A Operação Gambérria não é apenas mais uma investigação criminal. É a radiografia de um país capturado, onde a corrupção no Estado, as brechas na lei e a complacência política transformaram Portugal numa porta escancarada para o crime organizado internacional.
O caso envolve empresários, advogados, intermediários e até uma funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Mas o mais grave é isto: as redes não se limitaram a fabricar documentos falsos. Usaram a regularização de imigrantes como mercadoria e expandiram-se para a criminalidade pesada, com armas, clonagem de cartões e tecnologia de fraude.
E enquanto Lisboa finge que são “casos isolados”, Bruxelas já reconhece: Portugal é a porta de entrada do PCC na Europa.
A cronologia da Operação Gambérria
Início da investigação (2023)
Em setembro de 2023, a PJ começou a investigar indícios de legalizações massivas irregulares. Descobriu rapidamente um esquema estruturado de falsificação documental e corrupção interna.
Maio de 2025 — a primeira vaga
13 detidos: empresários, uma advogada e uma técnica superior do MNE.
Apreensões: documentação, numerário e até um selo branco oficial, usado para validar registos criminais falsos.
Medidas: vários detidos ficaram em prisão preventiva.
Outubro de 2025 — a segunda vaga
Novo detido: cidadão brasileiro com título de residência em Portugal.
Apreensões: pistola de calibre 7,65 mm, munições, peças para fabrico de armas, equipamentos de clonagem de cartões, inibidores de sinal e ferramentas para abrir viaturas.
Medida: prisão preventiva.
O salto estava dado: de “fraude documental” para crime organizado com meios violentos.
1. Recrutamento de imigrantes em países de origem (Brasil, África, Bangladesh, Ásia).
2. Empresas-fachada para emitir contratos e promessas de trabalho.
3. Documentação falsa: registos criminais, certidões e contratos adulterados.
4. Validação interna: conivência de funcionários, incluindo no MNE, com uso de carimbos oficiais.
cerca de 2 000 € para africanos,
até 15 000 € para cidadãos do Bangladesh.
6. Porta giratória: com a residência em mãos, muitos circulavam no espaço Schengen ou regressavam ao país de origem com papéis “limpos”.
Resultado: um negócio milionário que transformou a lei em produto.
Nacionalidades envolvidas — vítimas, cúmplices e operadores
Brasileiros: dupla presença. Muitos como clientes das redes, explorados pela promessa de legalização fácil. Outros como operadores, integrando ou liderando redes criminosas, e até ligados ao PCC.
Africanos (Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, Moçambique): alvo preferencial de exploração, pagando valores relativamente baixos mas proporcionalmente pesados.
Asiáticos (Bangladesh, Índia, Paquistão, Nepal): entre os mais explorados, pagando valores altíssimos pela promessa de acesso ao espaço europeu.
Leste Europeu (Geórgia, Moldávia, Roménia, etc.): menos presentes na Gambérria, mas muito ativos em crimes paralelos de assaltos e fraudes tecnológicas.
Portugal tornou-se, assim, um hub multinacional de fraude e crime, onde cada grupo encontra uma brecha a explorar.
A Gambérria não é caso isolado. Outros crimes recentes mostram como Portugal é visto como alvo fácil por redes internacionais.
2008, BES de Campolide (Lisboa): dois brasileiros assaltaram a agência, fizeram reféns e mantiveram o país em choque.
2023–2025, série de assaltos: dois estrangeiros (incluindo um brasileiro) assaltaram vários bancos em Portugal, roubando cerca de 600 mil euros. Usavam passaportes falsos, disfarces e fugas pelo espaço Schengen.
Tal como na Gambérria: documentos falsos, mobilidade internacional e aproveitamento das fragilidades portuguesas.
O fio brasileiro: o PCC em Portugal
O Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do Brasil, já está em Portugal:
87 membros ativos identificados, 29 presos em cadeias portuguesas.
Relatórios falam em até 1 000 pessoas com vínculos ao PCC no país.
A PJ já prendeu em Lisboa um alegado membro com metralhadoras, pistolas automáticas e carros de luxo.
Promotores brasileiros confirmam que o PCC recruta até presos portugueses.
Até agora não há prova formal de que a Gambérria fosse “braço” do PCC. Mas os métodos — contratos falsos, empresas-fantasma, armas, lavagem de dinheiro — são idênticos.
A confirmação europeia: Portugal é porta de entrada
O Parlamento Europeu já o escreveu preto no branco: Portugal é a porta de entrada do PCC na Europa.
Enquanto políticos e jornalistas em Lisboa desvalorizam, Bruxelas assume oficialmente que o país se tornou plataforma estratégica para o crime organizado transnacional.
Vai até às instituições do Estado — com funcionários públicos cúmplices.
Vai além da fraude documental, envolvendo armas e crime tecnológico.
Vai para fora de Portugal, atravessando Brasil, África, Bangladesh e outros países.
Vai até ao coração da Europa, com Portugal como plataforma de entrada.
Conclusão — um Estado capturado
A Operação Gambérria mostrou o que muitos já sabiam: Portugal é um país vulnerável, corrompido e instrumentalizado por redes criminosas.
A regularização, que deveria integrar, virou porta giratória.
As instituições, que deveriam proteger, foram capturadas por funcionários corruptos.
E as redes criminosas, que deviam ser combatidas, crescem à sombra do silêncio político e mediático.
O crime não está “a entrar”. Já entrou. E a Europa já o reconheceu.
A pergunta é simples: Portugal ainda controla as suas fronteiras e as suas leis, ou já é apenas a base europeia do crime organizado brasileiro e internacional?