. I went on air, live and I was the first journalist to made a report from the place of the accident. I spend the rest of night and part of he morning - until 11'clock - on the local, going to the grocery shop 7/8 minutes before every hourly newscast (the owner gave me the key of the store, to use the phone during the night and went back to bed!).

At 1'clock, I had a big breaking story. I grilled the secretary for Transports, Murteira Nabo, to know what I was sure he already knew: why did the accident happened. After some insistence, he told me, off-the-record, because the official inquiry didn't even started, that they already knew it was human error. The train traffic controller of that area failed to alert the driver of the train coming from Porto to the Spanish frontier to stop at a station 20 miles from Alcafache and wait until other train, coming from the opposite direction, passed by.

Both trains were full of Portuguese immigrants most of them living in France, some going back after holidays in Portugal, other coming in to start it. Close to lunch time, I called my wife.

I told her that, obviously, I couldn't be in Lisbon at time for the lunch scheduled with her, my parents and my in-laws. It was September 12th, my 28th birthday.

I had left home on September 11th, early in the morning. The day was my usual routine: waked up around 7h30, gave bath to my son (my wife had left home already, also as usual, to go to her classes, on the university), I took the child to my mother's home, nearby, and went to Lisbon, to work. That day, came back home around 6'clock pm, September 12th - on time for dinner...

 

 

O tráfico de escravos nos países islâmicos

 

PAULO REIS

Não obstante as dificuldades em ter acesso a dados concretos, historiadores e especialistas calculam que o esclavagismo ocidental terá atingindo um total de cerca de 20 milhões de africanos. Embora Portugal e Inglaterra tenham desempenhado papéis de relevo, nesse tráfico, não foram os únicos. Escondido pela História, como se nunca tivesse existido, está o tráfico de escravos levado a cabo pelos países islâmicos.

Não só durou muito mais tempo do que os cerca de 400 anos em que as potências ocidentais enviaram escravos para os Estados Unidos e países da América do Sul, como foi muito mais cruel. Durante cerca de 1.400 anos, entre 15 a 20 milhões de africanos foram “exportados” para países islâmicos, de acordo com historiadores e especialistas nesta matéria.

Segundo um artigo de Sean Thomas, da revista The Spectator, o esclavagismo para os países islâmicos começou muito antes de Portugal e outras potências ocidentais terem dado início a esse tráfico.”

O número de africanos traficados são mais ou menos idênticos – à roda de 10 milhões tiveram como destino o continente americano, num negócio controlado pelas potências ocidentais, enquanto entre 15 a 20 milhões foram levados para os países árabes

O esclavagismo islâmico, ainda segundo Sean Thomas, do The Spectator, começou muito antes de as potências ocidentais terem dado início a esse “negócio”. O tráfico de escravos organizado, para os países islâmicos, não só começou muito mais cedo como atingiu valores superiores àqueles dos países ocidentais. E teve a característica muito específica de ser extremamente cruel, quando comparada com as potências ocidentais.

Os escravos africanos eram sistematicamente castrados, para serem utilizados como guardas dos haréns. A prática incidia sobretudo em relação aos cativos mais jovens, por se considerar que tinham mais capacidades de sobreviver. Mas mesmo assim, os historiadores calculam que em cada indivíduo submetido a essa prática, apenas 6 em cada 10 sobreviviam à castração. A prática era proibida pelo Islão, mas os muçulmanos encontraram uma forma de contornar o problema.

Em lugar de serem eles próprios a proceder a essa prática terrível, deixavam a tarefa para os intermediários nas transacções, vendedores de escravos. A castração dos escravos africanos explica um detalhe da componente demográfica dos países islâmicos, quando comparada com escravatura praticada nas colónias do novo mundo. Enquanto os descendentes de escravos africanos, no novo mundo, se reproduziram e constituem hoje uma percentagem razoável de países como os Estados Unidos e o Brasil, a população de origem africana, nos países árabes, é diminuta – facto que se explica pelo hábito da sua castração, impedindo-os de se reproduzirem.

