Não há ainda decisão sobre a localização da refinaria que irá processar o lítio a extrair da mina do Barroso, em Boticas, a partir de 2026, mas quer a empresa britânica quer o novo Governo têm interesse que fique em Portugal.
A estratégia de Bruxelas para o lítio (metal leve, com grande capacidade de armazenamento de energia, e usado na produção de baterias para carros elétricos) prevê a construção de grandes fábricas e refinarias na Europa, posicionando-se Portugal na linha da frente para a sua localização, segundo avançou Emanuel Proença, diretor executivo da Savannah Resources, em entrevista ao Jornal de Negócios e Antena.
“É necessário que, ao longo dos próximos 10 anos, a Europa e o mundo construam cerca de 200 gigafábricas de baterias”, destacou Emanuel Proença, frisando que, se o projeto da Savannah Resources em Portugal (no Barroso, município de Boticas) já estivesse em produção, “teria 2,5% da base mineral de lítio do mundo, o que significa que o país poderia ter cinco destas gigafábricas”; adianta Manuel Proença.
“Está muito claro que a estratégia europeia vai fazer com que haja muitas refinarias e muitas fábricas de baterias”, sendo também “muito claro que a Europa vai precisar de um mineral que nós podemos ajudar a suprir”, enfatizou o CEO da Savannah Resources, lembrando que “nós temos a sorte de estar a produzir este mineral já na Europa”.
Europa vai precisar do lítio português
O diretor da Savannah adiantou que “já falámos com 100 empresas multinacionais, todos os grandes operadores de refinarias e produção de baterias”, e a localização da refinaria onde será processado o lítio da mina do Barroso, que a empresa britânica começa a extrair em 2026,vai depender da decisão dos futuros parceiros, deixando expresso o desejo de que fique instalada em Portugal.
Reiterando que “a Europa vai precisar do lítio português”, ao qual designou de “ouro branco”, Emanuel Proença disse ainda que a Savannah Resources já reuniu com o Governo liderado por Luis Montenegro, designadamente através das secretarias de Estado do ministério do Ambiente e de Energia, onde ficou expresso o interesse de que seja instalada em Portugal uma refinaria de lítio, assente na extração que será feita na mina do Barroso, em Boticas.
Não é obrigatório que o lítio extraído em Boticas resulte numa refinaria localizada em Portugal, e caso não for “será claramente na Europa”, explicitou Emanuel Proença.
Vozes discordantes
Adélio Mendes, cientista e professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, considera que a extração de lítio que tem sido projetada para o norte de Portugal não é economicamente viável e considera que é chegada a hora de apostar na extração do lítio a partir do mar. Em entrevista ao Futuro do Futuro, o cientista - que é também um campeão das patentes - estende as críticas aos projetos relacionados com o hidrogénio em Sines e deixa reparos ao impacto ambiental dos carros elétricos.
Também no que toca ao uso do hidrogénio como vetor que armazena e permite transportar energia, Adélio Mendes é especialmente crítico, devido aos custos implicados. “É um mau vetor energético”, reitera o cientista. Segundo as estimativas que realizou, o projeto de produção e transporte de hidrogénio entre Sines e a Holanda terá sempre de debater-se com o custo da liquefação, saliente.
“O processo de liquefação faz com que se gaste o correspondente a 36% da energia do próprio hidrogénio”, refere Adélio Mendes, apontando o metanol como alternativa menos onerosa. Adélio Mendes: “A extração de lítio em Portugal é um engano, as reservas são pequenas e os custos de extração enormíssimos”.
Reticências em relação aos carros eléctricos
É também por questões ambientais e de eficiência energética que o investigador revela reticências quanto aos carros elétricos, que prefere descrever como carros a pilhas, devido às baterias que transportam. O reparo é essencialmente dirigido aos carros com baterias de lítio que têm “uma potência absolutamente brutal que não é precisa”, mas por outro lado não têm “o armazenamento de energia que gostaríamos que tivesse”.
Para garantir uma maior autonomia, as baterias dos automóveis terão de assumir um peso superior ao peso das pessoas transportadas. “ E o impacto ambiental passa a ser muito grande”, acrescenta Adélio Mendes, indicando as baterias de sódio como potencial solução para este problema.
Notícias / Paulo Reis
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