sábado, 8 de junho de 2024

Brevemente: "O Último Governador de Macau" (Sinopse)

 

"O Último Governador de Macau" é um livro onde se traça um retrato pormenorizado do ponto de vista político, social e de segurança, do que foram os anos finais da administração de Rocha Vieira, o último Governador português de Macau, cujo “consulado” ficou marcado por uma constante perseguição dos jornalistas críticos do governo, a quem os membros do governo apelidavam de “anti-patriotas”.

Para citar o assessor de Imprensa do Governador Rocha Vieira, Afonso Camões, Macau era um território onde, "mais do que jornalistas, eram precisos militantes do desígnio nacional". As polémicas entre o Governo e a comunidade portuguesa, as suspeitas sobre o transporte para Portugal de 17 contentores cujo conteúdo nunca foi revelado, a nomeação, como presidente do Tribunal Superior de Justiça, de um juiz adepto e defensor, publicamente, de Mussolini, são alguns dos temas deste livro. Um especial destaque é dado às perseguições a jornalistas que, caso publicassem notícias críticas para a administração eram classificados como “anti-patriotas” e colocados numa espécie de “lista negra”.

No meu caso concreto, quando era director de um pequeno jornal português, a “Gazeta Macaense”, em 1993, fui alvo de 38 queixas-crime, por abuso de liberdade de imprensa e difamação, todas provenientes do presidente do Tribunal Superior de Justiça, Farinha Ribeiras. De notar que esse magistrado, na primeira entrevista que deu à televisão local, afirmou que “Salazar matou muito menos gente” que outros ditadores, adiantou que tinha uma enorme admiração pelo ditador e acrescentou que “os italianos ainda hoje têm saudades de Mussolini, porque os comboios andavam a horas.”

Destaque também para o descontrole verificado na área da segurança. Em 1986, Macau tinha uma média de 4, 5 homicídios por ano. Em 1989, houve 28 homicídios, a quase totalidade a tiro, resultantes de confrontos entre as seitas chinesas. A situação chegou a tal ponto que a Xinhua, a representação diplomática da China em Macau fez um comunicado público, apelando ao governo português de Macau para que resolvesse o problema da segurança.

O descontrole foi tal que o responsável da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, Manuel Apolinário, foi alvo de um atentado a tiro, em plena luz do dia e quase no centro da cidade. Ao entrar para o carro foi atingido com dois tiros no pescoço, mas sobreviveu. Poucas semanas depois, o nº 2 da mesma direcção foi abatido com um tiro na nuca, também no centro da cidade. Para se ter uma ideia mais precisa do que passou em termos de criminalidade, nos anos de governo de Rocha Vieira, até o próprio motorista do secretário-adjunto (equivalente a ministro) da Segurança, Manuel Monge, também foi abatido a tiro.

Outro episódio que teve consequências políticas de grande dimensão foi quando os serviços de Educação decidiram não renovar o contrato (de dois anos) de uma professora que era a represente local da Amnistia Internacional, não obstante o facto de a referida professora ter classificações muito boas, na sua actividade profissional. Vários jornais portugueses referiram o caso, adiantando que se estava perante um “despedimento político”. Na sequência dessas notícias, a Amnistia Internacional escreveu uma carta ao governador Rocha Vieira, inquirindo sobre a fiabilidade dessas notícias.

Este caso levou o próprio presidente Mário Soares a fazer um aviso público a Rocha Vieira. Num encontro com jornalistas portugueses, em Portugal e questionado sobre o assunto, o Presidente da República respondeu numa curta frase: “Quando a Amnistia Internacional fala, é preciso escutá-la...” Os Serviços de Educação recuaram na decisão e a professora continua, até à data, em Macau.

A história pormenorizada da Fundação Jorge Álvares também é referida, neste livro. Tratou-se de uma fundação criada pelo próprio general Rocha Vieira, com 50 milhões de patacas do erário público e sede em Portugal. O objectivo dessa fundação era contribuir para o estreitar de laços entre Portugal e a China. Nos estatutos da fundação estava determinado que o primeiro presidente do Conselho de Curadores da fundação seria o último governador de Macau. Este episódio suscitou reacções muito hostis da parte da comunidade chinesa, chegando ao ponto de um deputado da Assembleia Legislativa (o Parlamento local) proferir um discurso onde acusava Rocha Vieira de ter feito “um autêntico roubo”.

Livro "O Último Governador de Macau" / Sinopse (Paulo Reis)

 

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