A prática manteve-se durante séculos. Os escravos castrados eram muito mais valiosos do que os eunucos, uma vez que eram utilizados, maioritariamente, como guardas dos haréns.

O tráfico de escravos para os países islâmicos começou 700 anos antes de os países europeus se dedicarem também a esse “negócio”. A manutenção da escravatura nos países árabes prolongou-se muito além de os movimentos abolicionistas ocidentais terem conseguido acabar com esse tráfico – no século XIX, no caso de Portugal. Os estados islâmicos, pelo contrário, mantiveram as suas práticas esclavagistas até ao século XX.

No caso da Arábia Saudita, a escravatura foi proibida apenas em 1962. O Irão e a Jordânia aboliram a escravatura em 1967. Em relação ao Yemen e ao sultanato de Oman, a proibição teve lugar em1970, o Bahrain em 1937, logo seguidos do Kuwait, em 1949 e pelo Quatar em 1952. A Mauritânia tem o primeiro lugar, neste ranking vergonhoso: só em 1981 é que aboliu a escravatura. A escravatura no Irão e na Jordânia foi abolida em 1929. De acordo com o historiador Elikia M'bokolo, num artigo publicado no Le Monde Diplomatic, cerca de 17 milhões de africanos foram traficados para países árabes, O esclavagismo praticado pelas potências ocidentais terá atingido entre 11 a 12 milhões de africanos.

O investigador Olivier Pétré-Grenouilleau coloca como hipótese que cerca de 17 milhões de escravos foram traficados para países árabes, enquanto outro historiador, Ronald Segal adianta um valor de entre 11 a 14 milhões,

Mas qual a razão para as práticas substancialmente diferentes, no esclavagismo ocidental e islâmico? Segundo o historiador Rudolph T Ware III, autor de “Escravatura na África Islâmica”, o hábito da castração dos escravos africanos, praticado naqueles países, para além de “produzir” guardas para os seus haréns e empregados domésticos, tinha como objectivo limitar a sua reprodução, impedindo que casassem com outras africanas. O mesmo autor refere números chocantes, resultantes desta prática: cerca de 90 por cento dos indivíduos castrados não sobreviviam.

No caso do esclavagismo nas Américas, onde a prática da castração era inexistente, os proprietários de escravos estimulavam eles próprios a reprodução de escravos. Era uma estratégia meramente comercial: quanto mais escravos um fazendeiro tivesse, melhor era a sua situação financeira, uma vez que cada um deles era utilizado como trabalhador nos campos de algodão e noutras actividades agrícolas. Cada escravo era um investimento, por assim dizer. Uma estratégia muito distante da forma como os países islâmicos encaravam o esclavagismo - uma parte da História mundial que está apagada e náo surge nos livros escolares, por razões politicamente correctas...

 

"Espera por mim lá fora, se fores homem..."

  

O PASSAR DO TEMPO (CRÓNICA) - PAULO REIS

Andaram mosquitos por cordas, depois da polémica afirmação de André Ventura sobre a escassa vontade de trabalhar dos turcos. A esquerda indignou-se e o presidente da Assembleia da República deitou gasolina na fogueira, ao colocar como hipótese um sistema mais restritivo, para refrear os ímpetos dos deputados. Ao assistir a toda esta agitação, lembrei-me de imagens passadas na televisão, sobre os trabalhos parlamentares em Taiwan, já lá vão alguns anos.

A propósito da aprovação de uma lei que dividia profundamente os deputados, vai daí  chegaram a vias de facto. Durante mais de dez minutos, o parlamento de Taiwan transformou-se num ringue de boxe, onde valia tudo, perante a impotência do seu presidente.

Ainda não chegámos lá, mas a esperança mantém-se. A continuarem as repetidas provocações de André Ventura, mais dia menos dia haverá um deputado de cabeça mais quente que lhe irá pedir satisfações, arriscando-se a importar práticas do parlamento de Taiwan.

A alteração do Regulamento da Assembleia da República, tal como se tem vindo a propor, é uma mordaça colocada não numa assembleia de representantes do povo português, mas num grupo de rapazinhos mal-comportados que precisa de quem tome contra deles e lhes puxe as orelhas, quando ultrapassam os limites do que é considerado politicamente correcto.

