"(...) Conheci o T. numa noite de copos, no Bairro Alto. Era polícia à paisana, dedicado essencialmente ao combate ao tráfico de droga. Na mesa estava também um colega jornalista, que trabalhava na área do crime. Fiz-lhe algumas perguntas, curioso sobre o tema e trocámos telefones, para outra noite de copos.
Liguei-lhe uma semana antes de ir fazer um passeio pela rua do Bemformoso, para “cheirar” o que lá passava – e que seria interessante, pelas notícias e reportagens que ia lendo e vendo em diversos órgãos de Comunicação Social.
Pedi-lhe um retrato de como é que funcionavam as coisas, por ali. E era simples: indianos e paquistaneses dedicados ao tráfico demão-de-obra e guineenses a controlar a venda de droga – essencialmente “crack”, o parente pobre da heroína. Barato – uma “pedra”, mais conhecida por “pipoca”, para consumo de uma pessoa, custa apenas 5 euros. Tem um efeito rápido, é extremamente viciante, mas o tempo de "pedrada" é curto.
Na rua do Benformoso, depois do jantar, dei um passeio pela rua, de ponta a ponta. Nos passeios, centenas de indianos e paquistaneses, em grupos de três, quatro, estavam entretidos em longas conversas, puxando do telemóvel com frequência. Já durante a tarde tinha reparado nessa curiosidade mas, à noite, estavam cinco vezes mais pessoas, nos passeios. Ficavam ali horas seguidas, sempre um pequenos grupos. Não entravam nas lojas nem nos restaurantes, apenas ocupavam completamente os passeios, obrigando os transeuntes a deslocarem-se pela rua.
Já noite dentro, pela hora de jantar, circulavam outras largas dezenas de imigrantes, para cima e para baixo, a maioria com mochilas – sinal talvez de que, provavelmente vinham do trabalho para “casa”. Tal como o meu amigo polícia me tinha explicado, o trabalho desses pequenos grupos teria a ver com sistemas de contratação de mão-de-obra, através de documentos falsos e outras manobras, como a subcontratação para trabalhadores na agricultura, na zona do Alentejo. Só assim se justificava que tanta gente estivesse por ali, nos passeios, às quatro, cinco da tarde, quando é suposto ser uma hora em que se está a trabalhar, disse para mim próprio. (...)
Reportagem / Paulo Reis
Sem comentários:
Enviar um comentário