Retirar a palavra a um deputado, porque Aguiar Branco entende que eles ultrapassaram determinados limites, é um instrumento de controle e diminuição dos direitos dos parlamentares.

Na ressaca deste episódio, não faltaram as posições dos extremistas de esquerda, para quem os direitos fundamentais só funcionam num sentido. Tudo o que for crítico ou verbalmente violento, em contradição com os seus princípios políticos, merece castigo e punição.

A única hipótese de resolver este imbróglio é, realmente, estabelecer novas regras no Regulamento da Assembleia da República. Por exemplo, incluir nesse documento o direito à chapada – não no parlamento, mas nos chamados passos perdidos, os corredores da Assembleia. Passar a permitir que os deputados se desafiem, à boa maneira dos adolescentes nas escolas, propondo um ajuste de contas no exterior da escola. Tipo “se és homem, espera por mim lá fora”. Na modorra das sessões parlamentares, era uma boa oportunidade para os jornalistas se divertirem. E como cereja no cimo do bolo, escolhia-se a personalidade mais óbvia, para servir de árbitro: o presidente da Assembleia da República, Aguiar Branco.

sábado, 25 de maio de 2024

Death comes knocking

 

AS TIME GOES BY (CHRONICLE) - PAULO REIS

I grew up side by side with war. The first guerilla attacks against Portuguese targets, (mostly civilian population, a barbaric massacre of men, women and children...) was on March 1961. I was four years old, living in Malange, in the centre of Angola. When I was 13 years old, already in Luanda, capital of the Portuguese colony, my world was breaking apart. Paul McCartney just announced, a few days ago, he was leaving the Beatles. After lunch, I went to my room, upstairs, turn the radio on and listened to “Rádio Comercial”, eager to know more about what was happening in London with the Beatles.´

I heard a car driving fast in the street, something strange in that Samba’s quiet area, a residential neighbourhood of middle-class people, with nice two-floor houses. I run to the window and saw my uncle’s Bento car. He had the door of the car open and he was just there, standing, both hands in his waist, head down. I also saw my mother, standing at the gate, and I hear her voice:

“Bento, what happened? You are not working? Why are you here?”

My uncle came to the gate, still silent, opened it and put both hands at my mother shoulders.

“Zé is dead. He was shot early this morning, during an operation near Maria Teresa.” – he said, his voice no more than a whisper, I barely could hear his words. My mother was terribly shaken. She had to sit down on the stairs near the gate, unable to walk. She covered her face with both hands and cried silently for what seemed to be a long, long time, for me.

My uncle took her hand and help her to stand up. They walked back home and we came to the living room at the same time, as I went down from my room in the first floor. My mother looked and me and said what I already knew.

“Zé is dead, Paulo. He was killed this morning.” – Than, she stopped, as she remembered something even more tragic – “Oh my God! His mother! The other son was sent to Mozambique, two months ago! João is in Pemba, is also a very dangerous area!”

We stay there in silence, I can’t remember for how long. The mother of José Maçanita was my mother's cousin. My uncle and my mother were older than him. He was something like a younger brother for them. When he was drafted to the Colonial War, raging since 1961, he volunteered for the “Comandos”, the famous Portuguese Special Forces. My mother’s voice broke the silence.

“I have to call Quim, I have to tell him to call headquarters in Mozambique. They must send the other boy to Lisbon, immediately. Imagine if he also dies!” Quim, the nickname of my father, worked in the intelligence services and had open lines of communication with services from other colonies.

The memory of my cousin was of a young and strong man, who used to pull me up in the air, making me afraid that I could touch the ceiling. He had a dog, a German Shepard, all black and called “White”.

It was the first time in my life I had to face death, a death of somebody that was close to me. I just turned the corner of our home, headed to our backyard and called the dog. He came, jumping and barking, happy as always, not knowing that his owner will never be back again. Just stayed there, for a few minutes, with “White” sitting at my side, quiet and silent. During those few minutes, I had a strange feeling and thought that he knew something wrong happened. Just called him, again, and he got closer, his head on my knees. From that moment on, he was my dog, but also the memory of my dead cousin.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

A verdade sobre as Waffen SS

  

PAULO REIS

A extrema-direita europeia entrou em ebulição com as declarações de um membro de AfD (Alternativa para a Alemanha) Maximilian Krah, depois de este político ter declarado, em entrevista aos jornais La Repubblica e Financial Times. Krah afirmou que nem todos os membros das Waffen SS nazis (também conhecidas como 'Schutzstaffel', 'Esquadrão de Protecção') "eram automaticamente criminosos".

De acordo com a Reuters, o grupo de extrema-direita Identidade e Democracia (ID) do Parlamento Europeu expulsou a delegação da Alternativa para a Alemanha (AfD) no dia 23 de Maio, menos de um mês antes das eleições para ao Parlamento Europeu.

"O Grupo ID não quer mais ser associado aos incidentes envolvendo Maximilian Krah, chefe da lista da AfD para as eleições europeias", disse o grupo ID em um comunicado.

Na entrevista aos dois jornais, questionado sobre se considerava aquele corpo de tropas especiais nazis como "criminosos", Maximilian Krah respondeu: "Depende. Você tem que avaliar a culpa individualmente. No final da guerra havia quase um milhão de SS. Günter Grass também esteve nas Waffen SS", afirmou Maximilian Krah, referindo-se ao conhecido escritor alemão.

As definições e a informação sobre o que eram as Waffen SS foram mínimas e desfazadas da realidade, na quase totalidade dos órgãos de Comunicação Social.

A Reuters limita-se a três ou quatro linhas, adiantando que "as SS, ou Schutzstaffel, foram um grupo paramilitar nazista ativo na década de 1930 e 1940. Entre outros crimes contra a humanidade, os membros das SS desempenharam um papel de liderança no Holocausto, o genocídio de seis milhões de judeus e outros durante a Segunda Guerra Mundial", adianta a agência noticiosa.

Outras publicações limitaram-se a destacar o facto de que as Waffen SS desempenharem o papel de guardas dos campos de concentração – o que é verdade, mas representa apenas uma pequena minoria dos seus efectivos.

As Waffen SS foram fundadas em 1925 e desempenharam, inicialmente, o papel de guardas de segurança dos principais dirigentes do partido nazi – daí a designação, também utilizada, de "Schutzstaffel", "Esquadrão de Protecção". Enquanto as tropas regulares do exército alemão juravam lealdade ao Fuhrer, as Waffen SS tinham direito a um juramento diferente, especial: "Juro-lhe, Adolf Hitler, como Führer e Chanceler do Reich Alemão, lealdade e coragem. Juro-lhe e a todos os líderes que forem escolhidos para mim, uma total obediência até à morte – assim Deus me ajude". 

O seu "motto" era "A minha honra chama-se lealdade". De acordo com a Wikileaks, as Waffen SS começaram por ser um grupo ("Saal-Schutz") composto por voluntários que forneciam segurança às reuniões do partido nazi em Munique, nos primórdios do desenvolvimento do partido nazi. Heinrich Himmler, que viria a ser um dos mais poderosos líderes nazis, filiou-se no grupo em 1925.

Foi sob a sua direcção que essa pequena formação paramilitar se transformou numa poderosa máquina de guerra, incluindo um total de 39 divisões (cerca de 900 mil soldados) entre 1929 e 1945. Para além das suas funções como unidade de vigilância e protecção do regime nazi, as Waffen SS, com o início da II Guerra Mundial, transformaram-se num exército, cujas unidades eram sujeitas a um treino especial e que se distinguiam da Wehrmacht, o exército regular alemão, pelos seus uniformes negros.

As divisões das Waffen SS eram utilizadas como tropa de choque, combatendo muitas vezes nas piores zonas da frente. Em 1929 Heinrich Himmler foi promovido a comandante-geral das Schutzstaffel e foi o principal responsável pela criação do que viriam a ser as temidas Waffen SS.

Uma das exigências colocadas aos novos recrutas era a obrigatoriedade de provar que não tinham sangue judaico, até á terceira geração de ascendentes.

Em 1939, no início da guerra, as Schutzstaffel transformaram-se nas Waffen SS, sempre sob o comando de Heinrich Himmler. Nessa altura, já tinham um total de efectivos que rondava os 250 mil homens. Uma das principais estratégias de Himmler, à medida que a guerra se desenrolava, sobretudo para países do Leste europeu, foi alterar as regras de recrutamento das divisões das Waffen SS, passando a incluir outras raças, para além dos "alemães puros".

As diferenças de recrutamento eram salientadas pela própria designação das unidades. Uma "Divisão SS" era composta, quse na totalidade, apenas por alemães. Outras unidades, cujos efectivos incluíam elementos de outras nacionalidades, eram designadas por "Divisão das SS" – uma pequena mas substancial diferença.

Ao longo da guerra, estas tropas de choque vestidas de negro foram os mais temíveis adversários das forças aliadas e dos soviéticos, para além de serem conhecidos pela sua ferocidade e pelo facto de serem implacáveis, na liquidação dos chamados "Untermenschen", os "Sub-humanos", com os judeus como alvo principal.

Mas a nova estratégia de recrutamento de Himmler produziu resultados. Aproveitando-se sobretudo de rivalidades étnicas e de conflitos políticos, as Waffen SS conseguiram até recrutar soldados ingleses, voluntários escolhidos nos campos de concentração. No caso dos ingleses, não passaram de algumas dezenas, que foram capturados na Frente Leste. Os russos entregaram-nos às forças aliadas e os ingleses, rápida e discretamente, trataram de os enforcar. Curiosamente, as últimas unidades militares que resistiram ao avanço das tropas russas, em Berlin, eram elementos da Divisão Charlemagne, constituída por franceses – cerca de 20 mil – recrutados em 1944.

À medida que a guerra começava a correr mal para os alemães, Heinrich Himmler decidiu "suavizar" ainda mais os critérios de recrutamento, para o que viriam a ser as 39 divisões das Waffen SS. Algumas delas, compostas por não-alemães, deixaram memória de atrocidades e massacres indiscritíveis. Dois desses exemplos são a Galizische Nr.1, composta por ucranianos e a Kama Kroatische Nr. 2, integrada por croatas e bósnios. A 29ª divisão das Waffen SS, por exemplo, era composta por russos, a maioria recrutados entre prisioneiros de guerra. Numa lista das 39 divisões das Waffen SS (entre 18 a 20 mil homens), encontra-se uma amostra de dezenas de países europeus: holandeses, romenos, croatas, cossacos, estónios, húngaros, italianos, bielorussos, etc.

Por todo o lado onde passaram, as divisões das Waffen SS deixaram um rasto de sangue e mortos. Aquela que é considerada a pior de todas – a SS Sturmbrigade Dirlewanger - era comandada Oskar Dirlewanger. Esteve envolvida em inúmeras atrocidades cometidas na Frente Oriental, foi responsável pela liquidação de cerca de 120 mil bielorussos e destruiu mais de duas centenas de aldeias e vilas, naquele país.

As forças de Dirlewanger esmagaram completamente a chamada "Revolta de Varsóvia", quando os polacos pegaram em armas e tentaram livrar-se do jugo nazi, confiantes de que as tropas russas, a escassas dezenas de quilómetros da cidade, viriam em seu auxílio. Não foram.

No final da guerra, calcula-se que tenham passado pelas fileiras das Waffen SS cerca de um milhão de soldados. Durante os julgamentos de Nuremberga, as Waffen SS foram classificadas como "organização nazi" e os seus membros sistematicamente condenados. O facto de todos os elementos das Waffen SS terem o seu grupo sanguínio tatuado no sovaco direito tornou difícil escaparem à justiça.

Fraudes no reagrupamento familiar de imigrantes vão continuar

  Uma simulação de um pedido de reagrupamento familiar, numa família composta por residente em Portugal, mulher e filho menor, alvo do pedid...